Por Rôney Rodrigues
Beato Zé Lourenço
Uma comunidade
religiosa, liderada por um “beato” é brutalmente massacrada. Estamos falando de
Canudos? Não, trata-se de Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, localizada no
município de Crato (Brasil), Cariri Cearense.
A comunidade –
que chegou a ter mais de duas mil pessoas – era liderada pelo beato José
Lourenço, descendente de negros alforriados e discípulo de Padre Cícero, que
ousou desafiar o poder dos latifundiários. Ele propôs um sistema de trabalho
coletivo e divisão dos lucros para a compra de remédios e querosene, que
alimentava as lamparinas em um tempo em que ainda não havia luz elétrica. Além
disso, acolhia os flagelados da seca de 1932, que assolou o Nordeste.
O massacre
Isso, claro,
incomodou os coronéis da região, que exigiram providências do governo Getúlio
Vargas. Havia o medo que o beato José Lourenço se transformasse em um novo
Antônio Conselheiro. Os jornais, então, iniciaram uma série de denúncias contra
a comunidade, acusando-os de profanos e fanáticos. Em 1936, o
Caldeirão foi invadido pelas tropas do tenente José Góis de Campos Barros que,
com muita violência e excesso, expulsaram todos os moradores, saquearam e
destruíram o sítio. José Lourenço conseguiu fugir, se refugiando na Serra do
Araripe com outros camponeses.
Severino
Tavares, membro da comunidade, foi preso, mas jurou vingança. Dito e feito:
quando saiu da prisão, juntou alguns ex-moradores do Caldeirão e atacou as
tropas comandadas pelo capitão José Bezerra. Isso foi o estopim para o
conflito. Em 1937, tropas de todo o Estado foram enviadas para a serra do
Araripe e até aviões foram usados para bombardear a Serra. O número de mortos é
estimado entre 700 a 1000 camponeses.
José Lourenço
conseguiu escapar do bombardeio e, após muitas negociações, voltou para o Caldeirão.
Mas não ficou muito tempo, os padres salesianos o expulsaram e ele foi morar em
Exu, Pernambuco (Brasil), onde faleceu em 1946, vítima da peste bubônica.
http://super.abril.com.br/blogs/historia-sem-fim/o-massacre-de-caldeirao-de-santa-cruz-do-deserto/
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