Por: Jornalista Tiago Jucá
Água Branca é uma pequena localidade do Estado de Alagoas, situada perto do rio Moxotó. A principal moradora do município, no ano de 1928, era a Dona Joana Vieira Sandes de Siqueira Torres, a Baronesa de Água Branca.
Virgulino Lampião há tempos vivia pedindo dinheiro à Baronesa, e esta de pronto respondia: "Tenho vinte contos, mas é para comprar de munição para o couro dele!". Diante da negativa da Baronesa, Lampião planejou um assalto à cidade de Água Branca. Claro, ele esperou um ano depois da resposta da Baronesa, pois ela havia enchido as ruas de policiais, temendo alguma ação do cangaceiro. Desfeita a tensão, Virgulino enviou um espião à feira de Água Branca, a fim de verificar as forças policiais. Enquanto isso, Lampião esperava as notícias em Bom Conselho de Papacaça. Depois de ficar informado sobre a situação de Água Branca, Lampião rumou em direção ao município. Foram quatro noites de viagem, sendo que os dias serviam para o descanso de Lampião. Na tarde do dia 27 de junho de 1928, o cangaceiro tomou um sítio não muito longe de Água Branca e obrigou o dono a fazer compras na cidade.
Deu-lhe dinheiro e uma lista, que continha cigarros, fósforos, esteiras de pipiri, duas redes brancas e uma lata de tinta vermelha. Para ter certeza que o dono do sítio ficasse em silêncio, Lampião manteve a família dele como refém. Caso abrisse o bico, Lampião prometeu judiar e até mesmo matar todos os familiares. Lampião dividiu seu bando estrategicamente. Quatro duplas se formaram para fazer o bloqueio das entradas da cidade e ali ficarem até o término do assalto. Os outros dez cangaceiros encheram as duas redes compradas no comércio com armas e munições. A lata de tinta vermelha serviu para pintar as redes, dando assim a impressão de sangue de morto. Ao amanhecer do dia 28, os dez cangaceiros entraram em Água Branca, carregando as redes com os dois 'defuntos'. Estacionaram em frente ao quartel da cidade e avisaram ao soldado de vigia: "isto foi dois que nós achou morto e truxemo para fazer o corpo delito". O vigia os convidou para entrar e esperar, enquanto ele iria acordar um outro soldado numa casa vizinha. Quando o vigia saiu atrás de ajuda, os cangaceiros trataram de pegar as armas escondidas dentro das redes e esperam a volta para dar o bote.
Residência da Baroneza de Água Branca
Quando os guardas voltaram, Lampião mostrou as armas e disse: "o defunto é esse, visse?". Lampião soltou vinte presos e no lugar deles prendeu todos os guardas. Obrigou ainda ao corneteiro dar toque de reunir. Ao todo, Lampião enjaulou mais de trinta soldados e roubou todas as armas e munições, que logo foram distribuídas entre os ex-prisioneiros. Agora Lampião contava com trinta homens armados prontos para o assalto. Os cangaceiros tomaram as ruas e acordaram os moradores com tiros. As casas e as lojas dos mais ricos foram sendo saqueadas uma por uma. A Baronesa foi a que sofreu o maior prejuízo: trinta contos de réis em dinheiro, ouro, jóias, roupas e vinte e cinco cabras leiteiras. Após o saque, a Baronesa ainda seria humilhada a passear de braço dado com Lampião pelo meio das ruas da cidade. Água Branca foi a primeira vez em que os cangaceiros, vibrantes e entusiasmados pela vitória, cantaram o hino de guerra "Mulher Rendeira", um xaxado ritmado pela batida forte dos rifles batendo no chão: "Olê mulé rendeira/ olê mulé rendá/ tu me ensina a fazer renda/ que eu te ensino a namorar".
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