Por: Arievaldo Viana
A figura
lendária de Lampião fascinava Luiz Gonzaga desde a infância. Em meados da
década de 1920, quando o Rei do Cangaço passou com seu bando pela Serra do
Araripe rumo a Juazeiro do Norte, o futuro Rei do Baião desejou ardentemente
conhecer o temível bandoleiro e, quem sabe, tocar algumas músicas para a
cabroeira dançar.
Sentados: Santana e Januário
O velho Januário, mais sensato e comedido, resolveu ouvir os
apelos de Santana e foi se refugiar no mato com a família, com medo dos
cangaceiros. Outras famílias fizeram o mesmo.
Procuro
os descendentes (netos, bisnetos e tataranetos) de “pai Januário” e de “mãe Santana”,
os parentes do rei do baião!
os parentes do rei do baião!
Família Januário
O que aconteceu a seguir, eu descrevo em cordel, trechos de um livro que acabo de lançar pela coleção “Do Nordeste para o mundo”, coordenada por Arlene Holanda, intitulado “Luiz Gonzaga, o embaixador do sertão”. A obra, vencedora de um prêmio literário promovido pela Secult, acaba de ser lançada pela Editora Íris.
O EMBAIXADOR DO SERTÃO (trechos)
Certa feita
Lampião
Passou lá no
povoado
O povo da
região
Ficou muito
apavorado,
Seguia pra
Juazeiro
O cangaceiro
afamado.
As famílias se
esconderam
Com medo de
Lampião
Januário e sua
gente
Arrumaram o
matulão
E foram se
esconder
Sob um pé de
“sombrião”.
Passados então
dois dias
O Gonzaga
disse assim
Eu vou lá no
povoado
Ver se a coisa
está ruim
Eu vou e volto
escondido
Podem confiar
em mim.
Nisto o velho
Januário
Que admirava a
coragem
Lhe disse: –
Vá com cuidado
Pela margem da
rodagem
Observe o
movimento
E faça breve
viagem.
Luiz foi,
observou,
Lampião tinha
saído,
Ele que era
travesso
Um molequinho enxerido
Voltou em
grande carreira
Fazendo um
grande alarido:
- Corre gente!
Corre tudo
Que Lampião
vem chegando!!!
Com mais de
cinqüenta cabras
Já vem se
aproximando!
Foi enorme a
correria
E a meninada
chorando.
A rir
dessa confusão
Gonzaga então
começou;
Mas o velho
Januário
Daquilo
desconfiou
E devido a
brincadeira
Um castigo ele
levou.
Luiz
Gonzaga, Mãe Santana, Rosinha, Pai Januário e Dona Helena
fabiomota1977.wordpress.com
Foi uma surra
e tanto, conforme o próprio Gonzaga declarou mais tarde ao escritor Sinval Sá,
autor de “O sanfoneiro do Riacho da Brígida”, a primeira biografia do ‘Lua’,
publicada em Fortaleza em 1966.
Os
07 Gonzagas: Aloísio, Socorro, Luiz Gonzaga, seu Januário, Severino Januário, Zé
Gonzaga e Chiquinha Gonzaga.
A roupa dos cangaceiros, aqueles chapéus de couro vistosos, cheios de medalhas e penduricalhos era o que mais fascinava o menino Gonzaga. Por isso, depois de consolidar sua música e projetar-se em todo o Brasil, Luiz Gonzaga cismou de se apresentar na Rádio Nacional vestido de cangaceiro, o que lhe valeu uma séria advertência do diretor Floriano Faissal. Advertência não, proibição sumária.
Mas Gonzaga
era teimoso e continuou usando o seu chapéu de cangaceiro nas capas dos discos,
nas fotos promocionais e em tudo que era show onde se apresentava. Sua persistência
prevaleceu e o figurino incorporado por ele passou a ser imitado por quase
todos os cantores do gênero que surgiram nas décadas de 1950 a 1970.
Arievaldo
Viana
Texto
publicado na revista Nordeste Vinteum
Fotos do site:
http://fabiomota1977.wordpress.com
http://Cariricangaço.blogspot.com
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