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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

COMENTÁRIO DO PESQUISADOR ANTONIO CORRÊA SOBRINHO


Antônio Corrêa Sobrinho  sobre este pequeno artigo: 
https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/?fref=ts

Penso que algo parecido, mas sem o natural acréscimo dos casos passados transmitidos oralmente, de boca em boca, como se diz, os quais, mais das vezes, terminam ganhando formas as mais extraordinárias e mirabolantes possíveis, sempre a confirmar o antigo ditado de que "quem conta um conto aumenta um ponto" - provavelmente deve ter acontecido. Se estiver certo no que afirmou o pesquisador, escritor, advogado e jornalista cearense, Leonardo Mota (1891-1948), em matéria de sua autoria publicada em 1930, no jornal carioca O Globo (abaixo), autor este reconhecidamente um dos pioneiros da pesquisa sobre o cangaço, essa história do sal foi protagonizada pelo célebre Antonio Silvino e seu comparsa, o terrível cangaceiro Antônio Felix, vulgo Tempestade. Mas, como a verdade é uma montanha difícil de se escalar, trago apenas uma premissa num silogismo que pede muitos outros argumentos, a exemplo de um que devemos considerar, o fato de Antônio Silvino, nas diversas entrevistas que concedeu, nos seus longos anos de cadeia, que eu saiba, jamais ter sido perguntado nem espontaneamente mencionado a história do sal como algo de sua autoria. Não é irrazoável pensar, contudo, que histórias de conteúdo moral envolvendo o pernambucano Silvino em reprimenda aos seus subordinados e pessoas outras com quem esteve em contato, tal qual a que ora avaliamos, a do sal que Tempestade comeu à farta, em grande parte, foi construída por ele mesmo nas suas várias entrevistas concedidas a jornalistas, como na que lemos na edição de 1927, do jornal "O Estado de S.Paulo", quando é dito que ele, Silvino, disse o seguinte: "Por vezes foi forçado a atos reprováveis, assim o fizera ou em legítima defesa, quando atacado, ou para estabelecer uma norma de moral entre os seus 'cabras' que, constituindo o seu séquito, deveriam observar conduta regular, sendo castigados sempre que se afastavam dos princípios pregados por ele, Antonio Silvino. 

Tempos do cangaço que tão pouco sabemos! 

Jornal O GLOBO - 23/10/1930 EPISÓDIOS DA VIDA DOS CANGACEIROS
NO SERTÃO DAS TOCAIAS

Brincadeira de homem... – Um precursor de Lampião

antonio-silvino-ao-centro-entre-os-seus-captores-foto-publicada-no-jornal-de-recife-em-02-de-dezembro-de-1914

Antônio Silvino fazia-se respeitado de seus satélites. Disciplinava-os. Sabia assegurar a conveniente distância que deve existir entre comandantes e comandados. Jamais permitiu atrocidades que não houvesse, em pessoa, determinado.

Chegara ele com a sua récua a uma fazenda. À hora do improvisado almoço, um cabra, o Tempestade, se deu ao luxo de reclamar:

- “Ô arroz ensosso de todos os diabos!”

Um relâmpago de cólera fulgiu nos olhos de Silvino, que, findo o repasto, foi falar à mulher do fazendeiro:

- “Dona, a senhora tem sal em casa?”

- “Tenho, seu capitão. Eu vi aquele homem não gostar... Vossenhoria me desculpe, me perdoe o arroz sair ensosso! foi coisa do avexame, do aperreio do preparo...”

- “Nhóra não, não é por isso não: eu quero é saber se a senhora me pode vender meio litro do seu sal.”

- “Posso lhe ceder; vender, não! O capitão leve o sal que não lhe custa nada e é dado de gosto!”

- “Nhóra não, não é pra carregar não. É um ensinamento que eu quero dar naquele cabrocha que falou do arroz. Me vá ver meio litro, por bondade!”

Atendido, Silvino pediu uma bacia, derramou dentro o sal, dissolveu-o com uma porção d’água, e voltando ao terreiro, onde o Tempestade esgaravatava a dentadura, obrigou-o, de punhal à mão, a beber toda aquela água horrivelmente salgada:

- “Isso é pra você, seu bruto, perder o costume de botar defeito no que lhe dão, de graça! Engula! Ou engole, ou morre! Comeu ensosso, beba salgado que é pra carga não ficar torta... Cabra sem criação!”

Daí a pouco, o Tempestade padecia sob a ação do purgante mais que enérgico...

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