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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

GENTE DAS RUAS DE POMBAL NENA QUEIROGA OU “MADRINHA NENA” (FRANCISCA MARIA DE QUEIROGA)

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

Sempre que assisto a série "Downton Abbey" e vejo a Condessa Viúva Violet Grantham, interpretada por Maggie Smith, me vem à cabeça a imagem de dona Nena Queiroga. Isso por que quem a conheceu sabe que ela era uma legítima representante da aristocracia inglês do início do século XIX, nas ruas quentes de Pombal”.

WJSolha a descreveu como uma pessoa “Viajada, amiga de uma boa leitura (ela me forneceu muitos, muitos livros) foi uma das mais estranhas surpresas para mim ao chegar do sul a Pombal, pelo toque de nobreza meio à Deborak Kerr, que sempre soube manter com enorme naturalidade”.


Nena Queiroga nasceu no dia 16 de fevereiro de 1922, era filha do casal João Ferreira de Queiroga e dona Maria Querubina de Queiroga (dona Neca). Seus irmãos eram: Joquinha, Dr. Queiroga, Maria das Neves, Epitácio Queiroga, Zé Pretinho, Ritinha e Pedro Queiroga, um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, que faleceu de infarto numa praia do Rio de Janeiro, ao tentar salvar do afogamento um amigo.

Nena Queiroga foi responsável pelo “financiamento” dos estudos de muitos jovens pobres de Pombal, ação essa que ela fazia questão que não fosse divulgada, razão pela qual ainda hoje muita gente ignora esse lado “mecenas” de dona Nena, o que mais uma vez a leva em direção à aristocracia inglesa.

O acesso a Dona Nena, muito embora as pessoas a tivessem como uma mulher arrogante por sua dificuldade de emir um sorriso e por não medir as palavras na hora de uma repreenda, era feito da mesma forma, fosse para um humilde agricultor fosse para um representante da alta sociedade de Pombal: ela nunca negou uma ajuda a quem a procurava.


Dona Nena gostava de viajar. Seu destino preferido era o velho mundo, em particular a Inglaterra. Foram mais de 75 viagens por 25 países diferentes. Para uma mulher nascida no interior da Paraíba, em um tempo em que o deslocamento até dentro do Estado era difícil, não deixa de ser uma façanha digna de registro.

Fez parte do seu roteiro de viagens mundo: Rússia, Portugal, França, Alemanha, Jerusalém, Espanha e Itália. Ela estava de viagem marcada para o Japão, quando adoeceu, ficando impossibilitada de realizar sua excursão.

Sempre que regressava das viagens fazia questão de compartilha suas aventuras e aprendizados com as alunas da escola Normal Josué Bezerra, como uma forma de mostrar a elas, que acreditassem em si mesmos que tudo seria possível.

Em 1982 eu estava em Pombal e recebi a informação que dona Nena queria falar comigo. Achei muito estranho, já que entre nós dois não havia nenhuma aproximação. Aliás, eu sabia que ela existia, mas, tinha certeza que ao contrário não era verdadeiro. Apreensivo, dirigi-me até o Cartório, após me apresentar iniciamos uma curta conversa. Ela falou que estava contente em saber que eu havia me casado com sua “afilhada”, Thereza Christina, mas, achava que casamento era para ser “abençoado por deus” e não simplesmente duas pessoas resolverem morar sob o mesmo. Eu perguntei se era uma reclamação da mãe de Thereza, ela riu e respondeu que sim e que havia prometido a Maria Júlia ter essa conversar por amizade, mas que na verdade “ela não tem nada a ver com a situação”. Em seguida pediu-me desculpas “pela intromissão”.

Thereza Christina foi uma das “afilhadas” de “madrinha Nena”, que conseguiu para ela uma vaga no internato Colégio Cristo Rei, em Patos, o que a época só era possível para as filhas da alta sociedade da Paraíba a Rio Grande Norte.

Entre os afilhados de Nena Queiroga o mais emblemáticos foi Manoel Freire. Manoelzinho, nasceu por volta de 1942, no Sítio Serra Verde, do município de Piancó, e morreu em Moscou, em dezembro 1965, aos 23 anos. Patrocinado por Nena, foi seminarista em Cajazeiras, e fez curta carreira na Petrobrás e Banco do Estado de São Paulo.


Em análise das cartas que ele escreveu para “madrinha” Nena, e que foram publicadas por WJ Solha no Jornal Correio da Paraíba em 1992, conclui-se que Manoel Freire era uma pessoa de inteligência acima da média, inquieto e, envolvido com política e movimento sindical. Ele trabalhou como já citado, na Petrobrás onde militou no sindicato da categoria escrevendo para o informativo. Envolvido com o PCB em plena a Ditadura Militar, acabou viajando para Europa, e terminando os seus dias em Moscou, onde morreu acometido de um tumor no cérebro, com apenas 23 anos.

Nena Queiroga nunca se casou. Ela faleceu no dia 24 de fevereiro de 2008, quando faltavam oito dias para completar 86 anos de idade.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e Gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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