Autor
e fotos: Rostand Medeiros
Quando você
está viajando pelas belas praias do nosso Nordeste é sempre uma grande
satisfação e alegria. Mas quando buscamos este destino para curtir férias nada
pode ser mais chato do que um dia completamente nublado.
Área
lateral da fortaleza
Mas estes dias
também são interessantes para buscarmos outras alternativas e aí podemos
encontrar interessantes locais históricos para visitarmos no belo litoral de
nossa região. Em relação a isso nada melhor do que se encontrar no litoral de
Pernambuco.
Entrada
principal com várias indicações de datas, que não correspondem a sua
inauguração
Enfim
Pernambuco assistiu muito movimento no período colonial da história do nosso
país. Ali, durante os quase vinte e quatro anos de permanência dos holandeses
(1630-1654) o que não faltou foram acontecimentos que marcaram a nossa
história. Como lembrança silenciosa destes tempos tumultuados está o
Forte de Santo Inácio de Tamandaré, Um dos mais importantes marcos da história
de Pernambuco, fica localizado no município de Tamandaré, ao sul de Recife.
Outra
vista da área da entrada
O local é
também conhecido como Fortaleza da Barra Grande ou Forte de
Tamandaré, no final do século XVII pelo engenheiro Francisco Correia Pinto e
junto com outro baluarte de defesa denominado Forte da Santa Cruz protegiam a
enseada de Tamandaré, área considerada um dos melhores pontos de ancoragem da
costa pernambucana, não muito distante de produtivas usinas de moagem de cana
de açúcar. Destes locais eram produzidas toneladas do lucrativo açúcar mascavo,
o mais importante e rentável produto brasileiro na época e alvo da ambição de
holandeses e portugueses. Esta enseada, considerada melhor que a área de
ancoragem do cabo de santo Agostinho, era capaz de abrigar várias embarcações
com calado de até dezoito pés.
O
pátio do forte, com vista para o farol construído em 1902.
A fortaleza
possui um formato quadrangular, com baluartes e apresentando antigas peças de
artilharia, que mostram a sua periculosidade para as embarcações a vela do
passado. Os locais onde se encontram os canhões são ligados ao pátio
principal por pequenas ladeiras existentes em três lados da estrutura e pelo
pavimento superior frontal.
A entrada do
forte ainda mostra-se uma construção maciça e imponente, onde o visitante vislumbra,
após passar o portão, as seteiras da passagem de entrada, por onde os
defensores deveriam abrir flechar, ou abrir fogo, contra os invasores. Consta
que antes do portão havia uma ponte móvel, mas tanto esta estrutura, quanto o
fosso não mais existem.
Salvador
Correia de Sá e Benevide
Na época da
invasão holandesa a Pernambuco, a enseada de Tamandaré recebeu o desembarque
das forças de Salvador Correia de Sá e Benevides, que prestou alto serviço à
insurreição dos pernambucanos contra os holandeses ao escoltar até o porto de
Tamandaré oito navios provenientes da Bahia, trazendo ao Mestre de Campo
João Fernandes Vieira um reforço de 800 homens, comandados por gente como André
Vidal de Negreiros e Martins Soares Moreno, cujas ações contribuíram para
a expulsão definitiva dos holandeses.
Por sua vez os
Batavos não ficaram olhando as ações dos seus inimigos na área de Tamandaré sem
fazer nada. Em 9 de setembro de 1645, o almirante a serviço da Companhia
Holandesa da Índias Ocidentais, Jan Cornelisz Lichthart, na verdade um
calejado corsário, atacou na enseada a armada do Capitão-mor de Mar Jerônimo
Serrão de Paiva, em um combate que entraria para a história como Batalha da
baía de Tamandaré. Consta que a derrota da armada de Jerônimo Serrão poderia
ter sido evitada se a frota de Salvador Correia de Sá e
Benevides interviesse em seu auxilio. Mas este brioso militar preferiu
rumar diretamente para Lisboa, com receio de perder uma valiosa carga de
açúcar. E como guerras não são ganhas sem haver grana para financiar as tropas,
certamente a ação de Benevides não foi contestada.
Navios
de guerra holandeses
Já Lichthart
não perdeu a viagem e de lambuja ainda conquistou a fortaleza. Consta que este
corsário holandês sabia falar corretamente a nossa língua por ter vivido em
Lisboa antes da guerra e teve um papel importante na luta pela posse do
Brasil. Em relação a fortificação os holandeses realizaram reparos e a
ampliaram, mas esta informação não é totalmente aceita pelos historiadores.
O que sabe ao
certo é que após a derrota Batava o local ficou abandonado e foi reconstruído
em 1677 pelo mesmo João Fernandes Vieira, agora no cargo
de Superintendente das Obras de Fortificação da Capitania de Pernambuco. O
trabalho de recuperação recebeu apoio dos empreendedores e moradores da região,
que temiam futuras investidas de europeus sedentos de ambição pelas nossa doces
riquezas tropicais. Houve farta colaboração no fornecimento de materiais de
construção, mão-de-obra, carros de bois para transporte de materiais e animais.
Outros
trabalhos de recuperação foram realizados em 1683 e só teve sua conclusão
efetivada em 1691, o que mostra que esta história de atraso de obras públicas
no Brasil não é nova. Já a capela do forte só foi construída em 1780, sob a
invocação de Santo Inácio.
Segundo Carlos
Miguez Garrido, em obra publicada em separata ao Volume III dos Subsídios para
a História Marítima do Brasil, do Ministério da Marinha, Rio de Janeiro:
Imprensa Naval, 1940, a estrutura do Forte de Santo Inácio de Tamandaré foi
reconstruída em 1808 e sofreu novos reparos em 1822.
Artilharia
existente
Consta na obra
que nesta fortaleza, para o seu lado voltado para a atual cidade de Tamandaré,
erguia-se dois pavimentos da edificação contendo as dependências de serviço.
Estas seriam o Corpo da Guarda, Calabouço, Casa da Palamenta, Casa da Pólvora,
Quartel da Tropa, Cozinha, Casa do Comando. O local ficava guarnecido por
um sargento-mór (patente equivalente atualmente a de major), um tenente, um
capitão, um sargento, um condestável (chefe dos artilheiros), um almoxarife, e
um destacamento de infantaria compreendendo um alferes, um sargento, um tambor,
40 soldados fuzileiros. A fortaleza era guarnecida por vinte e oito peças
de artilharia, sendo vinte e quatro de ferro e quatro de bronze, de diferentes
calibres (GARRIDO, 1940 -pág. 75).
As
silenciosas e abandonadas peças de artilharia desta fortaleza
Entre 1859 e
1860 o imperador Dom Pedro II pernoitou nas suas dependências no dia 13 de
dezembro de 1859. O almirante Joaquim Marques Lisboa, que conduzia o imperador,
a imperatriz e a comitiva na fragata a vapor Amazonas, pediu permissão ao
imperador para realizar uma pequena parada no porto de Tamandaré, para que ele
pudesse recolher os restos mortais do seu irmão, Manoel Marques Lisboa,
revolucionário que participou da malfadada Confederação do Equador, a fim de
serem conduzidos ao jazigo de sua família no Rio de Janeiro. Observam os
biógrafos que, embora o irmão do almirante fosse um inimigo declarado do
Império, o Imperador concedeu-lhe a permissão pedida, e ainda a de que
disparasse uma salva de artilharia da fragata em homenagem aquele
combatente. Meses mais tarde, o imperador demonstrou novamente o seu
reconhecimento ao almirante pelos relevantes serviços prestados à nação,
concedendo-lhe o título de “barão de Tamandaré”.
Tal como na
Fortaleza dos Reis Magos em Natal, no Forte de
Tamandaré foi construído um farol de sinalização
em 1902. Durante a Segunda Guerra Mundial o local abrigou uma
guarnição de militares brasileiros que, além da manutenção e guarda do
farol, utilizavam o local como ponto de observação e controle daquele setor da
costa pernambucana.
Outra
vista do pátio interno
Como podemos
ver pelas fotos deste sofrível fotografo, o local é de indiscutível beleza e
forte relevância histórica, mas me dói o coração vê-lo neste estado de
abandono. É triste que um local histórico tão bonito e interessante, plantado
em uma área tão próximo a locais de forte frequência turística, se mantenha em
um estado lastimável como esse.
O
abandono do local
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Extraído do blog do historiógrafo e pesquisador do cangaço:
Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.wordpress.com
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