Por Lailson Feitosa
O livro de
Firmino Holanda intitulado Benjamim Abrahão, publicado no ano 2000 pela
Fundação Demócrito Rocha foi mais uma edição de um fantástico trabalho
integrante da Coleção Terra Bárbara. Sua introdução – Um náufrago no Sertão o
autor aborda a sagacidade do homem aventureiro, sagaz, que busca em outras
plagas as satisfações para a vida. Neste ínterim, Firmino Holanda cita um
exemplo de um compatriota do biografado, naufrago que se casaria com uma índia
amazônica, tornando-o cacique da referida aldeia, uma alusão à destreza de lhe
dar com condições adversas.
Benjamim
Abrahão, de forma parecida, porém desembarca sem maiores sustos em Pernambuco,
após alguns anos em Recife, tem a cidade de Fortaleza o início de sua jornada
pelo Sertão Cearense. Focado nas técnicas de fotografias e filmagens, novidade
tecnológica do século XX, o Sírio-libanês partirá sertão adentro em busca de
seus objetivos. Nesta empreita, acaba envolvido com dois personagens singulares
que desenharia o Nordeste brasileiro para sempre, o líder religioso Padre
Cícero Romão Batista, e o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.
1º Capítulo:
Mascate “Árabe” na Meca nordestina
No capítulo
inaugural temos, basicamente, um retrospecto dos primeiros momentos políticos,
sociais, econômicos e culturais, em curso, no primitivo Juazeiro. O autor
desenha em prosa as conjecturas estruturais daquele período que coincide com a
chegada do mascate, sírio-libanês, Benjamim Abrahão a terra do Pe. Cícero. Ou
seja, ele chega em um tempo de muitas agitações, cujo Lugar crescia e se
desenvolvia rapidamente em virtude dos desdobramentos dos fatos extraordinários
acorridos a partir de 1889 quando a Beata Maria de Araújo protagoniza o milagre
eucarístico numa missa celebrada pelo Padre Cícero.
O autor,
ainda, salienta que não foram apenas os fatores religiosos ou místicos que
atraiam adventícios para aquele reduto em ascensão, mas também, pessoas ambicionadas
pelas riquezas naturais da região do Cariri, cuja funções administrativas
recaiam ao nobre reverendo. Foi neste outro contexto que em 1908, dois
aventureiros provenientes do estado da Bahia, o médico Floro Bartolomeu da
Costa e seu companheiro, francês, Adolfo Van Den Brule que se identificou como
conde, e, ambos pretensos exploradores das minas de cobre do Coxá. De imediato
pedem guarida ao padre Cícero Romão Batista e permissão para suas pretensões
exploratórias.
Alencar
Peixoto e Dr Floro
Contudo, esta
aproximação de Dr. Floro Bartolomeu, lhe renderiam muito mais o que prometiam
com os recursos minerais da região do Cariri, pois Firmino Holanda faz um
levantamento, coeso, em apenas um parágrafo sobre a evolução político social do
médico baiano em Juazeiro. De um viajante errante, a deputado federal, além de
se tornar peça chave de três eventos importantes para a história do Estado do
Ceará e da cidade de Juazeiro. Dr. Floro Bartolomeu da Costa, foi à força no
desenrolar dos fatos que culminaram na pacificação dos coronéis da região
(Pacto dos coronéis), da emancipação política do Juazeiro e do destaque
político do reverendo como primeiro prefeito do novíssimo município assim como
a nobre vice-presidência estadual.
Foi, também,
neste ambiente que chega ao Juazeiro, proveniente de Recife, o Sírio Libanês
Benjamim Abrahão, cujo nome verdadeiro seria Jamil Ibrahim. Naquela primeira
paragem, Jamil Ibrahim, era apenas um adolescente com pouco mais de 15 anos de
idade e teria aportado em Recife em 1913 ou 1916, o autor não sabe ao certo,
porém, afirma com certeza aquele jovem garoto era bastante resoluto, pois já
comercializava tecidos e alimentos montado a cavalo.
Foi com essa
mesma altives que o Sírio-libanês, por volta de 1920, chegaria à terra da Mãe
da Mãe das Dores, e segundo o próprio adventício trazia consigo uma carta de
recomendação de um amigo do padre Cícero residente em Recife. Firmino Holanda
faz uma citação do Padre Azarias Sobreira quanto ao seu aspecto jovial ao
chegar a Juazeiro, dizendo-o que ele, Benjamim Abrahão, mal saíra da
adolescência. Portanto, até aqui percebemos que o visitante era bastante jovem
ao chegar à crescente Juazeiro.
Ao se
encontrar com Padre Cícero, este, ficou sensibilizado por Benjamim Abrahão ser
originário de um lugar próximo a Terra Santa (Jerusalém), além de se dizer
educado por missionários cristãos no Líbano. O autor esclarece que naqueles
tempos a maioria do povo Sírio cultuava o cristianismo, porém coexistindo com
os mulçumanos. Assim, Benjamim Abrahão pertenceria em seu país de origem, aos
maronitas ou aos melkitas, ambas obedientes a Igreja de Roma, contudo, Benjamim
Abrahão pertencia a uma dessas duas correntes cristãs.
Nos parágrafos
seguintes, é abordado a possível cidade de nascimento do biografado e o suposto
motivo de sua emigração. Desta forma, Benjamim Abrahão teria nascido na cidade
de Zahle ou Zahlah, localizada na região central do Líbano, a oeste de Beirute.
Conforme o
autor, no censo de 1890 aponta que existiam mais 350 mil estrangeiros no
Brasil, cuja predominância era de alemães e italianos. Os turcos, como eram
conhecidos todos os indivíduos de cultura Árabe, coexistindo entre os outros
povos colonizadores, porém em números bem menores. Há registros que houve um
crescimento da presença deles entre os anos de 1860 e 1870, porém, novamente,
inicia outro período de queda da emigração de povos de origem síria para o
Brasil. Será a partir do século XX que se evidenciam as maiores levas de migrações
sírias para o nosso país.
Na região
Nordeste, por volta de 1920, teria chegado ao Ceará cerca de 40 famílias
Sírias, cujas origens seriam exatamente de Zahle. Por aquele tempo o Império
Otomano em decadência, mantinha com forte resistência sua unificação, cuja área
territorial abrangia, também, os territórios da Síria e do Líbano. Contudo, a
instabilidade interna, conflitos de grupos separatistas e de ordens étnicas e
religiosas entraram em conflagração resultando o deslocamento maciço de libaneses
pelo mundo, por aquela década, chegaria ao Brasil, Jamil Ibrahim ou Benjamim
Abrahão.
Lailson
Feitosa, Manoel Severo e Emerson Monteiro no Cariri Cangaço em Juazeiro do
Norte, setembro de 2015
O autor ainda
salienta que o desenvolver dos acontecimentos no oriente próximo, culminariam
com a eclosão da primeira guerra mundial, quando os países Balcãs retomam seus
territórios e liquidam o Império Otomano. O Líbano, apesar de ser uma pequena
faixa de terras fronteiriça ao Sul com Israel, tem um legado histórico de lutas
com várias outras civilizações, cujos resultados foram o permanente estado de
migração de seus naturais. Naquele conflito mundial de 1914, a França se
apropria de seu território tornando-o subjugada, mas, desde os tempos mais
remotos que os Sírios já haviam sido cooptados pelos fenícios, egípcios,
gregos, persas e romanos. Devido tais conflitos, Firmino Holanda considera que
a migração sempre foi uma preocupação constante dos libaneses.
Árabes,
turcos, sírios e por último os libaneses. Firmino Holanda faz uma conjectura
desses três elementos identificadores de nacionalidades. Porém, a análise
desenvolvida pelo autor se configura numa espécie de estágio social do
migrante. Primeiramente, todos os indivíduos daquelas regiões do oriente
próximo são chamados de Árabes. Após aportarem em plagas nordestinas passaram
serem tratados por turcos, estes eram afáveis e modestos mascates; ao adquirem
estabelecimento fixo nos centros urbanos passavam a ser chamados por sírios,
contudo, após muito e longos anos de trabalho, e já ricos, com destaque social
esses indivíduos passariam a ser conhecidos por libaneses.
Continua, é
abordado o importante papel desses empreendedores comerciais no Ceará, eram
eles, sinônimos de desenvolvimento e capacidade de administração nos ramos
comerciais e industriais. Com suas habilidades comerciais o povo sírio deu ao
estado do Ceará destaque no crescimento econômico das várias cidades, inclusive
do interior cearense como fez o biografado Benjamim Abrahão. Em Juazeiro o
jovem e recém-chegado mascate libanês abre uma loja de artigos religiosos,
imagens de santos, sua vocação comercial era pulsante.
Posteriomerte
postarei os capítulos seguintes...
Lailson Feitosa, pesquisador e professor
Juazeiro do Norte
Lailson Feitosa, pesquisador e professor
Juazeiro do Norte
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