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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Vamos revê-lo? Os Labirintos de Lampião Parte II

Por Alcino Costa

Conforme prometi aqui estou para discorrer sobre alguns dos famosos mistérios e extraordinárias mentiras de Angico. Os mistérios e as mentiras que perduram até os dias atuais e que foram perpetuadas como verdades intocáveis, acreditadas e defendidas por muitos.
Eis alguns mistérios e famosas mentiras.

1 – O antigo cangaceiro Candeeiro, num seminário realizado na cidade de Canindé de São Francisco, em Sergipe, afirmou que quando Lampião estava no Estado de Alagoas, antes de atravessar para Sergipe e se homiziar em Angico, reuniu seu grupo e avisou que iria realizar uma longa viagem; dizendo que qualquer um de seus comandados ficasse à vontade para decidir se o acompanharia ou não.
Que viagem era essa? Para onde?

2 – No livro “Assim morreu Lampião”, página 101, o irmão de Pedro de Cândido – Durval – disse que na terça-feira à noite levou dois sacos de balas para Lampião que João Bezerra mandava, e ainda, afirmou categoricamente que Lampião ficou um longo tempo, afastado do bando, em uma conversa sigilosa com Pedro de Cândido. “Muito novo, com uns 18 anos, num conhecia nada disso i o Pedro palestrou muito com Lampião. Até de madrugada” – asseverou convicto Durval Rodrigues Rosa que prosseguiu em seu depoimento dizendo: “Os dois. Dentro do mato. Us cangaceiros tudo calmo”.

“Elis cunversaram, i dispois si dispidiram” – ainda testemunhou Durval.

Estas afirmações são verdadeiras? Se forem como é que fica a história? 

É inacreditável que um comandante militar cometesse a loucura de municiar um homem como Lampião para depois ir cercá-lo e com ele e seu bando ser travado um combate mortal.

O que é que você, meu querido estudioso e apaixonado pela saga cangaço e Lampião, tem a dizer sobre esta afirmativa? O que os historiadores têm a comentar sobre este depoimento de Durval?
 
3 – No livro de João Bezerra, páginas 204 e 207, quando da viagem da volante de Pedra (Delmiro) para Piranhas, na quarta-feira pela manhã, o famoso comandante diz que: “estávamos consertando os nossos planos quando me chegou um coiteiro que eu já esperava – atentem bem para este: “eu já esperava” – trazendo outras notícias das zonas suspeitas que coincidiam perfeitamente com o que sabíamos. Assim juntou-se a sopa no mel...”

...E finalmente, que ele lhe perguntara (a ele coiteiro que esteve pouco antes no meio do grupo)...

Ora, na minha visão estes testemunhos contidos nos livros de Amaury e de João Bezerra, estão envoltos num tremendo mistério. Se Pedro na terça-feira conversou por longas horas, dentro do mato, com Lampião, e na quarta-feira um coiteiro – “que eu já esperava”, diz o tenente – esteve com ele no trajeto Pedra/Piranhas, e que, ainda mais, o comandante afirma: “a ele coiteiro que esteve pouco antes no meio do grupo”, este coiteiro não há dúvida de que era o mesmo que na terça-feira à noite havia trocado confidências com o rei dos cangaceiros, ou seja, Pedro de Cândido.

E porque João Bezerra diz que “assim deu a sopa no mel”, se na terça-feira à noite ele havia enviado pelo próprio Pedro dois sacos com balas? Por que o tenente municiou Lampião para depois ir cercá-lo e atacá-lo?
Quem era na verdade este coiteiro?

4 - Se foi Pedro o coiteiro que teve o encontro com o tenente Bezerra entre Pedra e Piranhas, porque na noite da quarta-feira, quando a volante estava na fazenda Remanso, o tenente mandou que os soldados Bida e Elias fossem buscá-lo em sua casa em Entre Montes: E porque o famoso coiteiro desdenhou a intimação da famosa autoridade, num tempo em que todos os sertanejos morriam de pavor perante uma ordem de qualquer militar, em especial de um comandante de volante? E qual a ascendência que Pedro tinha sobre João Bezerra para não atender o seu chamado? E mais misterioso ainda é que na segunda tentativa dos dois soldados em levá-lo até onde o tenente estava, aconteceu um fato incrível e que os historiadores nunca atentaram para ele. É que em vez, como era de se esperar e não podia ser diferente, do intimado ser escoltado pelos militares, ele viajou por terra, acompanhado apenas por Bida, um veterano soldado, amigo da família Rosa, e que havia destacado por muito tempo ali mesmo em Entre Montes. É incompreensível que Elias tenha retornado na canoa, separado do colega, enquanto este e aquele caminhavam sozinhos, na calada da noite, conversando sigilosamente por uma estradinha. Conversando o quê? Qual o assunto entre um soldado e um coiteiro que o seu companheiro de farda e de missão não podia participar? E olhem que se comentava abertamente que Pedro de Cândido era a ponte segura e confiável que ligava Lampião ao tenente João Bezerra.

Se Pedro de Cândido esteve na terça à noite com Lampião; na quarta pela manhã com João Bezerra, com o tenente sabendo que ele estivera no coito, qual o imperioso motivo que João Bezerra tinha com aquele tão importante coiteiro para mandar buscá-lo altas horas da noite em sua residência em Entre Montes? E porque armar um escarcéu, uma farsa, fingindo obrigá-lo a dizer onde estava Lampião, se ele (Bezerra) sabia, pelo próprio coiteiro, que o grande cangaceiro estava no outro lado do rio?

Vamos lá, senhores historiadores, digam o que vocês pensam dessa história? Ela realmente aconteceu? Ela é mais uma das deslavadas mentiras que cercam a Grota de Angico?

5 - Se o mosquetão que foi mostrado ao Brasil e ao mundo como o de Lampião é falso, não era aquele que consta do inventário dos bens do rei dos cangaceiros, como é que fica a história? E olhem que esta afirmativa obedece ao criterioso estudo de um dos maiores estudiosos do cangaço, o famoso historiador Frederico Pernambucano de Melo.

Se esta arma apresentada como a de Lampião era falsa, como é que fica a história da Grota de Angico? Qual a prova que possa indicar o que foi feito do mosquetão verdadeiro? E porque um falso mosquetão foi apresentado no meio dos pertences do grande chefe cangaceiro? Aquilo de se dizer: “eu penso”, “eu acho”, não vale e não convence ninguém. Onde está o verdadeiro mosquetão de Lampião?

Eu sei! Aqueles que fazem questão de preservar – não se sabe o real motivo – as mentiras e mistérios de Angico irão arrumar qualquer desculpa. E essa desculpa será prazerosamente aceita. Você é um desses que irão aceitar qualquer desculpa?

E o chapéu de Lampião? Existe uma versão de que não é aquele que aparece nas fotos. Você quer detalhe sobre se este chapéu é o verdadeiro ou não entre em contato como o respeitabilíssimo Dr. Ivanildo Silveira, do Rio Grande do Norte.

6 – E o dinheiro de Lampião? Quem o achou? Quem ficou com ele? Quanto era? Nada de concreto existe. Não se conhece nenhuma prova convincente de que este ou aquele soldado achou ou ficou com o dinheiro de Lampião.

Sobre o cerco, o combate e os que morreram não é preciso nem se falar. Em meu livro “Lampião além da versão” eu já discorri tudo de estranho que ali aconteceu.Todavia, não posso deixar de registrar o meu aborrecimento em saber que muitos imaginam, e outros dizem para me chatear, que eu digo que Lampião não morreu em Angico. Eu não sou louco para dizer tal barbaridade. Se dissesse tal coisa era porque eu tinha condições absolutas para fazer tão séria afirmativa.No entanto, o que eu posso afirmar com total convicção é que a história da chacina de Angico, aquela registrada nos livros; bem como os testemunhos dos que ali estavam são tão conflitantes que se chega a terrível conclusão de que nem uma criança de oito anos tem o direito de acreditar em tantas contradições dos envolvidos na trama daquele riacho.É de se estranhar e de se lamentar que muitos pesquisadores sérios, cuidadosos, e de enorme responsabilidade, foram vencidos por um estranho sentimento de perpetuação de tais absurdos que maculam uma história tão fascinante; assim deixando que as mentiras e os mistérios de Angico se tornassem verdades absolutas e sem direito à correção do que ali realmente aconteceu.
É uma pena!

Alcino Alves Costa
Poço Redondo SE

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2010/06/os-labirintos-de-lampiao-parte-ii-por.html

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