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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

PRIMOS NA SENDA DA VINGANÇA


Torna-se necessário, para aqueles que querem estudar o Fenômeno Social Cangaço, sair da história do seu último grande chefe cangaceiro, e ‘nadar nas águas' daqueles que o antecederam.

Há uma ruma de chefes cangaceiros anteriores a Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, desde os idos de 1756, mais ou menos, até 1920, mais ou menos, quando dar-se início a sua saga, quando o Cabeleira, citado como sendo o primeiro cangaceiro que surgiu, deixava a zona da mata e a área metropolitana do Recife, Capital de Pernambuco, aterrorizada. Só tendo fim quando ele, seu pai e mais alguns cabras são presos e condenados à morte, por enforcamento, no Forte São Tiago das Cinco Pontas, naquela metrópole.

Forte de São Tiago das Cinco Pontas

Diferente do que muitos pensam, o Fenômeno Social, Cangaço, migra do litoral para o interior do Estado, devido à colonização, até certo ponto forçada pelos grandes produtores de cana-de-açúcar, para criação de animais, principalmente bovinos. Esse Fenômeno, que nasce pela consequência de outro, o “coronelismo”, não fora gerado, criado, nascido na caatinga sertaneja.

As glebas, faixas territoriais ou faixas, pedaços de terra, são demarcadas pela autoridade religiosa e, a partir daí, tem-se início ao povoamento, se assim podemos dizer, do sertão. 

São doadas aos Patriarcas das famílias ligadas a coroa. Mesmo entre elas, coisa que também migra da Europa para a América do Sul, são as rixas e intrigadas lá afloradas e, por aqui, continuadas.

Barão do Pajeú Andrelino Pereira da Silva

A colonização do sertão nordestino é penoso, lento e regado a lágrimas e sangue daqueles que se aventuraram a fazê-la. A maior parte dessas intrigas é entre duas, ou mais, famílias. Onde os clãs, por algum motivo, deixam surgir à causa, a circunstância, o motivo para acontecerem. Sem procurarem a razão, propriamente dita, deixam-se levar pela emoção, honra e vaidade gerada pela ganância ao poder latifundiário, político e econômico, ao enriquecimento a qualquer custo. Ao longo do tempo, as coisas não mudaram naquelas quebradas da região semiárida sertaneja.
Em determinada data, dois clãs se digladiam com sucessivas mortes de ambos os lados. As famílias Carvalho e Pereira, frutos que a história relata como ‘cepa’ da mesma rama, entram em uma feroz e longa guerra particular, deixando o Pajeú das Flores sem o perfumes das rosas. Chegando a tingirem as águas temporárias do famoso rio Pajeú de vermelho.

Manuel Pereira da Silva Jacobina e sua esposa dona Francisca Pereira da Silva. "Padre Pereira' e 'Chiquinha Pereira' respectivamente.

Mais ou menos em 1907, componentes da família Carvalho, assassinam um da família Pereira, Manuel Pereira da Silva Jacobina, conhecido por ‘Padre Pereira’, esposo de dona Francisca Pereira da Silva. Algum tempo depois, um dos Pereira, Manuel Pereira da Silva, conhecido como Né Dadú, parte para ‘lavar’ a honra com sangue e mata dois da família Carvalho, Joaquim Nogueira e Eustáquio Carvalho.

Os Carvalho, dando sequência a já antiga intriga, em 1916, matam Né Dadú. Um irmão dele, Sebastião Pereira da Silva, apronta-se para entrar na senda da guerra, com o intuito de vingar a morte do irmão. Nisso, a viúva, dona Chiquinha Pereira, Francisca Pereira da Silva, manda seu filho, Luiz Pereira da Silva Jacobina, conhecido pela alcunha de Luiz Padre, acompanhar o primo na vereda sangrenta.

Em pé, Luiz Pereira da Silva Jacobina o cangaceiro Luiz Padre. Sentado, Sebastião Pereira da Silva, o chefe cangaceiro Sinhô Pereira.

Sebastião Pereira da Silva sabedor do potencial armado e político dos Carvalho, resolve então fazer diferente. Segue em direção ao poente, vai ao Estado vizinho do Ceará e forma um pequeno grupo de cabras dispostos e profissionais no manejo da espingarda. Após escolher os ‘cabras’ a dedo, juntamente com seu primo, Luiz Padre, Sebastião Pereira da Silva, conhecido por Sinhô Pereira, retorna as terras do Vale do Pajeú, sedento de sangue, e agora como chefe de um bando de cangaceiros.

Em sua trilha, disposta do cariri cearense em direção ao Pajeú pernambucano, o jovem chefe queria varrer da face da terra todo e qualquer Carvalho. Não só as pessoas penariam, mas seu patrimônio seria devastado para pagarem o sangue que tinham derramado de seus familiares. Fazendas são queimadas, assim como suas casas e/ou cercados, depois de terem seus animais mortos a tiros. Seu primeiro grande desafeto foi no monte de casebres chamado São Francisco, que na época podia-se comparar a um Povoado. Sua meta, nessa localidade seria o comerciante Antônio da Umburana. Não estando no momento do embate Antônio da Umburana, o bando saqueia seu comércio. Mas, dias depois, em outra povoação, Sinhô Pereira o mata em um duelo.

Sebastião Pereira da Silva, nas Minas Gerais na década de 1970 do século XX.

A razão, muitas vezes foge da mente do homem, quando esse se vê cego pela vingança. E isso é o que estava ocorrendo com a mente do jovem chefe cangaceiro, Sinhô Pereira. Ele, com sua turba, por onde passavam, deixavam danos de todas as formas imagináveis. Parecia um rolo compressor.

Diante desses acontecimentos, muitos da família adversária, deixaram suas moradias em busca de refúgio. Então, é solicitado a Força Pública do Estado pernambucano seus serviços contra aquele bando de proscritos. Porém, Sinhô Pereira previra essa represália das autoridades. E aí, começa uma caçada constante de um lado... Do outro, uma fuga permanente, sem direito a descanso.

A família adversária, os Carvalho, não deu moleza ao bando de cangaceiros não. Além de empunhar armas e combate-los, na época, mandava politicamente em todo aquele vale, mais precisamente nos municípios de Belmonte e Vila Bela. Tinha como aliado o Estado, a Força Pública. Enquanto que seus rivais só contavam com a coragem, a destreza e a força de Sinhô Pereira...

Após deixar o cangaço e viver sua vida em terras goianas e depois nas das Minas Gerais, o ex chefe cangaceiro declara, quando de seu retorno a terra natal, quando inquirido se ele fora o mais valente dentre os do seu clã, respondeu “Bastião”:

“- Havia homens valentes até quase a loucura, entretanto, brigavam para matar. Na hora de morrer até fugiam do campo de luta, naquelas circunstâncias matar ou morrer para mim seria a mesma coisa. Daí a diferença.” (“O Patriarca: Crispim Pereira de Araújo “Ioiô Maroto””- NEVES, Vinício Feitosa. Cajazeiras, PB. 2016)

As façanhas desse jovem chefe cangaceiro, contava com mais ou menos vinte anos de idade, quando da sua entrada para o cangaço, contaremos em outras matérias daqui... Das terras do Pajeú das Flores.

Fonte Ob. Ct.
Foto www.google.com.br
cangaceiroscariri.com
Antônio Amaury

Fonte: Facebook
Página: Sálvio Siqueira

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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