Um dos aspectos mais relevantes do cangaço foi a participação feminina. Antes do bando de Virgulino Ferreira, O Lampião, não se tem noticias de que mulheres tenham vivido ou participado do cangaço. Quando um cangaceiro se envolvia com uma mulher, procurava deixá-la em lugar seguro, sob a proteção de alguém de sua confiança, visitando-a quando tinha oportunidade.
A principio o bando tinha por regra não violentar mulheres e assumir uma postura de repúdio frente a prostituição, mas pouco a pouco os bandos se afastaram dessas regras morais do cangaço. Em 1923 na cidade de Bonito da Santa-Fé – PB, Lampião deu inicio ao estupro coletivo da esposa de um delegado. Passou, então, a fazer parte da normalidade, nas festas e fazendas onde chegavam, os cangaceiros se apropriarem das mulheres, casadas ou não, para se distraírem.
Maria Bonita ainda em trajes normais ao lado de Lampião, já cangaceiro famoso
Um novo comportamento frente ao sexo feminino, só se verificaria a partir de 1930, quando Lampião decidiu levar Maria Bonita para viver no bando.
O nome verdadeiro da moça era Maria Gomes de Oliveira, conhecida por Maria de Déa. Morava em Santa Brígida – BA, onde tinha uma relação de muitos desentendimentos com o marido. Bonita, morena, cabelos longos, inteligente, Maria foi levada por Lampião quando este visitava a fazenda dos pais dela, no norte da Bahia. Os cangaceiros chamavam-na de Dona Maria ou “a mulher do capitão”. Mais tarde, recebeu o sugestivo apelido de Maria Bonita.
Depois outras mulheres se juntaram aos cangaceiros: Dada (de Corisco), Neném (de Luiz Pedro), Durvalina (de Moreno), Sila (de Zé Sereno), Lídia (de Zé Baiano), Inacinha (de Gato), Adília (de Canário), Cristina (de Português), Maria Jovina (de Pancada), Dulce (de Criança), Moça (de Cirilo Engrácia), Otília (de Mariano), Maroca (de Mané Moreno), Mariquinha (de Labareda), Maria Ema (de Velocidade), Enedina (de Cajazeira), Rosalina (de Chumbinho), Estrelinha (de Cobra Viva), Hortênsia (de Volta Seca), Lacinha (de Gato Preto), Iracema (de Lua Branca), Eleonora (de Azulão), Lili (de Moita Braba), Catarina (de Sabonete), Mocinha (de Medalha), Maninha (de Gavião), Maria Juriti (de Juriti), Dora (de Arvoredo), Marina (de Laranjeira), Dinha (de Delicado).
Nenén do Ouro, Luiz Pedro e Maria Bonita
Uma das mais famosas, além de Maria Bonita foi Dadá, mulher de Corisco, o diabo loiro. De acordo com Dadá, a “sertaneja achava bonito era bandido, todo enfeitado, todo perfumado, todo cheio de coisas”. Além desse fascínio, a vida de cangaço permitia às mulheres escaparem das árduas tarefas diárias da vida no campo.
A presença de mulheres no bando serviu também para reduzir a violência dos criminosos – as vitimas apelavam a sensibilidade feminina e não raro as mulheres intervinham junto aos homens. Além disso, a presença delas entre os bandoleiros significava uma garantia de respeito para as mulheres e filhas dos sertanejos surpreendidos por um ataque dos cangaceiros.
O cangaceiro Sebastião Pereira da Silva, o famoso Sinhô Pereira, o único que chefiou Lampião, declarou que ficou admirado quando soube que fora admitida a presença de mulheres entre os cangaceiros, coisa que ele próprio jamais permitiria, afinal Padre Cícero já havia profetizado que Lampião seria invencível enquanto não houvesse mulheres no bando.
Retrato de Maria Bonita exposto na casa onde ela viveu no povoado de Malhada do Caiçara, em Paulo Afonso (g1.globo.com)
A chegada das mulheres também impôs novas regras de convivência dentro do grupo: exigia-se respeito para com as mulheres dos companheiros; a ninguém do bando era dado o direito de ter mais de uma companheira, e estas, na maioria das vezes eram esposas devotadas e fiéis; os casos de adultério eram punidos com a morte – foi o caso de Lídia, mulher do cangaceiro Zé Baiano, morta por ele a cacetadas, por tê-lo traído com o companheiro Besouro, que teve o mesmo destino sob os olhares de aprovação de Lampião. Quando morria um companheiro, a viúva tinha que arranjar um novo parceiro. Quando isso não acontecia, as viúvas eram executadas para que não falassem muito ou não tentassem abandonar o bando, ameaçando assim a segurança do grupo.
As mulheres não eram guerreiras e tinham somente armas curtas de defesa. As crianças nascidas dessas uniões eram dadas a compadres, gente que tinha residência fixa, padres ou coronéis que pudessem dar-lhes uma vida tranqüila e digna.
Lampião e sua cangaceirada
O cangaceiro Balão declarou em uma entrevista ao um jornal de São Paulo que, enquanto não havia mulheres entre eles, o cangaceiro brigava até enjoar.
Depois disso passaram a evitar os tiroteios, e os bandos batiam logo em retirada para que fossem resguardadas a integridade física das companheiras. As mulheres tinham resistência e a valentia dos homens, mas muitas vezes atrapalhavam nas fugas por ficarem doentes ou grávidas.
De todas as mulheres, a que mais passou tempo no cangaço foi Maria Bonita, que morreu ao lado de Lampião em 1938, em Angicos.
Pesquisa:
História do Ceará, de Airton de Farias
Mulheres no cangaço. Disponível em
As mulheres do cangaço. Disponível em
Postado por: Fátima Garcia
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