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sábado, 12 de setembro de 2015

O FAMOSO NAZARENO "Cel. MANOEL NETO" (Série grandes artigos) SINOPSE DA VIDA DESSE BRAVO POLICIAL NAZARENO – PARTE I


Antônio Mendes de Sá morava na beira do rio São Francisco quando, em 1865, viu-se envolvido na intriga que se chamou de questão do Sabiucá (v. Gomes de Sá, N 12). Acabou sangrado, depois que foi arrancado para fora da prisão, pelos inimigos. Dos seus filhos, Ana (Aninha “Braba”) casou-se com Cazuzinha “do Roque” (MOM, B 9) e lhe deu a neta Maria.

Maria casou-se com Gregório Nogueira do Nascimento, conhecido por Gregório Flor por ser filho de Florência Filismina de Sá (Flor) e de Manoel de Souza Ferraz (Manezinho - JSF, Tn 18). O casal deixou oito filhos: Auta, Amerina e Filomena; Alonso, Afonso, Ancilon, Arconso de Souza Ferraz e Manuel de Souza Neto.

Manuel de Souza Neto nasceu nas terras da antiga fazenda Algodões, município de Floresta, no dia 1º de novembro de 1901. Cresceu ao lado dos parentes, os “nazarezistas”. Ao lado deles, se engajaria numa luta ingrata, dura, heróica. Virgulino Ferreira da Silva - o futuro Lampião - ali chegara muito cedo, instalando-se com a família na fazenda Poço do Negro, nas imediações de Nazaré, e logo se indispôs com os filhos da terra, fazendo uma história já conhecida e que levou luto a muita gente da região.

Em 1921, o primeiro filho de Nazaré seguiu com destino ao Recife para ingressar na polícia: Arconso de Souza Ferraz deixou seu emprego em loja para se tornar militar. Outros seguiriam seus passos.

Diz Marilourdes Ferraz (O Canto do Acauã, p. 141) que, em 1922, “Manuel de Souza Neto partiu da casa do seu tio João Flor, ao lado do comerciante Adão Feitosa, para Rio Branco (atual Arcoverde), a fim de comercializar peles de bode. A viagem foi extenuante, feita a pé e parte a cavalo mas, ainda assim, por iniciativa própria, prolongou seu itinerário até a capital para efetuar alistamento, seguindo o exemplo do seu irmão Arconso.”

Estava destinado a ser um dos mais valorosos combatentes do cangaço. Com 21 anos de idade incompletos, engajava-se com coragem numa luta que duraria pelo menos 16 anos. E logo se destacaria por sua bravura.

Em janeiro de 1924, Manuel Neto foi um dos soldados que mais se fizeram notar, sob o comando do sargento Higino José Belarmino, nas lutas travadas contra o grupo de Lampião e em defesa de Clementino Quelé, que vira seu distrito de Santa Cruz, em Triunfo, ser atacado violentamente. No dia 5, o jovem soldado avançou correndo de Triunfo até aquele local, onde Virgulino procurava liquidar o antigo companheiro Quelé. Seis dias depois (dia 11), entrava novamente em choque com o grupo de bandidos, forçando-os a deixar o Estado de Pernambuco e fugir para a Paraíba.

Um ano depois (fevereiro), ao lado de uma força volante composta de civis, procurava descobrir o paradeiro de Lampião. Tomara conhecimento da presença do bando na região de Betânia. Encontrou a força sob o comando do sargento José Leal, seguindo todos na direção da Cachoeira dos Galdinos. Ali estavam os cangaceiros. A força se compunha de pouco mais de vinte homens; os bandidos, trinta e tantos. Avistados os cangaceiros, foram descobertos, iniciando-se o tiroteio. Batalha duríssima, com resistência tenaz. No auge da luta, o sargento José Leal e o soldado João Preto abandonaram o campo da luta. Manuel Neto assumiu, nessa ocasião, pela primeira vez - segundo João Gomes de Lira -, um comando na campanha contra o banditismo.

Ao seu lado, secundando-o, os primos Euclides e Manoel Flor. A luta durou cerca de três horas, terminando com a fuga dos bandidos que levaram um morto e três feridos. A força nada sofreu.

Foi nesse ano de 1925 que Manuel Neto foi promovido a anspeçada. Junto com Manoel Teotônio, no lugar Malhada do Boi - entre Betânia e São Caetano (Navio) -, eliminara o cangaceiro Luiz Cazuza.

Em junho ou julho de 1925, o anspeçada, ao lado, entre outros, dos parentes David Gomes Jurubeba, Hercílio de Souza Nogueira, Antônio Capistrano de Souza e João Domingos Ferraz, sob o comando do tenente Higino, partiu em reforço à força paraibana que lutava, quase sem munição, contra o grupo de Lampião no lugar Tenório. Já se brigava havia várias horas. Com os tiros disparados pelos pernambucanos, os bandidos correram. Diz Marilourdes Ferraz que aí tombou morto Levino Ferreira. Frederico Maciel (Lampião, seu tempo e seu reinado, v. II, p. 171), entretanto, diz que o irmão de Lampião morreu num tiroteio da véspera, na Baixa do Juá, atingido por um tiro do soldado José Inácio Morais.

O COMBATE DA CARAÍBA:

Era o dia 4 de fevereiro de 1926. As forças sob o comando de Higino Belarmino seguiam a pista de Lampião que, da fazenda Volta, no Navio, município de Floresta, escrevera diversas cartas pedindo dinheiro a moradores da região.

Daí seguiu e, na Caraíba, sabendo que a força vinha em sua perseguição, montou uma grande emboscada com seus 35 a 40 homens. Distribuiu estrategicamente os companheiros, conforme conta Manoel Flor (O Canto do Acauã, p. 213):

“Os cangaceiros estavam bem apoiados em lugares seguros e distribuídos vantajosamente, dispostos em três posições. O primeiro grupo de adversários estava à margem esquerda do riacho, num serrote; o segundo, à frente do primeiro, na margem oposta, apoiado na ribanceira do riacho; o terceiro, em barrancos e valetas naturais”.

A posição permitia que a força fosse alvejada com três frentes de fogo e os bandidos, situados nos barrancos e ribanceiras, “apesar de estarem entre o fogo dos companheiros e da força, não eram atingidos pois sua posição os resguardava bem.”

A força de 34 ou 35 homens foi colhida de surpresa. Seguiu-se um dos mais ferozes combates travados em toda história do banditismo nordestino. Os mais traquejados, acostumados a liderar tropas, tomaram decisões individualmente. Manuel Neto seguiu pelo lado esquerdo, em busca dos cangaceiros entrincheirados no serrote.

Aproximou-se de tal forma que teve o braço direito varado por uma bala dos bandidos. Escapou “quase milagrosamente com seus homens, apesar de servir como alvo para os bandidos do primeiro e do segundo grupos”. Foi retirado para Betânia pelos companheiros Pedro Tomás de Souza Nogueira, João Jurubeba de Sá Nogueira, soldado Jacobina e outros.

Vendo Manuel Neto ferido, os bandidos saltaram para fora das trincheiras dispostos a eliminar o inimigo. Foram várias vezes bravamente repelidos.

Conta João Gomes de Lira (Lampião: Memórias de um soldado de volante, p. 249) que, em Betânia (então distrito de Floresta), “por não existir medicamento nem farmacêutico, foi Manuel Neto medicado pelo curandeiro Manoel Jerônimo (v. MOM, B 86). Contudo, Manuel Neto ainda criou bicho no ferimento. Ele mesmo puxava as filapas (sic) de osso do ferimento.”

Dias depois, foi transportado de Betânia para Flores, onde submeteu-se a rigoroso tratamento.

O combate da Caraíba durou cerca de 7 horas e a tropa enfrentou desesperada os bandidos. Conta Lira que Higino, já baleado e vendo a falta de ânimo da força, procurou retirar-se da linha de fogo. David Gomes Jurubeba, vendo isso, teria gritado:

- “Tenente Higino, não abandone a tropa. Seja homem que eu sou homem e só sou comandado por homem. Bota galão no ombro quem é homem. Não tente retirar-se da linha de frente. Se isto fizer, atiro-lhe pelas costas!”

Higino - um dos mais bravos oficiais que se engajaram na luta contra o banditismo -, mesmo ferido, teria respondido:

- “David, agora se morre até o último homem mas não se corre. Vamos agora morrer todos, como homens, no campo da luta!”

No cair da tarde, Lampião retirou-se. Perdera cinco homens; a força três: os soldados Aristides Panta da Silva, Benedito Bezerra de Vasconcelos e Antônio Benedito Mendes. Foram feridos, além do anspeçada Manuel Neto e tenente Higino, o rastejador Antônio Joaquim dos Santos (Batoque), com a perna fraturada, Altino Gomes de Sá (v. GS, Tn 196), João Pereira dos Santos, João Pinheiro Costa e João Cavalcanti (mais tarde morto no combate de Maranduba/SE).

A CHACINA DA TAPERA:

Horácio Cavalcanti de Albuquerque, filho de Manoel Cavalcanti de Albuquerque (Dé - AFN, Ttn 84), nasceu em 23.08.1891. Foi, na vila de Floresta, aluno do velho professor Trindade, em 1901. Fortunato de Sá Gominho (Siato), seu colega de escola, recordou: “tivemos a oportunidade de nos submeter por mais de uma vez às boas sabatinas, com perguntas e respostas recíprocas e com palmatórias em nossas mãos, nos dias de sexta-feira. Enquanto eu, felizmente, sempre consegui sair das mesmas vitorioso, plenamente livre da palmatória indesejável, Horácio tinha grandes e boas mãos que bem suportavam a ação da festejada palmatória”.

Membro de uma das mais tradicionais, ilustres e honradas famílias de Floresta, Horácio foi, entretanto, uma ovelha desgarrada.

Denunciado como implicado em furtos de animais, foi, segundo Billy Jaynes Chandler (Lampião, o rei dos cangaceiros, p. 92), “condenado ‘in absentia’, no meado de 1925”. Passou a integrar o grupo de Lampião.

Diz Chandler: “Este acontecimento iria trazer terríveis conseqüências para a família Gilo, de Floresta, pois um de seus membros, Manoel, estava entre os que tinham acusado Horácio de roubo de cavalos. Pouco antes do seu julgamento, Horácio e 2 cangaceiros apareceram uma madrugada na fazenda Tapera, em Floresta, onde moravam os Gilo, e, depois de acordar todos que lá estavam, procuraram por Manoel por toda a casa, dizendo que iam matá-lo. Não o encontrando, ameaçaram matar seu pai, Donato, mas foram embora sem o fazer.”

Horácio tramou então uma das mais sangrentas chacinas verificadas naqueles tempos. É ainda Billy Chandler quem diz que chegou às mãos de Lampião uma carta, feita “como se fosse pelos Gilo, mas escrita pela mulher de Horácio”. Não só insultava como punha em dúvida a coragem do bandido. Aquilo era demais para Virgulino.

Sentindo-se ameaçado, Manoel de Gilo, temeroso, levou sua inquietação ao conhecimento do capitão Muniz de Farias, comandante de uma grande força volante estacionada em Floresta. Esclarece João Gomes de Lira (obra citada, p. 317) que o capitão aconselhou a Manoel de Gilo, “junto a toda a família, armarem-se na fazenda Tapera e aguardarem a vinda dos bandidos.” Assim, no momento de um ataque, “podia ficar Manoel de Gilo despreocupado, pois a Força daria retaguarda.” E Manoel voltou tranqüilo a sua fazenda.

Na madrugada de um sábado, dia 28 de agosto de 1926 (alguns autores, erradamente, indicam esse dia como sendo 26 de agosto), ainda turva a noite, “a barra ainda longe”, Lampião iniciou a execução do seu plano para massacrar os moradores da Tapera. Ao seu lado, Horácio Cavalcanti de Albuquerque. Batem à porta dos vizinhos de Gilo, prendendo todos.

Amarradas as mãos atrás das costas, foram conduzidos a uma quixabeira que ficava perto da casa, sendo ali vigiados severamente.


CONTINUREMOS AMANHÃ...

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Olá, boa noite. Parabéns !! Quero dar os meus parabéns pelo blog ter feito matéria sobre esse homem valentíssimo e lendário, mas tão pouco falado com detalhes em sites e blogs sobre o cangaço. Dizem que foi o mais valnete de todos. Também sou grande admirador do soldado Luiz romão, que foi soldado de Manoel Neto. Parece uqe a valentia de um inspirava a do outro.
    Enfim, peço encarecidamente informações sobre como posso entrar em contato com algum familiar do tenente, sou doido para ouvir suas histórias.
    Meu email é luciosatiro@yahoo.com.br
    Estou no aguardo. E parabéns. Postem logo a parte 2

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