Por:Daniel Walker
Quem melhor
descreve a vida do povoado de Juazeiro a partir da construção da Capela de
Nossa Senhora das Dores é Amália Xavier de Oliveira. Mas para a organização
deste capítulo recorremos também a outros autores, como padre Neri Feitosa e
padre Azarias Sobreira, pois eles têm também boas informações. Consta que o
padre Pedro Ribeiro de Carvalho, primeiro capelão de Juazeiro, era muito
zeloso; cuidava da pequenina população do lugarejo, formada principalmente de
pessoas do campo, ensinando-lhes a rezar e a trabalhar. Na época invernosa a
população entregava-se aos trabalhos agrícolas;
homens e mulheres iam para a roça ocupando-se no cultivo do arroz, milho,
feijão, mandioca e algodão.
Após a colheita, as mulheres ficavam em casa desenvolvendo trabalhos domésticos e fiando algodão para tecer a roupa dos maridos e dos filhos que elas mesmas costuravam, pois não havia máquina. Os homens se dedicavam aos trabalhos da Fazenda, alimentação do gado, solta das rezes nos pastos, ordenha, vaquejada, desmancha de mandioca, caça, pesca, etc. Todos ali aprendiam o Catecismo, rezavam e trabalhavam sob a orientação do padre que não permitia a promiscuidade e fazia tudo para evitar a discórdia entre os habitantes. Foi assim, nesta atmosfera de paz e tranquilidade, que viveram os primeiros habitantes de Juazeiro de 1827 a 1833, quando faleceu o padre Pedro cercado do respeito e amor de todos que o conheceram.
Após a colheita, as mulheres ficavam em casa desenvolvendo trabalhos domésticos e fiando algodão para tecer a roupa dos maridos e dos filhos que elas mesmas costuravam, pois não havia máquina. Os homens se dedicavam aos trabalhos da Fazenda, alimentação do gado, solta das rezes nos pastos, ordenha, vaquejada, desmancha de mandioca, caça, pesca, etc. Todos ali aprendiam o Catecismo, rezavam e trabalhavam sob a orientação do padre que não permitia a promiscuidade e fazia tudo para evitar a discórdia entre os habitantes. Foi assim, nesta atmosfera de paz e tranquilidade, que viveram os primeiros habitantes de Juazeiro de 1827 a 1833, quando faleceu o padre Pedro cercado do respeito e amor de todos que o conheceram.
Amália Xavier
de Oliveira
As festas mais
concorridas, além das religiosas, eram os casamentos. Eram feitos com grande
animação: três dias de festa antes do casamento na casa do pai da noiva ou de
outra pessoa que o representasse e três dias na casa da família do noivo, após
o casamento; depois destes festejos todos, o noivo tinha o direito de levar a
noiva para casa.
Os padres que
o substituíram na Capelinha eram também zelosos e piedosos. O povoado ia
crescendo; novas casas foram construídas, sempre localizadas em torno da Capela
e ao longo das proximidades da margem do rio Salgadinho. Surgiram, então, os
primeiros aglomerados: Cacimba do Povo, Rua do Brejo, Feira do Capim, Mercado
Velho, Boca das Cobras, Volta, Salgadinho, Mochila, Comboieiro (Malvas).
Com a chegada
do Padre Cícero (em 11.04.1872) como capelão e graças a sua dinâmica atuação,
já tão difundida nos livros que tratam de sua vida, o pequeno lugarejo sofreu
profundas transformações até chegar ao estado em que se encontra hoje. O
escritor J. G. Dias Sobreira, em seu livro Curiosidades e factos notáveis do
Ceará, informa que quando visitou Juazeiro em 1856, o povoado tinha o seguinte
aspecto:
"O
povoado, nesse tempo, compunha-se de umas sessenta casas de taipa, umas
cobertas de telhas e outras de palha de carnaúba ou de palmeira. A disposição
delas não obedecia à regra natural de arruamento. Logo na entrada do povoado,
começavam duas fileiras de casas, sem guardar a equidistância, no seu
prolongamento. Ao seguir iam elas afastando-se, de modo que, tendo no começo
uns vinte metros de largura, terminavam com mais de cem metros ao chegar
à igreja. Não havia estética nem nexo, naquela formação de arruamento”.
Juazeiro do
inicio do século passado
Porém, em
1909, um documento apresentado à Assembleia Legislativa do Ceará, em apoio ao
pedido de autonomia municipal para Juazeiro, encontrado por Ralph della Cava
nos Arquivos do Colégio Salesiano, informa que antes de se tornar independente
do Crato o povoado de Juazeiro já se encontrava em acelerado ritmo de
desenvolvimento, graças à ação do Padre Cícero. Já possuía uma farmácia,
um médico residente, um jornal, várias instituições religiosas, como o
Apostolado da Oração, fundado pelo Padre Cícero, um escritório de intercâmbio
comercial com a capital e uma instituição civil para cuidar do engrandecimento
do lugar.
A zona rural
de Juazeiro possuía 22 engenhos de açúcar empenhados na produção de rapadura e
subprodutos alcoólicos e cerca de 60 locais equipados para preparar farinha de
mandioca. Além do cultivo de arroz, feijão e milho, Juazeiro já se destacava na
produção de borracha de maniçoba e algodão. Foi Padre Cícero quem introduziu a
borracha no Cariri, na primeira década do século XX. E graças ao seu empenho, o
algodão, cuja cultura havia sido quase totalmente abandonada, reapareceu entre
1908 e 1911. Ele chegou a comprar uma máquina de beneficiamento de algodão,
movida a vapor. A borracha e o algodão foram os principais responsáveis pelo
intercâmbio econômico de Juazeiro com o comércio exportador das grandes casas
comerciais da capital cearense, especialmente com a firma francesa Boris Frères
e a companhia brasileira de Adolfo Barroso.
Mas o
crescimento urbano do povoado foi ainda maior do que sua expansão agrícola. O
comércio pulsava com a realização de uma feira semanal, realizada aos domingos
em frente à Igreja de Nossa Senhora das Dores. Muitos dos comerciantes tinham
imigrado para Juazeiro proveniente de pequenas cidades vizinhas e de outros
Estados. Mas a atividade econômica principal do povoado provinha de suas
indústrias artesanais de onde saíam uma grande e diversificada produção de
produtos utilitários e decorativos, além de produtos religiosos. Tudo se
desenvolveu tendo em vista atender às demandas de consumo em ascensão e como
uma resposta oportuna à incapacidade das limitadas áreas rurais de Juazeiro
para absorver os imigrantes nas atividades agrícolas, de imediato após a chegada.
Dr. Floro
Bartolomeu da Costa
Chegando ao povoado, os romeiros, orientados pelo Padre Cícero, trabalhavam na manufatura de vários artigos de uso doméstico confeccionados com matéria-prima local: louças de barro, vasos, panelas, cutelaria, sapatos, objetos de couro, chapéus, esteiras de fibras vegetais, corda, barbante, sacos e outros receptáculos para estocar e expedir gêneros alimentícios. As habilidades manuais do povo e as necessidades do sertão levaram, eventualmente, à fabricação e exportação de instrumentos rurais típicos, tais como, enxadas, pás, facas, punhais, rifles, revólveres, balas e pólvora.
Logo cedo,
devido à grande procura de seus produtos, muitos artesãos saíram de suas casas
e passaram a produzir em maior escala em oficinas amplas e equipadas de
máquinas, localizando-se no centro da cidade para ficarem mais ao alcance dos
clientes. Os reflexos do desenvolvimento do povoado estavam bem evidentes nos
impostos arrecadados... Principalmente para o Crato. Por isso, o desejo de se
tornar independente nasceu.
Segundo o
documento apresentado à Assembleia Legislativa do Ceará, provavelmente
organizado por Dr. Floro Bartholomeu da Costa, em 1º de janeiro de 1909,
cuja cópia transcrevemos abaixo: A povoação de Juazeiro, estado do Ceará,
tem na presente data: 18 ruas, 4 travessas, etc., com a população de 15.050
habitantes, como se vê abaixo:
Rua Padre
Cícero: 2.000 habitantes,
Rua S. Luzia:
1.538 habitantes,
Rua S. Jose:
1.100 habitantes,
Rua S.
Francisco: 1.000 habitantes,
Rua S.
Antônio: 557 habitantes,
Rua S. João:
603 habitantes,
Rua de S.
Sebastião: 552 habitantes,
Rua de S.
Pedro: 227 habitantes,
Rua do
Rosário: 578 habitantes,
Rua do
Perpétuo Socorro: 523 habitantes,
Rua do
Cruzeiro: 540 habitantes,
Rua dos
Passos: 1.040 habitantes,
Rua da
Conceição: 800 habitantes,
Rua das
Malvas: 175 habitantes,
Rua Grande do
Salgadinho: 1.136 habitantes,
Rua da Cacimba
Nova: 480 habitantes,
Praça da
Capella de N. S. das Dores: 734 habitantes,
Praça da Liberdade:
345 habitantes,
Travessa de S.
José: 287 habitantes,
Travessa de S.
Francisco: 250 habitantes,
Travessa da
Conceição: 209 habitantes,
Travessa da
Rua Nova: 37 habitantes,
Beco do
Cemitério Velho: 30 habitantes.
Na relação de
profissionais, comércio e pequena indústria, destacamos:
Oficinas de
Sapateiros: 20,
Carpintaria:
35,
Marcenaria:
5,
Pedreiros:
40,
Fogueteiros:
15,
Funileiros:
7,
Ferreiros:
8,
Ourives: 2,
Pintores
desenhistas: 2,
Fundição:
1,
Barbeiros:
3,
Alfaiates:
3,
Alfaiates
Modistas: 10,
Padarias:
2,
Farmácias: 2,
Lojas
(Molhados-Mercadorias): 10,
Lojas
(Fazendas-Miudezas): 10,
Bodegas
(Molhados-Bebidas): 20,
Armazéns
(Géneros Alimentícios): 10,
Escolas
(particulares, sexo feminino): 12,
Escolas
(particulares, sexo masculino): 6,
Escolas
(públicas, sexo feminino): 1,
Escolas
(públicas, sexo masculino): 1,
Tipografia: 1,
Igrejas: 2
(uma em construção),
Cemitérios:
2,
Bolandeiras
Algodão: 1,
Engenho de
ferro para cana: 18,
Idem, madeira:
4,
Estação
telegráfica, Agência do Correio, Coletoria Estadual, Cartório do Registro
Civil, e Serviço de iluminação pública.
Quem poderia
imaginar que depois de cem anos Juazeiro seria o que é hoje! Este é o
verdadeiro milagre do Padre Cícero!
Daniel Walker
FONTE:http://historiadejuazeiro.blogspot.com.br
http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Caro Mendes e Wesley Dutra: Nada mais justo que a ideia de vocês em restaurar e transformar a casa de Chico Pereira em um museu. É uma idéia que merece apoio nem só dos conterrâneos como de tantos outras pessoas que conhecem a história do cangaço, mesmo eu que resido tão distante. Grato, Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista-Serrinha-Ba. email: antonioj.oliveira@yahoo.com.br
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