Por: Paulo Gastão
Paulo Gastão e Juliana Ischiara
O sentido da normalidade mostra que todos nós começamos nossas trajetórias, frente ao cangaço, na qualidade de curiosos sobre o mundo cangaceiro. A próxima etapa é tornar-se leitor do tema. Taludos vamos ao campo, onde se descortinou o movimento bélico que mexeu não só com o Nordeste, mas com todo o Brasil.
Desde o século XIX que a literatura de cordel, tornou-se o veículo eleito para transportar as novas gerações, às histórias mirabolantes dos cangaceiros. Assim podemos citar nomes que fizeram folheto e história ao longo de muitos anos. Citamos: Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athaydé, Rodolfo Coelho Cavalcante, Francisco das Chagas Batista, Dila, J. Gomes, Zé Saldanha, Abraão Batista, José Costa Leite, José Bernardo da Silva e centenas de outros grandes poetas.
Logo em seguida, ou seja, a partir de 1912 com Carlos Dias Fernandes se deu o início para com as publicações em livro, sobre o tema que ganhava cada vez mais espaço, junto aos leitores curiosos e ávidos por novos relatos.
Juntaram-se jornalistas, poetas de cordel, escritores, profissionais liberais, religiosos, advogados, membros de academias de letras em nível nacional, estadual e outros, no sentido de ampliar uma história que cativava leitores de todas as camadas sociais.
O movimento iniciado a mais de um século continua. Parece mais o mar em calmaria, porém, estamos na base de um vulcão sempre emitindo suas larvas e, mostrando as forças que engrandecem ao homem e a natureza simultaneamente.
O espaço além de folhetos e livros foi ocupado pelo cinema, pintura, televisão, desenho, artesanato em madeira, ferro, fibras, palha, tecidos e uma gama intensa de processos criadores e voltados à manutenção da história dos povos das catingas.
Foram estudados coronéis de patente, coiteiros, volantes, rastejadores, comerciantes, políticos e até religiosos. O somatório desses personagens engrandeceu substancialmente a história e ajustou os pontos onde restavam dúvidas ou interrogações da veracidade estabelecida.
Cangaço e cangaceiros são misturados com a Guerra de Canudos e Antonio Conselheiro - grande líder -, a Coluna Prestes, a Revolução de 30, padre Cícero Romão Batista, beatos e religiosidade popular, além de outros motivos bélico-religiosos ou não, que ocorreram nos sertões nordestinos.
São inúmeros os casos de pesquisadores que se arvoraram em registrar os momentos ocorridos, tendo-se à frente cangaceiros, volantes e demais participantes da história. Deixaram muitos espaços abertos para futuras investigações. Pois, novos personagens que participaram diretamente das refregas estão aparecendo e prestando suas informações de forma clara e transparente. Novos pontos dentro das fechadas caatingas têm sido visitados e em alguns casos temos os dados registrados pelo sistema oferecido pelo GPS.
Nos últimos tempos temos nos deparado com os depoimentos de Vinte e Cinco & Candieiro (registrados, porém não divulgados); Tenente João Gomes de Lira e Neco de Pautilha, hoje residentes em Carqueja, antiga Nazaré; Sílvio Hermínio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, residente em Maceió; Sinhô da Beleza, que canta uma outra versão da música "muié rendeira", Genésio e Artur Ferreira, primos de Lampião, Dona Especiosa, costureira de Lampião (falecida), e Luiz Flor membro de volante que perseguia cangaceiros, todos, residentes em Serra Talhada, estado de Pernambuco; Sargento Elias, residente em Olho d"Água do Casado, Alagoas, remanescente do episódio registrado em Angico, que na época pertencia a Porto da Folha, estado de Sergipe; Moreno e Durvalina (também chamada de Durvinha), casal residente em Belo Horizonte, Minas Gerais; Maria de Juriti que residia em Canindé do São Francisco e recém falecida; Aristéia, residente em Paulo Afonso, estado da Bahia.
Procurados, identificados e carentes de entrevistas temos: Alecrim, Antônia de Gato, Manuel Tubiba, Maria de Pancada, Bem-te-vi, Rita (vitima de Sabiá), Garrafinha.
A tendência é conseguirmos um maior número de pessoas, desde que o cangaço teve seu término na região abaixo do Rio São Francisco, ou seja, nos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia. Procurando com cuidado ainda conseguiremos bons resultados.
Por outro lado vejamos alguns dados sobre cangaceiros que atuaram na década de 20 do século passado: Félix da Mata Redonda, também conhecido como Félix Caboge. Era pardo, alto, desdentado, apresentando ter trinta e cinco anos de idade, no ano de 1925. Residente na localidade Mata Redonda, situada no município de Triunfo, estado de Pernambuco. Fez parte do grupo que assaltou Mossoró.
Assaltou com seu grupo a cidade de Triunfo e tornou-se famoso. Esteve ligado aos acontecimentos dos Sítios Alagoa do Serrote e Caboré (detalhes logo abaixo), ambos no município de Princesa, estado da Paraíba. Participou dos bandos que atacaram Mossoró em 1927. O cangaço não se resume à figura de Lampião.
Sabino Gomes identificado também, como Sabino Gore, Sabino Barbosa de Melo, Sabino Goa, Sabino das Abóboras. É na fazenda Abóboras no sopé da Serra de Triunfo, Pernambuco que está localizada a origem deste cangaceiro que recebeu a patente de tenente na cidade do Juazeiro do Norte, estado do Ceará. Era Sabino baixo, pardo, corpulento, de trinta anos de idade, mais ou menos, quando visitou o Rio Grande do Norte. Participou do fogo do Gavião, dos assassinatos ocorridos nos Sítios Alagoa do Serrote e Caboré, no município de Princesa, Paraíba, juntamente com Lampião, Antonio Ferreira, Horácio Novaes, José Cavalcante (vulgo Dé Araújo), Belarmino Novaes, André Sepahuba, Inácio de Tal (vulgo Jurema), Félix Caboge da Mata Redonda, Carolino (vulgo Juriti), Jorge de Tal (vulgo Maçarico), Manoel Izabel, José Rachel, Vicente - filho da negra Penha -, Sebastião Valério, Ricardo de Tal (vulgo Pontaria), Eleno (vulgo Asa Preta), Hermino de Tal (vulgo Chumbinho), José Cesário, Luiz Berto de Lima, Juvenal Porfiro, José Porfiro, Luiz Pedro, Raimundo Novaes, Damásio (vulgo Chá Preto), Antonio de Tal (vulgo Sabiá), Luiz - filho de Nominata - e outros. Seus familiares residem atualmente nos estados de São Paulo, Ceará, Bahia, Pernambuco e Paraíba. Um livro sobre sua vida, está sendo escrito por uma de suas netas, que reside atualmente no estado da Paraíba. Visita Mossoró e retorna para morrer em tiroteio na Piçarra, município de Brejo dos Santos, estado do Ceará. Era homem valente e da extrema confiança de Lampião. Continua em aberto o número de cangaceiros que atacaram Mossoró. Em discussão. Você pode habilitar-se. Aproveite o momento.
Luiz Pedro, também conhecido como Luiz Pedro Cordeiro, Luiz Pedro da Canabrava e ainda Luiz Pedro do Retiro. Não aceitou a retirada do seu nome, que indica o local de origem. O Retiro está localizado no município de Triunfo, estado de Pernambuco. Desta comunidade saíram muitos cangaceiros que ganharam fama e outros ficaram no anonimato. Localidade produtora de farinha - a melhor do mundo - e de punhais tão bem feitos, quanto os produzidos no Juazeiro do padre Cícero. O cangaceiro esteve ligado ao bando dos Ferreira desde que adentrou ao cangaço. Esteve na cidade de Mossoró e foi dos raros que chegaram a Serra da Baixa Verde, em Triunfo, e de lá após algum tempo, seguem em busca do território bahiano, quando vão viver a segunda fase do cangaço lampiônico. Luiz Pedro está registrado nos anais de Princesa, como cangaceiro que atacava aquela região, em represália à forma de tratamento que lhes era dada pelo Coronel Zé Pereira, líder da comunidade que, outrora, era identificada como Lagoa do Pecado. Tinha aproximadamente vinte e três anos de idade, quando da sua passagem pelo município de Princesa, deixando com seus companheiros, os seguintes mortos:
Antonio Valdivino, Joaquim Alves - velho de 96 anos de idade -, Manoel Rodrigues de Melo, Ananias Alves, Antonio Zuza, Belizário Zuza e o menino Pedro Valdivino, de doze anos de idade. Fazia Luiz Pedro parte do comando maior de Lampião, valente, bravo e de extrema confiança do chefe. Sua morte em Angico e dos outros dez continua em discussão.
Mossoró, 13.06.08.
Desde o século XIX que a literatura de cordel, tornou-se o veículo eleito para transportar as novas gerações, às histórias mirabolantes dos cangaceiros. Assim podemos citar nomes que fizeram folheto e história ao longo de muitos anos. Citamos: Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athaydé, Rodolfo Coelho Cavalcante, Francisco das Chagas Batista, Dila, J. Gomes, Zé Saldanha, Abraão Batista, José Costa Leite, José Bernardo da Silva e centenas de outros grandes poetas.
Logo em seguida, ou seja, a partir de 1912 com Carlos Dias Fernandes se deu o início para com as publicações em livro, sobre o tema que ganhava cada vez mais espaço, junto aos leitores curiosos e ávidos por novos relatos.
Juntaram-se jornalistas, poetas de cordel, escritores, profissionais liberais, religiosos, advogados, membros de academias de letras em nível nacional, estadual e outros, no sentido de ampliar uma história que cativava leitores de todas as camadas sociais.
O movimento iniciado a mais de um século continua. Parece mais o mar em calmaria, porém, estamos na base de um vulcão sempre emitindo suas larvas e, mostrando as forças que engrandecem ao homem e a natureza simultaneamente.
O espaço além de folhetos e livros foi ocupado pelo cinema, pintura, televisão, desenho, artesanato em madeira, ferro, fibras, palha, tecidos e uma gama intensa de processos criadores e voltados à manutenção da história dos povos das catingas.
Foram estudados coronéis de patente, coiteiros, volantes, rastejadores, comerciantes, políticos e até religiosos. O somatório desses personagens engrandeceu substancialmente a história e ajustou os pontos onde restavam dúvidas ou interrogações da veracidade estabelecida.
Cangaço e cangaceiros são misturados com a Guerra de Canudos e Antonio Conselheiro - grande líder -, a Coluna Prestes, a Revolução de 30, padre Cícero Romão Batista, beatos e religiosidade popular, além de outros motivos bélico-religiosos ou não, que ocorreram nos sertões nordestinos.
São inúmeros os casos de pesquisadores que se arvoraram em registrar os momentos ocorridos, tendo-se à frente cangaceiros, volantes e demais participantes da história. Deixaram muitos espaços abertos para futuras investigações. Pois, novos personagens que participaram diretamente das refregas estão aparecendo e prestando suas informações de forma clara e transparente. Novos pontos dentro das fechadas caatingas têm sido visitados e em alguns casos temos os dados registrados pelo sistema oferecido pelo GPS.
Nos últimos tempos temos nos deparado com os depoimentos de Vinte e Cinco & Candieiro (registrados, porém não divulgados); Tenente João Gomes de Lira e Neco de Pautilha, hoje residentes em Carqueja, antiga Nazaré; Sílvio Hermínio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, residente em Maceió; Sinhô da Beleza, que canta uma outra versão da música "muié rendeira", Genésio e Artur Ferreira, primos de Lampião, Dona Especiosa, costureira de Lampião (falecida), e Luiz Flor membro de volante que perseguia cangaceiros, todos, residentes em Serra Talhada, estado de Pernambuco; Sargento Elias, residente em Olho d"Água do Casado, Alagoas, remanescente do episódio registrado em Angico, que na época pertencia a Porto da Folha, estado de Sergipe; Moreno e Durvalina (também chamada de Durvinha), casal residente em Belo Horizonte, Minas Gerais; Maria de Juriti que residia em Canindé do São Francisco e recém falecida; Aristéia, residente em Paulo Afonso, estado da Bahia.
Procurados, identificados e carentes de entrevistas temos: Alecrim, Antônia de Gato, Manuel Tubiba, Maria de Pancada, Bem-te-vi, Rita (vitima de Sabiá), Garrafinha.
A tendência é conseguirmos um maior número de pessoas, desde que o cangaço teve seu término na região abaixo do Rio São Francisco, ou seja, nos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia. Procurando com cuidado ainda conseguiremos bons resultados.
Por outro lado vejamos alguns dados sobre cangaceiros que atuaram na década de 20 do século passado: Félix da Mata Redonda, também conhecido como Félix Caboge. Era pardo, alto, desdentado, apresentando ter trinta e cinco anos de idade, no ano de 1925. Residente na localidade Mata Redonda, situada no município de Triunfo, estado de Pernambuco. Fez parte do grupo que assaltou Mossoró.
Assaltou com seu grupo a cidade de Triunfo e tornou-se famoso. Esteve ligado aos acontecimentos dos Sítios Alagoa do Serrote e Caboré (detalhes logo abaixo), ambos no município de Princesa, estado da Paraíba. Participou dos bandos que atacaram Mossoró em 1927. O cangaço não se resume à figura de Lampião.
Sabino Gomes identificado também, como Sabino Gore, Sabino Barbosa de Melo, Sabino Goa, Sabino das Abóboras. É na fazenda Abóboras no sopé da Serra de Triunfo, Pernambuco que está localizada a origem deste cangaceiro que recebeu a patente de tenente na cidade do Juazeiro do Norte, estado do Ceará. Era Sabino baixo, pardo, corpulento, de trinta anos de idade, mais ou menos, quando visitou o Rio Grande do Norte. Participou do fogo do Gavião, dos assassinatos ocorridos nos Sítios Alagoa do Serrote e Caboré, no município de Princesa, Paraíba, juntamente com Lampião, Antonio Ferreira, Horácio Novaes, José Cavalcante (vulgo Dé Araújo), Belarmino Novaes, André Sepahuba, Inácio de Tal (vulgo Jurema), Félix Caboge da Mata Redonda, Carolino (vulgo Juriti), Jorge de Tal (vulgo Maçarico), Manoel Izabel, José Rachel, Vicente - filho da negra Penha -, Sebastião Valério, Ricardo de Tal (vulgo Pontaria), Eleno (vulgo Asa Preta), Hermino de Tal (vulgo Chumbinho), José Cesário, Luiz Berto de Lima, Juvenal Porfiro, José Porfiro, Luiz Pedro, Raimundo Novaes, Damásio (vulgo Chá Preto), Antonio de Tal (vulgo Sabiá), Luiz - filho de Nominata - e outros. Seus familiares residem atualmente nos estados de São Paulo, Ceará, Bahia, Pernambuco e Paraíba. Um livro sobre sua vida, está sendo escrito por uma de suas netas, que reside atualmente no estado da Paraíba. Visita Mossoró e retorna para morrer em tiroteio na Piçarra, município de Brejo dos Santos, estado do Ceará. Era homem valente e da extrema confiança de Lampião. Continua em aberto o número de cangaceiros que atacaram Mossoró. Em discussão. Você pode habilitar-se. Aproveite o momento.
Luiz Pedro, também conhecido como Luiz Pedro Cordeiro, Luiz Pedro da Canabrava e ainda Luiz Pedro do Retiro. Não aceitou a retirada do seu nome, que indica o local de origem. O Retiro está localizado no município de Triunfo, estado de Pernambuco. Desta comunidade saíram muitos cangaceiros que ganharam fama e outros ficaram no anonimato. Localidade produtora de farinha - a melhor do mundo - e de punhais tão bem feitos, quanto os produzidos no Juazeiro do padre Cícero. O cangaceiro esteve ligado ao bando dos Ferreira desde que adentrou ao cangaço. Esteve na cidade de Mossoró e foi dos raros que chegaram a Serra da Baixa Verde, em Triunfo, e de lá após algum tempo, seguem em busca do território bahiano, quando vão viver a segunda fase do cangaço lampiônico. Luiz Pedro está registrado nos anais de Princesa, como cangaceiro que atacava aquela região, em represália à forma de tratamento que lhes era dada pelo Coronel Zé Pereira, líder da comunidade que, outrora, era identificada como Lagoa do Pecado. Tinha aproximadamente vinte e três anos de idade, quando da sua passagem pelo município de Princesa, deixando com seus companheiros, os seguintes mortos:
Antonio Valdivino, Joaquim Alves - velho de 96 anos de idade -, Manoel Rodrigues de Melo, Ananias Alves, Antonio Zuza, Belizário Zuza e o menino Pedro Valdivino, de doze anos de idade. Fazia Luiz Pedro parte do comando maior de Lampião, valente, bravo e de extrema confiança do chefe. Sua morte em Angico e dos outros dez continua em discussão.
Mossoró, 13.06.08.
(*) Escritor, pesquisador. Assessor de Comunicação da SBEC.
Web site: lentescangaceiras.blogspot.com/search/label/A Dinâmica do Cangaço (Paulo Gastão) Autor: Paulo Gastão (*)
Excelente artigo mestre Paulo, parabéns!
ResponderExcluirSaudações cangaceiras
Juliana Ischiara