Por João Suassuna
Meus Prezados,
Abril é o mês
do término da quadra chuvosa nas regiões do Alto e Médio São Francisco. As
chuvas até o final do mês estão caindo abaixo da média, o que tem resultado em
um cenário preocupante ao longo de toda bacia do Rio São Francisco. Nesse
cenário, os bombeamentos do projeto da transposição têm agravado, ainda mais, o
quadro de penúria hídrica existente nas referidas regiões.
A Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco encontra-se no final do período das águas,
com as chuvas caindo bem abaixo da média histórica nas regiões do Alto e Médio
São Francisco. A represa de três Marias começou a depreciar sua capacidade
acumulatória. Está com uma afluência de 79 m³/s e uma defluência de 218
m³/s. O rio continua não encontrando forças suficientes para promoção de
mudanças em seu quadro hidrológico, fato esse que irá se tornar mais grave
ainda até o final do mês. O projeto da transposição continua interferido, nesse
processo, de forma negativa, com as retiradas volumétricas para o atendimento
das demandas hídricas da região Setentrional nordestina.A exploração
descontrolada das águas subterrâneas nos aquíferos (Urucuia e outros), também
faz com que a vazão do Velho Chico caia para valores inferiores a montante do
município de São Romão, mesmo recebendo as águas de um afluente importante como
o rio Urucuia. Esse fato que está acontecendo possivelmente ao longo de toda
bacia do rio São Francisco (vide gráficos de Pereira Bode Velho, abaixo).
Não havendo mais a probabilidade da ocorrência de chuvas de maior intensidade
na região, isso tornará difícil à recuperação, tanto da represa de Três Marias,
como de Sobradinho. Preocupado com isso, o Ministério de Minas e Energia (MME) emitiu nota
estabelecendo critérios de gestão volumétrica do rio, principalmente no tocante
às defluências de Sobradinho. As fracas ou mesmo inexistentes
precipitações, nessa semana, resultaram em um cenário hidrológico preocupante,
com as vazões nos postos de observação da Chesf despencando de forma
significativa: no de São Romão, que na semana anterior estava com 540 m³/s,
passou, nessa semana, para 414 m³/s. Nos demais postos, a situação não é
diferente: no de São Francisco, que na semana anterior estava com 706 m³/s,
passou para 375 m³/s; no de Bom Jesus da Lapa que estava com 944 m³/s, passou
para 520 m³/s e no de Morpará, que na semana anterior estava com 898 m³/s,
agora encontra-se com 664 m³/s, respectivamente. A afluência volumétrica na represa
de Sobradinho caiu de 930 m³/s, na semana passada, para 720 m³/s nessa semana.
A defluência da represa permaneceu estável, passando de 767 m³/s, da semana
anterior, para 766 m³/s nessa semana. O percentual volumétrico de
Sobradinho ficou praticamente estável. Na semana anterior havia sido registrado
15,94% de seu volume útil. Na atual está com 16,11%. A barragem continua com o
seu percentual volumétrico cerca da metade do que aquele verificado em igual
período do ano anterior (atualmente 16,11% - ano anterior 32,20%).
Uma
curiosidade: em 2015, ano no qual a represa de Sobradinho chegou a 1% de seu
volume morto, no dia 24/04, daquele ano, a represa apresentava percentual
volumétrico de 21,30%. No dia 24/04 de 2017, Sobradinho está com 16,11%,
apenas, um fato preocupante tendo em vista o atual cenário de desidratação
existente na bacia do rio. Portanto, o alcance do volume morto de Sobradinho,
em 2017, é um fato concreto.
Na semana
(24/04), devido ao início do período de redução das precipitações nas regiões
do Alto e Médio São Francisco, somada à retirada volumétrica do projeto da
transposição, é muito provável que no mês de novembro, a represa de Sobradinho
alcance o volume morto. O quadro atual de penúria hídrica já vem trazendo
reflexos negativos ao projeto da transposição. As águas do Velho Chico estão
chegando na represa de Boqueirão, em volumes muito reduzidos (certa de 1,5
m³/s, apenas), o que obrigou as autoridadesdivulgarem nota esclarecendo o atraso no encerramento
do racionamento de água, na cidade de Campina Grande. Houve, também, incertezas
da chegada da água nas torneiras dos municípios atendidos pelo projeto,
motivando a população de Monteiro, na Paraíba, aprotestar pela falta d´água na localidade, exigindo
providências junto ao governo estadual, para as soluções cabíveis.É importante observar,
também, que a continuidade das baixas defluências de Sobradinho (766 m³/s) vem
agravando o quadro da progressão da cunha salina na foz do rio (ver a excelente
análise de José do Patrocínio Tomaz Albuquerque, abaixo). Existem relatos de
pescadores que estão capturando peixes de hábito marinho na região do Baixo São
Francisco. A cunha salina tem trazido, também, certos transtornos
no abastecimento do município alagoano de Piaçabuçu, que tem servido à população uma água de péssima
qualidade, com elevados teores de sais (água salobra). Em igual situação vivem 70% da população de Aracaju,
que são abastecidos com as águas do Rio São Francisco, por intermédio de uma
adutora, em Propriá, município sergipano localizado em sua margem direita, a
cerca de 60 km da foz.
Com a
proximidade do período de estiagem na região, é ficar na torcida para que as
medidas sugeridas pelo MME sejam efetivadas e que surtam os efeitos esperados,
a fim de que os volumes do Velho Chico voltem a se utilizados dentro da
normalidade esperada. Para tanto, continuaremos atentos para as questões das
defluências de Sobradinho (766 m³/s) e, agora, de Três Marias (218 m³/s), pois
houve determinação das autoridades do setor, para que essas defluências
ficassem estabelecidas em patamares da ordem de 700 m³/s e 160 m³/s,
respectivamente, conformedivulgadas na mídia e atualmente praticadas.
João
Suassuna
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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