Por JOSÉ ROMERO DE
A. CARDOSO
Fez-se chefe
de Cangaço devido a intrigas com a família Limão, protegida por influentes
potentados rurais das províncias do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Mello
(1985, p. 92) afirma que "seus principais biógrafos são unânimes em
reconhecer-lhe o caráter reto e justiceiro".
Jesuíno
Brilhante agiu no semi-árido paraibano e potiguar, quando a instituição do
escravismo ainda vicejava de forma proeminente, refletindo as exigências da
classe dominante em fazer valer seus interesses em detrimento de valores
humanos.
Arma original de Jesuíno Brilhante
O cangeceiro
transformou-se em ´Robin Hood´, intervindo em prol dos humildes em diversas
oportunidades, com ênfase quando da grande seca de 1877-1879, atacando comboios
de víveres enviados pelo governo imperial, distribuindo-os com famintos e
desvalidos dos sertões ermos e esquecidos.
Mello (id.;
ibid.) afirma ainda que "como principais asseclas podem ser mencionados
seus irmãos Lúcio e João, seu cunhado Joaquim Monteiro e mais os cabras Manuel
Lucas de Melo, o Pintadinho; Antônio Félix, o Canabrava; Raimundo Ângelo, o
Latada; Manuel de Tal, o Cachimbinho; José Rodrigues, Antônio do Ó, Benício,
Apolônio, João Severiano, o Delegado; José Pereira, o Gato; e José Antônio, o
Padre."
Entre as mais
fantásticas de suas ações encontram-se o ataque à cadeia de Pombal, na Paraíba,
no ano de 1874, e a resistência à prisão em Martins, Rio Grande do Norte, em
1876.
Embora tenha
feito várias alianças com chefes políticos, a exemplo da firmada com o
comandante João Dantas de Oliveira, a fim de que houvesse condições de atacar a
cadeia de Pombal, intuindo libertar o irmão e o pai, que ali se encontravam
prisioneiros, Jesuíno se indispôs com o mandonismo local devido à sua ética.
A negativa em
assassinar o eminente professor Juvêncio Vulpis Alba, em Pombal, rendeu-lhe a
inimizade com o todo poderoso João Dantas, o que resultou em conluio deste com
o Preto Limão, para que o vingador sertanejo fosse assassinado.
Jesuíno morreu
de emboscada no Riacho dos Porcos, em Belém do Brejo do Cruz, na Paraíba, no
final da seca de 1879, atingido por carga de bacamarte disparada pelo visceral
inimigo Preto Limão.
BIBLIOGRAFIA
JASMIN, Élise,
Cangaceiros, Ed. Terceiro Nome, São Paulo, 2006
MELLO,
Frederico Pernambucano de., Guerreiros do Sol - O banditismo no nordeste
brasileiro, Ed. Massangana, Recife, 1985
NONATO,
Raimundo, Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico, Fund. Vingt-un Rosado,
Mossoró, 2000
Fonte: Diário do Nordeste - 4/2/2007
"O
Cangaceiro Romântico"
Jesuíno
Brilhante nasceu em Patu (Rio Grande do Norte), no sítio Tuiuiú, em 1844.
Filho da aristocracia rural sertaneja. Em 1871 entrou no cangaço por vingança,
após um irmão dele ter sofrido uma surra nas ruas da cidade e uma cabra de sua
fazenda ter sido roubada. O seu cangaço difere do de outros bandoleiros que
povoam a memória popular nordestina como Virgulino Ferreira - mais conhecido
como Lampião - e Antônio Silvino, pois Jesuíno implantou à sua maneira um
sistema de "justiça" em uma terra onde reinava a lei do mais forte e
não fez desta atividade uma profissão.
O fenômeno do
cangaço pode ser classificado de três formas: o cangaço por vingança,
como profissão e por refúgio. Assim como Lampião, Jesuíno é um dos principais
exemplos de cangaço por vingança, cuja existência se justifica pela total
ausência do exercício da justiça por parte do Estado. Jesuíno se diferencia dos
demais cangaceiros por ter procurado intervir em questões sociais como a
distribuição para as pessoas necessitadas dos gêneros alimentícios destinados a
combater as secas, que subtraía dos coronéis saqueando os comboios de alimentos
que eram enviados pelo Governo para as vítimas das secas, mas que ficavam nas
mãos dos poderosos e nunca chegavam à população.
Jesuíno também
se destacou por intervir em situações de violência sexual contra as mulheres
uma década antes do reconhecimento legal do crime de estupro. Famílias inteiras
chegaram a fazer parte do seu bando como estratégia de sobrevivência. De 1871 a
1879, implantou um "Estado paralelo" nos sertões nordestinos, cujo
eixo central era a região do Patu e cuja principal fortaleza a chamada
Casa de Pedra (caverna encravada na Serra do Lima). Vários autores escreveram
sobre Jesuíno, entre eles Luis da Câmara Cascudo, Gustavo Barroso, Ariano
Suassuna e Raimundo Nonato.
Este último é
autor de Jesuíno Brilhante, O Cangaceiro Romântico, que narra a inteira epopéia
do bandoleiro. Para Câmara Cascudo, ele "foi o cangaceiro gentil-homem, o
bandoleiro romântico, espécie matuta de Robin Hood, adorado pela população
pobre, defensor dos fracos, dos velhos oprimidos, das moças ultrajadas, das
crianças agredidas (...) Baixo, espadaúdo, ruivo, de olhos azuis, meio fanhoso,
ficava tartamudo quando zangado. Homem claro, desempenado, atirador
incomparável de pistola, jogava bem a faca e sua força física garantia-lhe
sucesso na hora do "corpo a corpo". Era ainda bom nadador, vaqueiro
afamado, derrubador e laçador de gado. Sua pontaria infalível causava assombro,
especialmente porque Jesuíno,atirava com qualquer das mãos, era ambidestro. Casou
com D. Maria, tendo cinco filhos dessa união. Envolvido com uma questão de
família, Jesuíno matou o negro Honorato Limão, no dia 25 de dezembro de 1871.
Foi sua primeira vítima. Como lembra Tarcísio Medeiros, era "irredutível
em questão de honra". O autor, em seguida, cita um texto de Raimundo
Nonato, que narra um episódio, onde Jesuíno Brilhante se hospedou em uma casa.
O marido estava ausente. Um bandido, de nome Montezuma, procurou se aproveitar
da situação para perseguir a proprietária da casa. Jesuíno, revoltado, matou o
malfeitor.
Outro caso:
assassinou um escravo, José, porque tentou violentar uma mulher. Segundo
Cascudo, "ficaram famosos os assaltos à cadeia de Pombal (PB) para
libertar seu irmão Lucas (1874) e, no ano de 1876, à cidade de Martins (RN).
Cercado pela polícia local, Jesuíno e seus dez companheiros abriram passagem
através de casas, rompendo as paredes, cantando a antiga "Corujinha".
Câmara Cascudo afirma ainda que Jesuíno "nunca exigiu dinheiro ou matou
para roubar".
A imaginação
popular acrescentou à biografia do cangaceiro centenas de batalhas, das quais
Jesuíno Brilhante teria participado sem que tivesse levado um só tiro... Em
dezembro de 1879, na região das Águas do Riacho de Porcos, Brejos da Cruz, na
Paraíba, Jesuíno foi atingido no braço e no peito, sendo levado, agonizante,
por seus amigos. Morreu no lugar chamado "Palha", onde foi sepultado.
Entre as principais ações de Jesuíno, narradas no livro de Raimundo Nonato,
encontram-se o saque à Cadeia Pública de Pombal (Paraíba), em 1874, e a invasão
à cidade de Imperatriz (hoje Martins, no Rio Grande do Norte) para resgatar uma
moça raptada pelo filho de um fazendeiro.
A literatura
sobre o "Cangaceiro Romântico" inspirou o cineasta carioca
William Cobert que, em 1972, dirigiu o primeiro longa-metragem potiguar:
Jesuíno o Cangaceiro. As armas utilizadas na produção foram cedidas pela
Polícia Militar do Rio Grande do Norte. Mossoró e o Vale do Assú serviram de
cenário para o filme. Em 1879, Jesuíno foi vítima da emboscada de uma
milícia liderada por Preto Limão, seu algoz, sob encomenda do coronel João
Dantas, após ter sido traído por um seleiro nas margens do Riacho dos Porcos,
na comunidade Palha no sopé da Serra de João do Vale, no município de São José
do Brejo do Cruz (Paraíba), antigamente São José dos Cacetes. Seus restos
mortais foram resgatados pelo médico Almeida Castro e durante várias décadas
estiveram expostos no Colégio Diocesano em Mossoró, para depois fazer parte do
acervo museológico do alienista Juliano Moreira, no Rio de Janeiro. Hoje,
encontram-se perdidos.
Texto de:
Frederico de Mello - Pesquisa: Edvaldo Morais.
http://logradouronoticias.blogspot.com.br/2011/04/quem-foi-o-cangaceiro-jesuino-retratado.html
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