Por: Alfredo Bonessi
Incentivado por Chico Pereira, o único cangaceiro cowboy do sertão, pois usava botas, chapéu de mocinho de cinema e rifle, Lampião
enviou seus irmãos Antonio e Levino, com o bando de cangaceiros, para atacar a
cidade de Sousa na Paraíba. Lampião não foi ao ataque – estava ferido no pé por
bala da volante de Theofannes Torres.
Theofannes Torres
Para Chico Pereira o ataque serviria como vingança contra os desafetos
que tinham feito atrocidades contra o
seu pai naquela cidade. Nessa ocasião Lampião e o seu bando estavam a serviço
do Coronel José Pereira, de Princesa, na
Paraíba. Esse coronel não gostava de
Lampião e nem dos cangaceiros – tinha em seus mandos centenas de jagunços, pistoleiros e muita
gente que não prestava – ele era o manda-chuva na região.
Coronel José Pereira de Lima
Com o ataque dos cangaceiros a cidade de Sousa o Coronel Pereira rompe em definitivo com Lampião e seu bando e
os expulsa das suas fazendas, mas um cunhado de Pereira continua amigo de
Lampião e o recebe em sua casa, almoçam
juntos e são amigos do peito. Essa amizade é do conhecimento do Coronel Pereira
que não podendo fazer nada, apenas tenta aconselhar o cunhado a se desligar
desse tipo de má gente. Mas ele continua amigo do Rei do Cangaço e é coiteiro
dele.
O cangaceiro Chico Pereira
Essa amizade com Chico Pereira
não dura, esse cangaceiro quando ferido, foi traído, e abandonado pelos irmãos Ferreira em um
canavial quando estava cercado pelas volantes, estava sem forças e quase
moribundo e ainda, nessa ocasião, estava picado de cobra venenosa.
Surge a questão entre João Pessoa
e João Dantas – dizem alguns por ciúmes e interesse na namorada de João Dantas.
João Pessoa manda a polícia atacar e prender João Dantas na casa da namorada.
Esta estaciona o automóvel nos fundos da casa e João Dantas escapole pela
janela dos fundos. Mas a policia invade a casa e vasculha todos os aposentos e
se apossa das cartas de namoro entre os dois. Essas cartas vão parar nos
jornais e os ataques pela mídia da época fica acalorado entre os dois e como
decorrente surgem as ameaças entre
ambos: João Dantas avisa: - Se você vier a Pernambuco, morre!
A política brasileira na ocasião ferve no Sul do País e
João Pessoa é o candidato para a posse política – seu prestigio e fama
estão em alta – todo o País sabe quem é ele.
João Pessoa decide ir ao Recife,
mas é avisado pelas pessoas mais chegadas: - Não vá! Você está ameaçado de morte!
- Que nada! vou ao Recife! e fez pouco caso dos avisos.
João Dantas vem de bonde – está
em pé e uma pessoa está sentada lê o
jornal do dia. João Dantas dá uma brechada na página principal do jornal e vê a noticia
que João Pessoa está na cidade. No mesmo bonde ele volta para casa e apanha o
revolver. Procura por João Pessoa e o
encontra na confeitaria – espera por ele. João Pessoa sai da confeitaria e João
Dantas se aproxima pelas costas. Grita para ele: eu não te disse que não viesse
ao Recife!!!! – João Pessoa se vira e investe contra ele de bengala em punho: - Ora seu! .................e leva três tiros.
A noticia se espalha que nem fogo Brasil afora – João
Dantas é considerado o Judas Nacional.
O crime imediatamente serve de
pretexto político e passa a ser considerado político e vira motivo principal para a sublevação nacional. Forças
Getulistas tomam o poder e João Dantas é
preso com um parente seu que nada tinha a ver com o caso.
Ao lado da cela de João Dantas
está o cangaceiro Antonio Silvino cumprindo pena. Tempos antes ele se oferece
para pegar Lampião a unha, vivo ou morto e dá até um prazo para o feito: 20 dias. Mas ninguém acredita nele e o deixa mofar
atrás das grades. Você já pensou se houvesse esse encontro?
- quem mataria quem nesse embate?
Antonio Silvino fora um
cangaceiro justiceiro, respeitador de lares e de mulheres, pedia antes de se
apossar, se alguma mulher o repreendesse
ele até pedia desculpas e ia se embora. Praticava a justiça por onde andava e
casou muita gente nesse sertão na marra, às vezes a coice de rifle, outras
vezes a ponta de punhal. Não digo que era um homem
corajoso, mas astucioso, esperto, muito precavido – andava sempre com pouca
gente e se fazia obedecer pelos seus comandados.
Lampião
Lampião era aguerrido, ágil, não fazia esse tipo justiça, não respeitava
as mulheres, permitia que elas fossem estupradas e marcadas a ferro, ele mesmo forçou
algumas delas, não tinha dó de
ninguém, não ligava para a tortura que
sofria as suas vitimas, desprezava a morte e sabia que um dia morreria por uma
bala qualquer – sua estratégia maior era não ser pego pela policia. Diversas vezes quis
se entregar e seus irmãos não o deixaram.
Levino Ferreira, seu irmão, dizia para ele: você é um frouxo, um covarde
– não serve para ser cangaceiro.
Lampião sabia quando era a hora
de lutar e a hora de escapar. E dizia sempre: - Não enfrente os macacos. Lampião tinha a sua própria justiça, a justiça
lampiônica, pois a justiça era dele – a
justiça era ele – ele fazia as suas vinganças
a sua moda, muito cruel. Lampião
andava quase sempre com muita gente no bando e permitia que chefes previamente designados mandassem nos
seus grupos e decidisse a sorte daqueles cangaceiros que por acaso fizesse algo que deveria ser punido com a expulsão do bando ou até
mesmo a morte.
- Ele sempre dizia:
“cangaceiro é para morrer no
mato, de bala, feito bicho!”
Cumpriu-se essa profecia.
Antonio Silvino sempre afirmava:
Lampião é um príncipe!
Lampião sempre dizia:
- Antonio
Silvino é um covarde, pois se entregou!
A polícia invade a cela de João
Dantas e a luta é ferrenha. Antonio Silvino escuta tudo – foi uma longa briga
que acabou com a morte de João Dantas e do seu parente. A população fica
sabendo do ocorrido e comemora o acontecido – a vingança fora feita.
Novamente procura-se um responsável pela ideia e autorização para a chacina de
João Dantas: quem mandou?
A culpa cai em cima do Deputado Suassuna que nada tem a ver com o caso. Ele
mesmo decide ir ao Rio de Janeiro se explicar e
provar que não tem nada a ver com o assassinato de João Dantas. Seus
familiares o aconselham que não vá. Ele
vai e é assassinado no Rio de Janeiro. A
questão esfria e a política continua – tudo abafado, mas não para os familiares
do Deputado Suassuna que até hoje estão indignados por esse crime e procuram
pelos mandantes. Na época o criminoso é mandado trabalhar próximos as fazendas do Deputado assassinado -
mas a viúva não autoriza a vingança.
Depois o criminoso vem trabalhar nas fazendas da família do Deputado Suassuna, mas a viúva não
deixa que o matem.
Final
Com a Revolução de 30 o Coronel
Pereira é derrotado e expulso de suas propriedades
e vai se esconder no interior do Sertão
- errou de lado no apoio militar. Somente voltou as suas terras muito
tempo depois do fato, mas nunca mais se recuperou no poder de mando e
decisão, pois a revolução de 30 acabou com a poder dos coronéis e criou a
classe política.
Chico Pereira, escapou das balas
da polícia e do veneno da cobra mas acabou preso e covardemente assassinado pela polícia.
Lampião reinou absoluto no sertão durante o período da
revolução de 30 – os militares e as volantes que o perseguiam foram brigar em
outra praça de guerra. Por estar tudo calmo e bom demais arrastou mulheres para o seu bando – Sinhô Pereira
comentou; acabou-se a invencibilidade dele.
Dois irmãos Ferreira já estão
mortos, Antonio e Levino e em breve morrerá o caçula da família, Ezequiel
Ferreira e o cunhado Virginio, ferido em combate mas executado com um tiro no
peito pelo cangaceiro Moreno que acabou ficando com a mulher do “Juiz do Cangaço”.
Lampião sempre dizia; o cabra
mais safado que eu conheci foi o Coroné Pereira de Princesa – mas Lampião nunca
dizia o porque. Essa rusga começou por um erro de estratégia de Lampião em
atacar a cidade de Sousa na Paraíba – como vimos – cidade protegida pelo
Coronel Pereira que ali tinha vários amigos.
Hoje, se me perguntarem qual foi
o principal fator que desencadeou a revolução de 30 – eu digo: foi um crime
passional.
Se me perguntarem quem matou João
Dantas na prisão ? – eu respondo que foi a policia a mando dos revolucionários
de 30 – para eliminar a dita causa que
deflagrou o conflito. Se ouvissem João Dantas sobre os reais motivos do crime,
a tese inicial da morte política iria
por águas abaixo e o caso poderia dar uma reviravolta.
Quem matou o Deputado Suassuna ?
– também acredito que foi os revolucionários de 30 para eliminar todas as
duvidas de quem mandou matar João Dantas na prisão – acredito que ele estava
inocente do fato, até mesmo na morte de João Pessoa que como vimos a causa foi
passional e não política.
Por fim veio a morte de Lampião
e o Estado Maior do Cangaço em Angicos -
Sergipe.
Estava certo Corisco, que na
ocasião, com os olhos cheios de lágrimas e riscando o chão com a ponta do
punhal profetizou:
-acabou-se a alegria do sertão.
Alfredo Bonessi
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