Por: Manoel
Severo
É imperioso
quando se fala na oligarquia Acciolina da primeira metade do século passado no
Ceará, que se compreenda a conjunção de forças que a nutria e a mantinha viva.
Na verdade, sua principal base de sustentação veio da política dos governadores
e o forte apoio dos coronéis do interior do Ceará, sua forte influência na
Assembléia Legislativa, sem falar da vital aliança com determinados grupos
econômicos, que se encarregavam de formar o arcabouço perfeito para sustentar o
apoio a Nogueira Accioly.
Faculdade
de Direito, criada no governo Pedro Borges, sob as bençãos do senador Nogueira
Accioly
O nepotismo e
a agressiva repressão a seus oposicionistas era também ponto forte do poder
Acciolino, um desses episódios que ficarão marcados na história desse período
foi o "Caso das Vacinas", quando na oportunidade da epidemia de
varíola no Ceará se destacou o trabalho de
Rodolfo Teófilo
Rodolfo
Teófilo; farmacêutico, contista, romancista, poeta e
documentarista; ferrenho opositor de Accioly, que o acusava de
desmoralizar a autoridade do governo por estar totalmente alheio ao sofrimento
pelo qual o povo passava, enquanto que Teófilo juntamente com a esposa e
colaboradores haviam vacinado perto de duas mil pessoas em Fortaleza, fazendo
com que em 1902 não tivesse havido um único caso de varíola na capital
cearense.
Outro episódio emblemático do período Acciolino foi sem dúvidas o que veio a se
chamar o "Pacto dos Coronéis", perpetrado por potentados de dezessete
municípios do interior cearense e que teve em Padre Cícero um de seus mais
importantes protagonistas.
Tela
representando o que teria sido o Pacto dos Coronéis
No ano de
1911, exatamente um ano antes da derrocada de Accioly, seu poder já dava claros
sinais de fraqueza influenciado por muitas questões, inclusive disputas
internas entre as facções que lhe davam apoio no interior do estado, sobretudo
a luta internas nos municípios travada pelos chamados "coronéis de
barranco".
Observando a
situação e movidos pela necessidade de sobrevivência política, reuniram-se em
Juazeiro do Norte em 04 de outubro , coronéis e lideranças de dezessete
municípios cearenses, com destaques para a região do cariri, representada ali
por seus principais mandatários, como: Padre Cícero e Floro Bartolomeu, por
Juazeiro; Cel. Santana de Missão Velha, Major Zé Inácio do Barro, Antônio Luiz
Alves Pequeno de Crato, Coronel Cândido Ribeiro Campos, de Aurora e
João Augusto de Lima de Lavras da Mangabeira, dentre outros. Ali firmariam um
pacto de harmonia e não agressão entre si e apoio incondicional a Nogueira
Accioly.
"Art. 9°
Manterão todos os chefes incondicional solidariedade com o Excelentíssimo
Doutor Antônio Pinto Nogueira Acioli, nosso honrado chefe, e como políticos
disciplinados obedecerão incondicionalmente suas ordens e determinações."
Desde o início
do século, nos idos de 1900 que no cariri cearense os apoiadores de Accioly,
potentados locais e grandes coronéis viviam se digladiando entre si, tomando
e retomando o comando das cidades "em armas", o que de alguma
forma também começava a colocar em risco o poder central no Ceará, representado
por Nogueira Accioly.
O referido pacto da amizade, que inclusive foi registrado no cartório de
Juazeiro do Norte (artigo 9º em destaque acima) nasceu como uma forma simbólica
de mostrar "civilidade" em tempos do "império do
bacamarte". O Pacto dos Coronéis acabou se configurando em dos mais
importantes episódios que retratam o coronelismo nordestino e brasileiro, mesmo
não tendo conseguido seu intento principal que foi o de evitar o conflito
armado entre as principais lideranças interioranas no estado, como no caso de
Crato e Juazeiro na guerra de 14.
Cel
Santana, de Missão Velha, um dos protagonistas do Pacto dos Coronéis e um dos
principais apoiadores de Accioly no cariri.
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Transcrição da
Ata de Abertura do Pacto dos Coroneís...
"Aos
quatro dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e onze, nesta vila de
Juazeiro do Padre Cícero, Município do mesmo nome, Estado do Ceará, no paço da
Câmara Municipal, compareceram à uma hora da tarde os seguintes chefes
políticos: Coronel Antônio Joaquim de Santana, chefe do Município de Missão
Velha; Coronel Antônio Luís Alves Pequeno, chefe do Município do Crato;
Reverendo Padre Cícero Romão Batista, chefe do Município do Juazeiro; Coronel
Pedro Silvino de Alencar, chefe do Município de Araripe; Coronel Romão Pereira
Filgueira Sampaio, chefe do Município de Jardim; Coronel Roque Pereira de
Alencar, chefe do Município de Santana do Cariri; Coronel Antônio Mendes
Bezerra, chefe do Município de Assaré; Coronel Antônio Correia Lima, chefe do
Município de Várzea Alegre; Coronel Raimundo Bento de Sousa Baleco, chefe do
Município de Campos Sales; Reverendo Padre Augusto Barbosa de Meneses, chefe do
Município de São Pedro de Cariri; Coronel Cândido Ribeiro Campos, chefe do Município
de Aurora; Coronel Domingos Leite Furtado, chefe do Município de Milagres,
representado pelos ilustres cidadãos Coronel Manuel Furtado de Figueiredo e
Major José Inácio de Sousa; Coronel Raimundo Cardoso dos Santos, chefe do
Município de Porteiras, representado pelo Reverendo Padre Cícero Romão Batista;
Coronel Gustavo Augusto de Lima, chefe do Município de Lavras, representado por
seu filho, João Augusto de Lima; Coronel João Raimundo de Macedo, chefe do
Município de Barbalha, representado por seu filho, Major José Raimundo de
Macedo, e pelo juiz de direito daquela comarca, Dr. Arnulfo Lins e Silva;
Coronel Joaquim Fernandes de Oliveira, chefe do Município de Quixadá,
representado pelo ilustre cidadão major José Alves Pimentel; e o Coronel Manuel
Inácio de Lucena, chefe do Município de Brejo dos Santos, representado pelo
Coronel Joaquim de Santana."
Continua...
Manoel Severo
Cariri Cangaço
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