Por: José Mendes Pereira
Ninguém sabe explicar porque algumas pessoas mudam seus comportamentos de repente. Fui vizinho de Pedro Rocha, e o conheci ainda adolescente, quando nós morávamos na mesma quadra; ele na Rua 6 de janeiro e eu na Rua Tavares de Lira, um jovem recheado de generosidade, pessoa que gostava muito de fazer favores a todos aqueles que residiam no mesmo bairro Santo Antonio.
No final dos anos 70, ele trabalhava para um cunhado meu, e lá, Pedro Rocha recebia dinheiro, ia ao banco fazer depósitos, pagamentos aos fornecedores; fazia cobranças aos devedores, jamais ele faltou com a sua responsabilidade.
Posteriormente Pedro Rocha passou a fazer alguns pequenos roubos na vizinhança, mas nunca pôs suas mãos em nada que pertencia ao meu cunhado. Faz muitos anos que eu não o vejo.
Segundo o meu cunhado que esteve com ele, falou-me que Pedro Rocha atualmente está bastante doente, fala meio tropa, como se diz. E mesmo que quisesse voltar a antiga vida, não tem condições, pois está muito debilitado.
Pedro Rocha está arrependido da boa vida que a jogou fora; hoje está livre das grades, mas preso pela consciência; pobre, sem dinheiro, sem saúde e decepcionado consigo mesmo.
Pedro Rocha está arrependido da boa vida que a jogou fora; hoje está livre das grades, mas preso pela consciência; pobre, sem dinheiro, sem saúde e decepcionado consigo mesmo.
Segue a entrevista que Pedro Rocha, amigo de Valdetário, cedeu ao Jornal "O Mossoroense" em 2005
Pedro Rocha ao lado do repórter Cardoso Silva
Em entrevista a O Mossoroense na manhã de ontem, o assaltante Pedro Rocha Filho, 47 anos, detido na Penitenciária Agrícola Mário Negócio, em Mossoró, chorou ao relatar fatos da sua vida e relembrar as mortes de seus companheiros, Valdetário Carneiro e Cimar Carneiro. Ele destaca ainda que a maior parte do tempo em que esteve foragido ficava na Bahia, de onde vinha para o Estado apenas para realizar os assaltos. Atualmente, Pedro Rocha, sofre de dores de cabeça por causa de um acidente e diz que sua memória está comprometida. Ele destaca ainda a sua preferência por assaltar bancos e se diz arrependido de tudo o que fez na sua vida.
Acompanhe.
Márcio Costa
Reginaldo Tertulino
Fotos: Luciano Lelly!
O MOSSOROENSE - Há quantos anos o senhor é condenado? E por quê?
PEDRO ROCHA - A minha pena é de 25 anos, dos quais já cumpri mais de oito. As minhas condenações são por assalto e ainda tem uma acusação de um latrocínio, no Ceará, do qual sou inocente. A maior parte eu cumpri em Natal. Aqui na penitenciária estou há quatro meses.
OM - O que aconteceu no Ceará em 1996?
Eu fui preso acusado de assalto o Banco do Brasil da cidade de Jaguaruana, em 1996, quando um vigia do banco foi morto. Também acusaram o Francisco Fábio, o 'Baia', Edneudo Oliveira Silva, o 'Pipoca', e Galeguinho. Mas eu não estava não.
OM - O que mudou nesse tempo em que o senhor está preso?
Só mudou que antes a gente ia pra rua e tudo (assaltar), mas eu não quero mais nada disso não, porque a tendência é a pessoa morrer. Eu sei que não tem recuperação, pois quem se mete com assalto acaba cedo ou tarde morrendo, né? A pessoa tem que trabalhar e cuidar dos seus filhos. Eu não quero me envolver em transação nenhuma não. Quando estava preso em Natal, qualquer fuga que acontecia, o diretor dizia: Cadê Pedro, cadê, Pedro? Eu respondia: 'Estou aqui, doutor. Eu não quero fugir, não. Se eu não estivesse preso já teria morrido.
OM - Como você entrou nessa vida? E como teve início a ligação com os Carneiro?
Foi através do Expedito e o Baixinho, que já morreram, eu conheci lá no Ceará. Quando estava preso em Fortaleza, conheci os Carneiro e tudo foi desse jeito mesmo. A aproximação teve início com Branquinho, Galego e Val, em 1996, quando a gente foi preso. Depois eu conheci o Baleado e a gente começou a agir juntos.
OM - No início, quais eram os alvos preferidos do grupo? Bancos, carros-fortes?
Eu só gostava de assaltar bancos, nunca gostei de mexer com carro-forte, não. Inclusive, a minha condenação é por assalto a banco. Nunca tive nada a ver com esse negócio não. Tem muita coisa da qual sou condenado que não tive culpa. Isso não pode ser assim não.
OM - Por que essa preferência por banco e quanto tempo durava o dinheiro de um assalto?
Eu gostava porque pegava o dinheiro e logo voltava para casa. Passava um mês todinho. A Federal deu dois botes em cima de mim e eu tive que fugir lá da Bahia. Passava o mês todinho lá e depois vinha aqui pra região e fazia outra parada e voltava pra lá. Era sempre assim.
OM - Como aconteciam os contatos entre o grupo? Por telefone?
Por telefone dava certo não. Eu vinha aqui pra região no meu carro, a gente se encontrava por aí e depois que planejava o assalto ia fazer. Foi por isso que a Federal passou mais de dois anos pra dar o 'bote' em cima de mim. Eu só vim a ser preso quando me envolvi num acidente. Quando o carro virou, no Ceará. Estava eu o Leonardo e outro rapaz que eu não lembro o nome. Quando estava no hospital Deus me disse que eu não ia morrer agora.
OM - Você acha que Deus permitiu que você ficasse vivo por quê?
Por que eu tinha que pagar pelo crime que eu cometi. Eu sou acusado de muita coisa que não fiz. O crime que cometi, eu tenho que pagar por ele. Eu tenho fé em Deus que ainda vou provar a minha inocência em muita coisa que sou acusado. Já tem gente presa por isso e que vai dizer que eu mão tinha nada a ver com muita coisa.
OM - Como funcionava o planejamento dos assaltos?
Pegava o meu carro e vinha aqui pro Rio Grande do Norte. A gente planejava assaltar um banco tal e ia pro que desse. Matar ou morrer. Eu não me lembro de quantos assaltos eu participei.
OM - Você teve alguma participação na fuga de Alcaçuz, em 2000? Quando Valdetário foi resgatado?
Eu estava na Bahia. Nem Baleado nem ninguém tinha sido preso ainda, nem Baleado, nem Cimar.
OM - Os últimos anos foram marcados pelas mortes de alguns amigos como Valdetário e Cimar. Como você ver isso?
Que Deus os tenha em um bom lugar, mas que é desse jeito mesmo. Quem vive de assalto é sujeito a morrer a qualquer momento. E principalmente aqui, onde a boca está quente. Você ver que passa muito tempo sem que aconteça um assalto aqui na região. As coisas estão sérias. Quando Valdetário morreu eu esta va em Alcaçuz e soube pela televisão. Já a morte de Cimar, o (diretor da PAMN), capitão Alvibá foi que me contou o que tinha acontecido.
OM - Com quem do grupo você tinha mais afinidade?
Com o Cimar e o Galego, mas com todos o relacionamento era beleza.
Como você acha que estaria agora, se tivesse solto e continuado no bando.
Possivelmente eu estaria morto, como os outros.
OM - Por qual motivo você acha que Valdetário durou tanto tempo na vida do crime.
Porque vivia fugindo da polícia. Eu também passei nove anos na rua, mas sempre me escondendo. A Bahia é muito grande, eu vivia sempre mudando de cidade. Na Bahia eu levava uma vida normal, onde tinha uma casinha e um terreno, onde plantava limão e outras coisas.
OM - Você participou de algum assalto na Bahia?
Não. Nunca me envolvi com nada lá.
OM - Por quê? Lá era mais difícil?
Eu vinha aqui para o Rio Grande, fazia o assalto e voltava pra lá com o dinheiro.
OM - Qual a cidade da Bahia onde você morava?
Eu me esqueço agora.
OM - Como era a formação principal do grupo?
Era eu, Branquinho, Galego, Cimar, Baleado, Val e outros que não lembro o nome agora.
OM - Em algum momento você sentia medo?
Não, nunca senti medo de nada. Quando a gente ia pra fazer, a gente fazia de qualquer jeito. Ia pra levar de um jeito ou de outro. Às vezes tinha tiroteio e não havia espaço para o medo.
OM - Já matou alguma pessoa? Se lembra de algum assalto em especial de que você participou?
Não. Nunca matei ninguém. Sou condenado de um homicídio no Ceará, mas não tive culpa não.
OM - De que você se arrepende de ter feito na sua vida?
Me arrependo de quase tudo o que eu já fiz.
OM - Quais os seus planos para o futuro?
Eu quero arrumar um canto pra morar depois que eu sair daqui. Nem pra rua eu quero mais ir. O que eu quero é terminar o resto dos meus dias em paz, sem dever nada a ninguém. Se eu estivesse na rua hoje com certeza eu estaria morto.
Fonte:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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