Dona
Fideralina Augusto Lima
Num universo
dominado pelo patriarcalismo, há que se ressaltar a figura de Fideralina
Augusto Lima, nascida em Lavras da Mangabeira no ano de 1832, filha de um
poderoso latifundiário e chefe político local. Com a morte do pai, dona
Fideralina deu continuidade a sua atividade político-partidária. De atitudes
enérgicas tornou-se figura expressiva entre o coronelismo da região.
Dona Fideralina casara-se
muito jovem, aos 15 anos, com
um filho de Raimundo Duarte Bezerra (Papai Raimundo, fundador de Várzea
Alegre). E enviuvara aos 44, sendo mãe de doze filhos.
O poder
herdado do pai, e mais tarde do marido, foi habilmente mantido. Fideralina
conseguia sempre estar bem com os governos: de monarquista converteu-se em
republicana, contanto que dominasse a região de Lavras da
Mangabeira.
Nunca quis
cargo político mas os ocupava com os familiares e amigos próximos. Os mais
próximos chamavam-na de Dindinha, os mais distantes chamavam-na de Fidera do
Tatu.
Casa do Sitio
do Tatu, onde viveu Fideralina - (imagem: http://blogdosanharol.blogspot.com.br)
O apelido
devia-se ao fato de, apesar de ser proprietária de vastas terras, vivia no
sitio do Tatu, próximo à cidade. Ali mantinha engenho, casa de farinha e
bolandeira de beneficiar algodão. Era também proprietária de muitos escravos,
onde se destacava um grupo de negras que eram usadas como parideiras
de moleques, que após algum tempo eram vendidas. Fideralina impunha respeito, e
despertava medo e curiosidade das pessoas.
Foto do final
dos anos 1930/início da década de 1940. Antiga Rua da Praia, depois Rua Santos
Dumont e hoje Wilson Sá. Ao fundo a Rua da Beira do Rio, destruída pela
enchente de 1947. (imagem: http://lavrasdamangabeirace.blogspot.com.br)
Entre os
negros do sitio do Tatu, quatro deles, dos mais fortes, deviam estar sempre
prontos para carregar a liteira de Dona Fideralina, nas suas idas à cidade.
Corpulenta, medidas avantajadas, quadris largos, rosto cheio, Fideralina
era baixa e gorda, sisuda, falava alto, cheirava rapé e bebia zinebra. Tempos
depois trocou a liteira pelo cabriolé – uma espécie de charrete – e, depois de
velha, estranhamente, começou a andar a cavalo, inspirando uma crônica do juiz
Álvaro Dias Martins, assustado com a vitalidade da velha cavaleira.
Estação
ferroviária de Iguatu, em 1957 (foto do site estações ferroviárias)
Temida pelo
povo, não era só medo que ela despertava nas pessoas. Quando viajava de Lavras
para Iguatu, onde tomava o trem para Fortaleza, e se hospedava na casa do chefe
político da cidade, despertava imensa curiosidade. O povo ia à casa do coronel
para vê-la, corria às calçadas a fim de lhe assistir a passagem e, na hora do
embarque, uma multidão se comprimia na plataforma da estação ferroviária para
ver aquela mulher perigosa, valente, cheia de coragem, que mandava matar os
inimigos.
Igreja Matriz
de Lavras da Mangabeira (foto: O globo)
Essas viagens
faziam parte de seu relacionamento com o Presidente da Província. Mas Fideralina
abusava às vezes dessas boas relações. Chegou a exigir em carta ao Presidente
que nomeasse um amigo analfabeto para o posto de professor de grego do Liceu de
Fortaleza. Provavelmente era ela mesma quem escrevia as próprias cartas. Tinha
uma bela letra e assinava Federalina, com a letra E no lugar do I, como era
conhecida.
Graças a seu
poder político e econômico, Dona Fideralina podia manter certos hábitos
interditos à mulher. Falava o que lhe viesse a cabeça, dizia palavrões em
qualquer oportunidade, alteava a voz com os homens. Tinha um grupo de
"cabras" capazes das maiores crueldades para proteger a propriedade e
garantir a família. Ela própria andava sempre com um bacamarte ao alcance da
mão.
Rezava o
rosário diariamente em companhia da família e das escravas – o folclórico dizia
que o rosário era confeccionado de orelhas dos inimigos.
Localização
de Lavras da Mangabeira, no mapa do Ceará
Fideralina
faleceu em 1919, o que não encerrou o domínio da família Augusto. Apenas na
década de 70, pela primeira vez, os Augustos não conseguiram eleger o prefeito
de Lavras.
Pesquisa:
História do
Ceará, de Airton de Farias
site estações
ferroviárias
Jornal Diário
do Nordeste
Tv Assembleia
do Ceará
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