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domingo, 7 de dezembro de 2014

cangaço III

Por Antonio Morais

Infância

Aos cinco anos, Virgulino foi morar com o tio Manuel Lopes, na casa da avò materna Dona Jacosa, no sítio “Poço do Negro”, nas adjacências da vila de Nazaré. Aos dez anos, frequentou a escola, apenas três meses. O tio, para poupar aos aborrecimentos e as queixas, mandou-o de volta.

Dona Jacosa avó materna de Lampião

Naqueles idos, grupos de cangaceiros cruzavam aquela gleba sertaneja, zombando da polícia. Tiroteios, escaramuças e estórias de façanhas arrebatadoras, narradas e cantadas nas feiras, empolgavam a criançada. Eram seus heróis Antonio Silvino, Cassimiro Honório, Né Pereira e Antonio Quelé. Não escapara aos filhos do Ferreira tal influência. 


Dos nove aos doze anos, tinha Virgulino, como esporte favorito, o hábito de organizar grupos de meninos armados a bodoque e passavam as tardes inteiras brigando nas mesmas condições táticas e estratégicas das usadas pelos afamados guerrilheiros. A ação do meio social, nas criaturas incultas, aprofunda-se, forjando-as conforme a receptividade individual. Conta-se que Virgulino, aos treze anos, recitou, numa festa, o verso, julgado de sua autoria, colocando-se entres os grandes:

Cassimiro no navio
Né Pereira em Pajeú
Virgulino e Silvino
Gostam assado e comem cru.

Naquele instante, desabrochava um cangaceiro, carecia apenas de motivação. Criado pela avó, faltava-lhe as coerções necessárias a formação, que só os pais sabem dar. “A criança vaidosa em excesso, gosta de mandar e deseja o predomínio". Se, acaso, protege um ser mais fraco, é para sobrepujá-lo em seguida. Prefere o mal ao bem, porque o mal satisfaz melhor a sua vaidade e emoção. É o anseio de emoções que a torna cruel.

CONTINUA...

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