Meus Prezados,
Maio é o mês
de início do período de disponibilização das águas das represas da Chesf e da
Cemig, acumuladas no período chuvoso, para regularização hídrica da bacia do
Rio São Francisco. O agravante atual da situação são os baixos volumes nelas
acumulados no período das águas. Informações da Chesf dão conta de que, para um
gerenciamento hídrico satisfatório, a represa de Sobradinho, por exemplo, teria
que estar, no mínimo, com 60% de seu volume útil, preenchidos. A represa
encontra-se no momento com 14,77%. Nesse cenário de penúria hídrica, os
bombeamentos do projeto da transposição tendem ao agravamento da situação.
A Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco encerrou o período chuvoso, com as represas
reguladoras de vazão e, também, geradoras de energia, com seus volumes muito
baixos. Com o encerramento da quadra chuvosa, as represas de Três Marias e,
agora, Sobradinho começaram a depreciar suas capacidades acumulatórias. Três
Marias, por exemplo, está com uma afluência de 147 m³/s e uma defluência
de 251 m³/s, fato esse que resultou na redução de seu percentual volumétrico,
passando de 31,80%, da semana anterior, para 31,41%, na atual. Já Sobradinho
está com uma afluência de 388 m³/s e uma defluência de 753 m³/s, fato que
reduziu o seu percentual volumétrico de 15,27%, da semana anterior, para
14,77%, nessa semana. A vazão do rio no posto de observação de São Francisco
voltou a ser menor do que aquela verificada em São Romão. O Hidrogeólogo, José
do Patrocínio Tomaz Albuquerque dá as devidas explicações ao fato, em nota
abaixo. Pereira Bode Velho, alerta, também, para a rápida
diminuição volumétrica de Sobradinho (ver gráfico abaixo), e opina sobre a
forma de como se deve proceder para amenizar a inusitada situação vivenciada
naquela represa. Os baixos volumes atuais do Rio São Francisco e, também, dos
reservatórios da região Sudeste, são o principal motivo do acionamento das
termelétricas na geração de energia do País, em socorro das hidrelétricas. Esse
fato resultou no aumento nas tarifas de eletricidade do usuário da energia,
estando, atualmente, operando em bandeira vermelha. Para o
agravamento desse caótico quadro, o projeto da transposição continua
interferido de forma negativa, com retiradas volumétricas significativas, para
o atendimento das demandas hídricas da região Setentrional nordestina.A
exploração descontrolada das águas subterrâneas nos aquíferos (Urucuia e
outros) e, agora, o da região do Submédio São Francisco, com o projeto da
transposição, também têm interferido nas reduções das vazões do rio. Esse fato,
provavelmente, está acontecendo ao longo de toda bacia do rio São Francisco (vide
gráficos de Pereira Bode Velho, abaixo). A natural redução de chuvas na
região tornará mais difícil à recuperação, tanto da represa de Três Marias,
como de Sobradinho. Preocupada com isso, a ANA emitiu nota estabelecendo a redução das defluências,
em ambas represas. As fracas ou mesmo inexistentes precipitações
resultaram, nessa semana, em um cenário hidrológico preocupante, com as vazões
nos postos de observação da Chesf muito baixas, porém estáveis: no de São
Romão, que na semana anterior estava com 452 m³/s, passou, nessa semana, para
417 m³/s. Nos demais postos, a situação não foi diferente: no de São Francisco,
que na semana anterior estava com 431 m³/s, passou para 371 m³/s; no de Bom
Jesus da Lapa que estava com 516 m³/s, passou para 542 m³/s e no de Morpará,
que na semana anterior estava com 560 m³/s, agora está com 588 m³/s,
respectivamente. A afluência volumétrica na represa de Sobradinho permaneceu
inalterada nos 388 m³/s. A defluência da represa permaneceu estável, passando
de 765 m³/s, da semana anterior, para 753 m³/s nessa semana. Opercentual
volumétrico de Sobradinho começou a cair. Na semana anterior haviam sido
registrados 15,27% de seu volume útil. Na atual está com 14,77%. A barragem
continua com o seu percentual volumétrico com cerca da metade do que aquele
verificado em igual período do ano anterior (atualmente 14,77% - ano anterior
29,30%).
Uma
curiosidade: em 2015, ano no qual a represa de Sobradinho alcançou, no mês de
novembro, 1% de seu volume morto, no dia 15/05 daquele ano, a represa apresentava
percentual volumétrico de 21,70%. No dia 12/05 de 2017, Sobradinho está com
14,77%, um fato preocupante tendo em vista o atual cenário de desidratação
existente em toda bacia do rio. Portanto, o alcance do volume morto de
Sobradinho, em 2017, é um fato concreto.
Na semana
(12/05), o quadro atual de penúria hídrica vem trazendo reflexos negativos
ao projeto da transposição. As águas do Velho Chico estão chegando na represa
de Boqueirão, em volumes muito reduzidos (estima-se em cerca de 1,5 m³/s, apenas),
o que obrigou as autoridades divulgarem nota esclarecendo o atraso para o
encerramento do racionamento de água, na cidade de Campina Grande. Houve,
também, incertezas da chegada da água nas torneiras dos
municípios atendidos pelo projeto, motivando a população de Monteiro, na
Paraíba, aprotestar pela falta d´água na localidade, exigindo
providências junto ao governo estadual, para as soluções cabíveis. É
importante observar, também, que a continuidade das baixas defluências de
Sobradinho (753 m³/s) vem agravando o quadro da progressão da cunha salina na
foz do rio (ver a excelente análise de José do Patrocínio Tomaz Albuquerque,
abaixo). Existem relatos de pescadores que estão capturando peixes de hábito marinho na região do Baixo São Francisco. A cunha salina tem trazido, também, certos transtornos
no abastecimento do município alagoano de Piaçabuçu, que tem servido à população uma água de péssima
qualidade, com elevados teores de sais (água salobra). Em igual situaçãovivem 70% da população de Aracaju, que são
abastecidos com as águas do Rio São Francisco, por intermédio de uma adutora,
em Propriá, município sergipano localizado em sua margem direita, a cerca de 60
km da foz.
Com a chegada
do período de estiagem na região, é ficar na torcida para que as medidas
sugeridas pela ANA, de redução das vazões de Sobradinho e Xingó, surtam os
efeitos esperados, a fim de que os volumes do Velho Chico voltem a ser
utilizados dentro da normalidade esperada. Para tanto, continuaremos atentos
para as questões das defluências de Sobradinho (753 m³/s) e, agora, de Três
Marias (251 m³/s), pois houve determinação das autoridades do setor, para que
essas defluências ficassem estabelecidas em patamares da ordem de 700 m³/s e
160 m³/s, respectivamente, conforme divulgadas na mídia e atualmente praticadas, inclusive
com acréscimos naqueles emitidos por Três Marias.
Abraço
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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