Por: Rangel Alves da Costa*
A TEORIA DOS QUANTA (QUANTA SAFADEZA!)
Bebo na fonte da teoria científica para trazê-la à realidade brasileira, de modo a demonstrar como a safadeza que assola o país pode ser comparada a um doutrinamento onde o menos inculto peca pelo vício da cegueira política e social.
Formulada em 1900 pelo físico alemão Max Planck, a Teoria dos Quanta é uma lei da física atomista que descreve a troca de energia entre os corpos. Segundo a teoria, a troca de energia – emissão e absorção de energia de um corpo – ocorre de forma interrompida, aos poucos, através de pequenos pacotes denominados quanta.
O quanta social, essa energia transformadora que deveria ser emitida e absorvida pela sociedade brasileira, é interrompida e convertida em pequenos pacotes, mas não para se tornar em potência boa, e sim para desencadear uma série de processos envolvendo tudo que de mais imprestável possa existir.
Como resultado desse processo, da incúria do povo eleitor se tem a desonra política e a imoralidade dos políticos. Outorgando mandatos a políticos mentirosos, trapaceiros, falsos, demagogos, verdadeiros ladrões, acabam desacreditando a política e suas reais possibilidades de governar para o atendimento das necessidades mais prementes da sociedade. Assim, a desídia do povo acaba criando a classe abjeta de políticos que se dissemina por todos os lugares.
Fruto dessa ação, o povo encontra uma sabedoria inimaginável, profícua e profunda, mas nada que sirva para o bem social. Tanto saber raramente é reconhecido como conhecimento cultural, de formação profissional ou educacional, senão como um doutoramento na esperteza, no querer tirar em proveito em tudo, na cátedra da maracutaia e da propina, na ladroeice e na roubalheira.
O País de reconhecida má qualidade na educação, na pesquisa e na extensão, é largamente o mais desenvolvido noutros tipos de graduação, contando com verdadeiros doutores na arte da criatividade criminosa, ilícita, contraventora. O grande Sun Tzu seria um reles doutrinador de estratégias diante da capacidade que possui esse povo para driblar a justiça e o direito, se contrapor à ordem social, querer passar por cima de tudo aquilo que for proibido fazer.
Se uma calçada foi cimentada naquele instante e a pessoa tenha a rua inteira para passar sem estragar a construção, ainda assim pisará mais forte só para fazer prevalecer seu instinto de maldade; um banco de praça está ali quietinho no seu canto, todo arrumadinho e bonitinho, esperando apenas que alguém chegue para sentar e apreciar o entardecer, mas aí passa um inimigo de si mesmo e começa a bater por baixo e por cima até destruí-lo; uma parede novinha e logo é pichada, a flor do jardim é arrancada com a planta e tudo; o carro do lixo vai passar na hora marcada, mas antes disso espalham meio mundo de imundície pelas esquinas.
E não adianta dizer que o povo não é assim, que não faz isso, que é apenas uma parcela da população que possui tão nefastas e destrutivas atitudes. Mas se não picha a parede novinha joga lixo do outro lado do muro; se não quebra o banco joga comida envenenada para o cachorro do vizinho morrer; se não rasga o assento dos ônibus entope o bueiro de plástico e coisa velha; se não se não se omite em oferecer um pão ao faminto, ainda assim vive olhando a vida alheia, falando mal de todo mundo, inventando, caluniando. Que coisa mais feia!
Muita gente que se orgulha de viver enfurnada em igrejas é a mesma que possui a língua mais ferina, é a mais invejosa, fofoqueira, maliciosa, vendo em todos um pecador para encobrir seus próprios pecados; gente que posa de virtuosa, decente, íntegra, mas que possui o espírito que é a verdadeira sombra da maldade, desejando sempre o pior para o próximo, fingindo amizade para ganhar confiança e assim enlamear mais facilmente; pessoas que olham para outras com um largo sorriso no rosto e sempre trazendo no olhar um cálice envenenado. Não há como não dizer que não é assim!
Depois do voto errado que deu ao corrupto se desculpa dizendo que se fosse a outro seria do mesmo jeito. Ora, o comparecimento para votar é obrigatório, mas não ter de votar em alguém. E vota porque quer, porque gosta da safadeza, de viver humilhado, subjugado. E fingindo estar preocupado com os rumos que tomou seu candidato, logo afirma que não votará mais em ninguém. E na eleição seguinte estará entregando conta de água, de luz, receita, pedindo dinheiro, vendendo sua honra. E votando novamente no mesmo ladrão, no mesmo corrupto, propineiro de marca maior.
Desse lado, nessa margem onde estão visíveis todas as mazelas desonrosas do mundo, é nela que se assenta o País dos espertos, dos sabidos, dos que vivem tentando passar a perna em tudo e em todos. E atire a primeira pedra aquele que se acha acima de qualquer suspeita.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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