Por José Romero
Araújo Cardoso
Sentia imenso
orgulho quando ficava sabendo que minhas cartas lúdicas remetidas a Martinha
eram lidas por ela para os alunos que educava em São José de Piranhas. Romeu
Cruz, a quem cheguei a conhecer no leito de morte, conforme ela própria me
contou, tinha desejo imenso de me conhecer, em razão da forma como me
expressava nas missivas enviadas.
Martinha passou a fazer parte da minha vida desde o primeiro momento quando
Corinta Cruz Cardoso passou a narrar sua vivência no São Luiz e no Riacho D’ água,
mas em virtude de grave acidente que sofri em Pombal, arremessado de um
caminhão por motorista irresponsável, ela passou a me visitar com freqüência no
apartamento que ocupava no Hospital São Vicente de Paula na capital paraibana.
Corria o fatídico ano de 1977 e Martinha também se recuperava de rude golpe que
o destino lhe trouxera enquanto provação, o qual enfrentou com estoicismo
ímpar.
Recuperado, passei a frequentar com ênfase as terras localizadas quase à
nascente do rio Piranhas, convivendo com Martinha e sua família de forma plena,
tendo me apegado por demais aos parentes que são testemunhas de
capítulo da formação genealógica da qual fazia parte, pois apadrinhado
pelo Major Hygino Rolim, Romeu se fixou em São José de Piranhas em razão dos
laços firmados com a família cajazeirense, quando do êxodo familiar ocorrido na
grande seca de 1877-1879 em busca de condições de sobrevivência, conduzida por
Menandro José da Cruz.
Como sempre gostei de ouvir histórias contadas pelos mais experientes, ficava
horas e horas escutando suas narrativas, das que vivenciou e das que ouviu
contar, como a lembrança do que lhe contou minha comadre sobre as primeiras
tentativas de contenção das águas do rio Piranhas onde hoje se encontra o
distrito cajazeirense de Engenheiro Ávidos.
Ficava ouvindo atentamente Martinha se lembrar dos tempos da mocidade,
fazendo viagem nostálgica à década de cinqüenta, quando o símbolo universal de
beleza era a célebre esposa do General Péron. Toda mocinha queria se parecer
com Evita.
Aprendi a gostar das musicas interpretadas por Nelson Gonçalves com dona
Martinha. Ela tinha um excelente gosto musical e sempre ouvia em discos de
vinil ou cantarolava baixinho eternos sucessos do repertório do grande artista
gaúcho. A mais marcante, sem sobras de dúvidas, tem o título de Meu Dilema.
Mulher nobre e altiva, Martinha soube se portar como verdadeira cristã, levando
amor ao próximo com zelo indescritível pelos que a cercavam. Amava seus filhos,
netos e bisnetos da mesma forma como amava todos da família, pois em suas rezas
nunca se esquecia de pedir a Deus para proteger ausentes e presentes.
Martinha, sinônimo de bondade e de virtude, tenho certeza absoluta que Deus
Todo Poderoso já tinha reservado para ti um lugar especial no Paraíso
Celestial. Descanse em Paz, minha querida madrinha Martinha, pois aqui na terra
é só saudades de todos que te amam e vão te amar profundamente por toda
eternidade.
Enviado pelo autor
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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