Por Geraldo Maia do Nascimento
No
rumo do Sertão, um dos primeiros a se aventurar com viagens de caminhão foi
Jaime Mouro, com uma linha que ligava Mossoró a Patu. Há uma história (ou
estória?) engraçada envolvendo Jaime Moura. Contam que existia aqui em Mossoró
um cidadão chamado Joaquim Leão, que era tido como “pé-frio”. E sempre que esse
cidadão resolvia viajar em algum caminhão, algum problema acontecia: arriava um
pneu, a bateria não funcionava e até tanque de gasolina era furado. E quando,
na hora da partida, Jaime Moura via aquele cidadão se aproximar de seu
caminhão, ficava apavorado. O pior é que para evitar inimizade, não podia negar
a vaga. Mas um certo dia, depois de enfrentar vários transtornos durante uma
viagem, resolveu deixar Joaquim Leão no meio do caminho, próximo da Estação
Ferroviária de Caraúbas. Esse pegou o trem para continuar a viagem com destino
a Mossoró, mas logo após o seu embarque começaram os problemas com a
composição: uma prancha carregada de algodão pegou fogo e as labaredas
atingiram o vagão vizinho que estava cheio de latas de óleo, causando uma
grande explosão. Resultado: o trem ficou parado no meio do caminho. Mas Joaquim
Leão conseguiu, numa propriedade próxima, o empréstimo de um cavalo para
prosseguir a viagem, vindo pernoitar em São Sebastião (hoje Governador Dix-sept
Rosado). De madrugada foi pegar o animal para prosseguir viagem, mas o mesmo
estava morto: tinha sido mordido por uma cobra. Como podemos notar, havia sim
razão para as preocupações de Jaime Moura com relação a Joaquim Leão.
No
caminho de Pau dos Ferros, havia o caminhão de Sérvulo Marcelino. Era um
sujeito brincalhão, alegre, contador de anedotas. A viagem no carro de “seu
Servo” era um horror para aqueles mais pudicos. Anedotas desrespeitosas e
palavrões acompanhavam toda a viagem. Mas havia uma exceção: era quando o
Bispo, D. Jaime, resolvia viajar em seu caminhão. D. Jaime era conhecido como
um Bispo pobre, que não possuía automóvel e precisava fazer muitas das suas
peregrinações nas boleias dos caminhões. E quando sua viagem era para Pau dos
Ferros, mandava um seminarista avisar a Jaime Moura, que o Sr. Bispo precisava
de um lugar. Diante disso, o mesmo se desdobrava em atividades para tornar o
caminhão mais apresentável: limpava os vidros, costurava os assentos que
estavam rasgados e até mandava pintar a tabuleta do itinerário, quando esta
estava desbotada. E dava instrução aos seus auxiliares com relação ao linguajar
durante aquela viagem:
-
“Olhe, seu “Xandoca”, amanhã a viagem é de muito respeito, diga isso a esse
canalha que vai em cima da carga, pois quem disser um nome feio, uma palavra
imoral, você pega e joga no meio da estrada.
-
Mesmo que seja muié, “seu Servo”? Perguntou o ajudante, admirado daquela ordem.
-
Seja lá o que for... respondeu o dono do veículo.”
Madrugada
alta, friorenta, com o caminhão roncando, devorando a estrada do fio, da
chapada do Apodi. No meio de uma reta, ouve-se bater na cabine. Sinal que se
pedia parada. Sérvulo freia o veículo com violência, bota a cabeça pra fora e
pergunta:
-
Que é que há?
De
cima da carga respondem:
-
“Seu Servo”, é uma mulé que quer dá uma coisa...
-
Pois eu quero, respondeu o motorista. Nessa altura, Sérvulo Marcelino, caindo
em si, e insinuando um riso murcho, disse:
-
Mas, meu Deus!... Me perdoe, Senhor Bispo.
Esses
são “causos” gostosos envolvendo os pioneiros de nossas estradas de rodagem.
Pessoas simples, mas que deixaram os seus nomes gravados nos anais da nossa
história.
Com
o desenvolvimento da cidade, muitos outros transportes surgiram. O aparecimento
de novas estradas e melhoramento das já existentes permitiram que empresas se
instalassem na cidade, prestando serviço de transporte coletivo de maneira mais
profissional e, consequentemente, mais seguro. Mas até pouco tempo era possível
se ver os famosos “mistos”, ainda em plena atividade, em linhas regulares entre
Mossoró e os municípios de Governador Dix-sept Rosado, Caraúbas e outros. Hoje,
esse tipo de transporte é visto apenas como atração turística nas festividades
juninas de Mossoró.
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Autor:
Jornalista
Geraldo Maia do Nascimento
Fonte:
http://www.blogdogemaia.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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