“O Cabeleira”,
primeiro romance do cangaço, do escritor cearense Franklin Távora, surgiu da necessidade de se
mostrar ao Brasil a cultura nordestina que, além do grande valor literário,
possui um inestimável valor histórico, fruto de sua pesquisa no sentido de
documentar, e bem, a realidade vivenciada pelos habitantes do nordeste do país.
A narrativa
enfoca, segundo Samira Youssef da Faculdade Ibero-Americana, a saga de um
“herói do mal”, José Gomes, conhecido pelo povo como “O Cabeleira”, cujas
atrocidades aterrorizaram o Estado de Pernambuco no século XVIII e foram
cantadas em inúmeras trovas populares.
Enquanto menino, José oscila entre dois
extremos: ou segue os modos da mãe Joana, bondosa de coração e de alma pura, ou
assume o “legado” do pai Joaquim Gomes, assassino inveterado que o treinara
para matar passarinhos, depois gente.
“Minha mãe me
deu
Contas p’ra eu rezar.
Meu pai deu-me faca
Para eu matar”.
Contas p’ra eu rezar.
Meu pai deu-me faca
Para eu matar”.
Sem escolha, o
menino é moldado pela personalidade homicida do pai, tornando-se “O Cabeleira”,
criminoso “perigoso” procurado da justiça. É a presença de doce Luisinha,
paixão de infância de José Gomes, num encontro inesperado numa praia solitária,
que reaviva no matador seus mais profundos sentimentos presentes em sua
infância tranquila há muito tempo deixada para trás.
Esse
reencontro faz com que o Cabeleira precise lidar com um dilema: para ter
Luisinha, ele precisa abandonar sua vida de assassinatos e saques. Para voltar
a ser o José Gomes da infância, só se entregando e cumprindo pena, pagando por
seus crimes conforme a lei.
Sem a presença
de Luisinha, que morre nas andanças do sertão, o Cabeleira torna-se amargurado
e solitário, acabando sendo pego pelos seus perseguidores no meio de um
canavial. Ainda que exímio tocador de viola, de voz dolente, sentimental, capaz
de comover senhoras, o seu final é a prisão, a condenação, a forca. Este é o
fim de um “herói” dividido, solitário, violentador da sociedade, punido por
ela. “Adeus, mamãezinha do meu coração”, despede-se antes de ser enforcado.
Franklin
Távora trouxe esse romance ao público como um fato verídico. Inúmeras são as
cenas de sangue, morte e violência. Apesar de ser um tanto moralista, didático
e histórico, alguns críticos afirmam que faltou ao romance um pouco mais de
caráter científico. No entanto, não se pode negar a sua imensa contribuição em
divulgar o Regionalismo, conhecido na época como “Literatura do Norte”, com sua
linguagem, estilo, paisagem, seu povo e sua cultura.
Fontes
CAMPEDELI, Samira Youssef. Herói do Mal. In: Távora, Franklin. O Cabeleira. 4 ed. São Paulo, Ática, 1981, p. 01-6.
CAMPEDELI, Samira Youssef. Herói do Mal. In: Távora, Franklin. O Cabeleira. 4 ed. São Paulo, Ática, 1981, p. 01-6.
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