A
religiosidade praticada em torno de Antonio Conselheiro cuja figura é conhecida
no desenho de Acquarone publicado na revista Dom Casmurro (1946), representava
o uso da crença como “contestação” política e social sobre o palco da peça do
teatro do agreste em que um bom título seria: “mais fácil abrir as
portas do céu do que as portas da terra para os esquecidos”.
Antonio
Vicente Mendes Maciel ou “Antonio Conselheiro”,* nasceu em Quixeramobim,
sertão do Ceará, em 13 de março de 1830 e morreu de causas ignoradas em
22 de setembro de 1897, quando foi arrazado o arraial de Canudos pelas tropas
do Exército, no governo de Prudente de Morais. Aos 44 anos, abandonado por sua
mulher, tornou-se pregador. Peregrinou pelo Nordeste acompanhado de muitos
adeptos. E sua figura despertou inquietação entre representantes da Igreja
católica, que solicitaram ações por parte das autoridades contra o beato. Foi
preso diversas vezes, acusado de perturbar a ordem pública e encorajar a
desobediência às institiçoes civis e religiosas. Mas, sua fama se espalhava
pelo Nordeste, era tido como um profeta, um homem de Deus, apesar de os conselheiristas
não se considerarem eleitos à espera da salvação, mas, sim, como manifestantes
de uma entrega total a Deus e buscando os recursos para a manutenção da vida e
melhores condições para o povo do sertão abandonado e oprimido pelo latifúndio,
pelo Estado e por uma Igreja distante e ausente.
Antonio
Conselheiro e seus adeptos queimaram publicamente numa localidade baiana, os
editais do governo. Foram então, mandados ao local 35 soldados da polícia
para prendê-los, mas, os soldados foram derrotados pelos beatos. Alguns anos
depois, Antonio Conselheiro decidiu deixar a vida de peregrinação e fundar uma
comunidade que chegou a ser composta de 25 mil pessoas habitantes de 5 mil
casas. Ergueu um arraial em um latifúndio (grande extensão de terras), abandonado
no sertão da Bahia. Perto de lá havia um rio temporário chamado “Vaza-Barris”,
(porque a lata furava batendo nas pedras do raso rio) onde moravam em humildes
choças de palha, umas poucas famílias. A região era árida, o solo pedregoso e
nas secas prolongadas o rio secava e a água só era obtida cavando profundamente
o barro do leito ressecado do rio. Mas, Antonio Conselheiro chamou o
lugar de Belo Monte. No entanto, devido a abundância de uma vegetação chamada
“canudo-de-pito”, o lugar ficou conhecido como Canudos. O maior perigo de
Canudos às autoridades, residia no exemplo da comunidade religiosa que não se
isolava, mas, sim, mantinha contatos com as outras vilas e arraiais, propagando
assim, uma forma organizativa que colidia de frente com o Estado dos senhores
de terras.
"O SERTÃO VAI VIRAR MAR E O MAR VAI VIRAR SERTÃO"
Uma profecia de Antonio Conselheiro diz que "O Sertão Vai Virar Mar e o Mar Vai Virar Sertão", hoje, passados mais de 100 anos da existência de Canudos (1896 a 05 e 06 de outubro de 1897), o arraial de Canudos está submerso nas águas do açude de Cocorobó. Outra região do sertão baiano também 'virou mar': No vale do rio São Francisco foi construída a imensa barragem de Sobradinho e deixou submersas várias cidades.
"Um
problema comercial acerca de uma compra de madeira na cidade de Juazeiro deu
motivo para que uma tropa de soldados da polícia baiana investisse contra os
seguidores de Conselheiro em novembro de 1896.
A derrota dos
policiais deu início a um conflito que ficou conhecido como Guerra de Canudos,
que assumiu enormes proporções. Mobilizaram-se tropas do exército em três ou
quatro expedições militares que, enfrentando enorme resistência da
população de Canudos, promoveram um massacre no arraial. O confronto estendeu-se
até 5 de outubro de 1897, quando o exército tomou definitivamente o arraial com
5 mil soldados. Segundo relatos do livro "OS Sertões" de Euclides da
Cunha, no penúltimo capítulo ("Canudos Não Se Rendeu"), os últimos a
se renderem foram 4 sertanejos: "1 velho; 2 homens feitos e 1 criança, na
frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados".
Antônio Conselheiro
já havia morrido, não se sabe exatamente como". Seu corpo foi levado para
exames antropométricos do crânio pelo Dr. Nina Rodrigues e ficou
para estudos médicos por 8 anos. Em 03 de março de 1905 um incêndio
na Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesús, em Salvador, Bahia, destruiu a
cabeça de Antonio Conselheiro que ali estava desde outubro de 1897,
final definitivo de Canudos.
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