Antônio Corrêa
Sobrinho sobre este pequeno artigo:
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Penso que algo parecido, mas sem o natural acréscimo dos
casos passados transmitidos oralmente, de boca em boca, como se diz, os quais,
mais das vezes, terminam ganhando formas as mais extraordinárias e mirabolantes
possíveis, sempre a confirmar o antigo ditado de que "quem conta um conto
aumenta um ponto" - provavelmente deve ter acontecido. Se estiver certo no
que afirmou o pesquisador, escritor, advogado e jornalista cearense, Leonardo
Mota (1891-1948), em matéria de sua autoria publicada em 1930, no jornal
carioca O Globo (abaixo), autor este reconhecidamente um dos pioneiros da
pesquisa sobre o cangaço, essa história do sal foi protagonizada pelo célebre
Antonio Silvino e seu comparsa, o terrível cangaceiro Antônio Felix, vulgo
Tempestade. Mas, como a verdade é uma montanha difícil de se escalar, trago
apenas uma premissa num silogismo que pede muitos outros argumentos, a exemplo
de um que devemos considerar, o fato de Antônio Silvino, nas diversas
entrevistas que concedeu, nos seus longos anos de cadeia, que eu saiba, jamais
ter sido perguntado nem espontaneamente mencionado a história do sal como algo
de sua autoria. Não é irrazoável pensar, contudo, que histórias de conteúdo
moral envolvendo o pernambucano Silvino em reprimenda aos seus subordinados e pessoas
outras com quem esteve em contato, tal qual a que ora avaliamos, a do sal que
Tempestade comeu à farta, em grande parte, foi construída por ele mesmo nas
suas várias entrevistas concedidas a jornalistas, como na que lemos na edição
de 1927, do jornal "O Estado de S.Paulo", quando é dito que ele,
Silvino, disse o seguinte: "Por vezes foi forçado a atos reprováveis,
assim o fizera ou em legítima defesa, quando atacado, ou para estabelecer uma
norma de moral entre os seus 'cabras' que, constituindo o seu séquito, deveriam
observar conduta regular, sendo castigados sempre que se afastavam dos
princípios pregados por ele, Antonio Silvino.
Tempos do cangaço que tão pouco sabemos!
Jornal O GLOBO - 23/10/1930 EPISÓDIOS DA VIDA DOS CANGACEIROS
NO SERTÃO DAS TOCAIAS
Brincadeira de homem... – Um precursor de Lampião
antonio-silvino-ao-centro-entre-os-seus-captores-foto-publicada-no-jornal-de-recife-em-02-de-dezembro-de-1914
Antônio Silvino fazia-se respeitado de seus satélites. Disciplinava-os. Sabia assegurar a conveniente distância que deve existir entre comandantes e comandados. Jamais permitiu atrocidades que não houvesse, em pessoa, determinado.
Chegara ele com a sua récua a uma fazenda. À hora do improvisado almoço, um cabra, o Tempestade, se deu ao luxo de reclamar:
- “Ô arroz ensosso de todos os diabos!”
Um relâmpago de cólera fulgiu nos olhos de Silvino, que, findo o repasto, foi falar à mulher do fazendeiro:
- “Dona, a senhora tem sal em casa?”
- “Tenho, seu capitão. Eu vi aquele homem não gostar... Vossenhoria me desculpe, me perdoe o arroz sair ensosso! foi coisa do avexame, do aperreio do preparo...”
- “Nhóra não, não é por isso não: eu quero é saber se a senhora me pode vender meio litro do seu sal.”
- “Posso lhe ceder; vender, não! O capitão leve o sal que não lhe custa nada e é dado de gosto!”
- “Nhóra não, não é pra carregar não. É um ensinamento que eu quero dar naquele cabrocha que falou do arroz. Me vá ver meio litro, por bondade!”
Atendido, Silvino pediu uma bacia, derramou dentro o sal, dissolveu-o com uma porção d’água, e voltando ao terreiro, onde o Tempestade esgaravatava a dentadura, obrigou-o, de punhal à mão, a beber toda aquela água horrivelmente salgada:
- “Isso é pra você, seu bruto, perder o costume de botar defeito no que lhe dão, de graça! Engula! Ou engole, ou morre! Comeu ensosso, beba salgado que é pra carga não ficar torta... Cabra sem criação!”
Daí a pouco, o Tempestade padecia sob a ação do purgante mais que enérgico...
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