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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A VOLTA, NA VOLTA, DO “REI DO CANGAÇO” Parte I


Era a boca da noite do dia 13 de junho de 1927. Lampião, na estação ferroviária da cidade de Mossoró, RN, já estava sabendo de que perdera dois de seus melhores homens no confronto, além de estarem feridos “Moderno”, seu cunhado, “As de Ouro e um outro, com o abdômen aberto pelo projétil de um dos homens da resistência, se contorcia e soltava gemidos involuntários devido a enorme dor. Esse último com um ferimento gravíssimo. O cangaceiro Sabino, seu lugar “tenente” na época, reportara para o mesmo a perda e a impossibilidade de levar o plano adiante. Recebe ordens de reagrupar o bando para deixarem a cidade...

As sombras da noite os engolira de repente. Tomaram, sob as ordens do chefe maior, um itinerário diferente daquele usado quando da vinda para a cidade do sal. Todos com caras de poucos amigos, sem pilhérias nem brincadeiras de tipo algum. Naquele ocaso do dia, o silêncio estava a consumir cada um deles. O silêncio só era quebrado pelos gemidos do cangaceiro agonizante e o soar das alpercatas ‘Xô-boi’ levantando a poeira em solo potiguar.


A sua frente aparece um muro de varas e estacas, uma enorme e longa cerca, mas, não podiam parar, transpõem com rapidez e seguem em busca de um lugar para ‘lamberem suas feridas’, físicas e morais, em carne viva. Não sabem ao certo por onde estão. Despontam em uma casa solitária. Pedem à mulher que abriu a parte superior da porta água e sal, para lavarem os ferimentos. A mulher, dona Maria Liberata, que tinha um sitiozinho nos arredores da cidade, estava a morrer de medo envolto pelos cangaceiros. Seu medo era tanto que, não sabendo onde esconder sua filha, a fez entrar embaixo d’um monte de cascas de feijão que havia no recanto da parede da sala. A pilha de cascas não era tanta e ao socar-se embaixo dela, os pés da adolescente ficam de fora. Lampião percebe o medo da filha e a agonia da mãe, então tenta tranquilizar as duas, dizendo só querer água e sal, depois diz para a senhora que pode mandar sair de debaixo das cascas quem lá estivesse que suas vidas estavam garantidas.

“- Dona, a senhora pode tirar essa pessoa que está por debaixo das cascas! Ninguém quer fazer mal a ninguém aqui!” (Dantas, 2005)

Recebendo o que pedira, os cangaceiros misturam o sal na água e lavam seus ferimentos. Rapidamente, ao findar esse pequeno tratamento, Lampião ordena para que a cabroeira se levante e coloquem os pés no caminho. Por fim chegam ao local de onde partiram, o sítio “Saco”.

O chefe pernambucano portava-se igual uma fera acuada. Não parava em lugar nenhum. Ia pra um lado e retornava no mesmo instante, reclamando com tudo e com todos, porém, seu maior aborrecimento era referido ao cangaceiro Massilon Leite, pelo fato dele o ter convencido a atacar uma cidade do porte de Mossoró. Instantes depois de terem chegado, imediatamente a um pequeno ‘tomar fôlego’, ordena que seus homens montem em suas montarias para, mais do que rápido, deixarem as terras do Rio Grande do Norte.


Do ponto em que se encontravam Lampião não poderia pegar o rumo do sul, transpondo os limites dos Estados do Rio Grande do Norte e penetrar na Paraíba, terreno do seu conhecimento, pois, além dos homens do coronel Pereira, de Princesa Isabel, que não eram poucos, estarem à sua procura, no seu encalce estavam várias volantes paraibanas determinadas, valentes e perigosas. Então, só havia uma rota de fuga: seguir rumo ao Oeste, pois no poente ficava as terras do Estado cearense, terra do Padim Padre Cícero, lugar onde a Força Pública não o perseguiria.

Virgolino sabia que estavam sendo caçados vigorosamente. Começa a aplicar táticas de vai-e-vem, além de ordenar cortarem os fios do telégrafo, para dificultar a trilha percorrida e atrasar os perseguidores. Segue por um caminho e, de repente, entra no mato, transpõem lajedos, e seguem sem poderem parar um só instante. O “Rei do Cangaço” não conhecia o terreno que percorria, nunca havia estado naquele Estado, por isso levava um senhor da região, seu Formiga, desde antes ao ataque, servindo-lhe de guia. Com a andada sem paradas, o senhor formiga começa a cambalear, estar quase que totalmente sem forças para prosseguir. Lampião ‘dispensa’ os serviços desse guia e captura um senhor e seu filho para que tomassem o lugar dele. E assim prosseguem sem pararem para nada, nem para cuidarem dos feridos. Ao dispensar Formiga, Lampião manda que esse vá falar com o coronel Antônio Gurgel, um de seus reféns. O coronel escreve um bilhete solicitando que familiares e amigos arrecadem certa quantia para que fosse libertado pelos cangaceiros, caso contrário, perderia sua vida, e pede ao Sr. Formiga que fizesse chegar até seu irmão, Tibúrcio Gurgel, para que o mesmo tomasse as devidas providências.


Os novos guias levam a caterva rumo ao Ceará, seguindo os postes e fios do telégrafo. Assim percorrem léguas e léguas para ficar mais distante de Mossoró. Em determinado lugar, chamado sítio Baixa da Broca, Lampião ordena que parem e montam acampamento. Naqueles dias, os cangaceiros formavam um grande círculo fechando o perímetro. No centro, de um lado, ficavam o chefe e seus lugares tenentes, Sabino, Luiz Pedro, Moderno e etc., do outro os reféns sob a guarda de alguns cabras. Antes do alvorecer, os cangaceiros já estão bem longe daquelas paragens. Por volta das cinco da matina, cercam e invadem a fazenda chamada Jucuri, a qual tinha como proprietário o senhor Manoel Freire.


Naquelas horas da manhã, o dono estava a ordenhar as vacas junto com seu vaqueiro Teófilo Lucas. Os dois são presos. O dono é obrigado a levá-los até a casa sede. Lá chegando, obrigam-no a chamar por sua esposa para que ela abrisse a porta. Ao abrir a porta, a casa é tomada imediatamente por uma horda de cangaceiros que começam a vasculhar cada centímetro do lugar. Além dessa bagunça toda, os cangaceiros exigem que se faça café para eles. Lampião e Sabino começam a apertar Manoel Feire pelos contos de réis. Freire responde que não tem. Sabino toma de conta do dono da fazenda e assume o interrogatório, ameaça-o de tudo quanto pode. O homem é valente e não diz onde estar o dinheiro. Em vez de continuar só com a negativa, Manoel, a certa altura da coisa, faltando a paciência, diz:

“- Não tenho dinheiro para bandidos! Não tenho! Já disse!” (Dantas, 2005)

Rapaz, teria sido melhor ele não ter dito dessa maneira. Sabino, que já estava com o rebenque na mão, pequeno chicote de couro, em forma de bengala, para tocar a montaria, começou uma sessão de espancamento no pobre fazendeiro. Freire nada podia fazer a não ser levar as chibatadas e chorar de tanta dor. E quanto mais Manoel chorava, mais o cacete comia. Em certo momento, sua esposa, Dona Francisca, vendo que Sabino ia acabar matando seu esposo na chibata, resolveu interferir. Aí a coisa ficou pior. Tentar impedir que um homem como Sabino das Abóboras prosseguisse o que estivesse fazendo, era melhor nem tentar. Sabino em vez de atender a senhora, lhe solta a macaca no lombo. A mulher gritava de dor e o meliante não cansava nem parava de bater. Até que os dois, marido e mulher, ficaram estendidos no piso da casa com suas peles rasgadas pela sola do chicote. Porém, o castigo em Manoel tem recomeço. O homem quase que nada mais dizia, soltava apenas sons pela boca, e a surra não parava.


E Lampião? Ora, quem molesta iria intrometer-se naquele meio contra Sabino? Nem ele. Enquanto o pau cantava nas costas do pobre fazendeiro, Virgolino, aproveitando o aperreio das filhas, começa a saquear suas joias. Após ter pegado tudo que encontrou de valor dentro da casa e/ou com as pessoas, Lampião ordena que Sabino pare de bater no homem. Vai até ele e o condena a ser seu prisioneiro, sequestrando-o, estipula uma quantia para que fosse libertado.

“(...) Concluído o saqueio, o vesgo determinou ao subordinado a suspensão da muxinga (ação de bater; sova, surra). Segurou Freire pelo braço e sentenciou com autoridade:

- Olhe, o senhor vai com a gente! Sua liberdade vai custar dez contos de réis!

Em seguida tornou aos familiares do fazendeiro:

- Mandem alguém a Mossoró arranjar o dinheiro!

O agricultor foi conduzido de forma ridícula, em roupas de pijama (...).” (“ Lampião e o Rio Grande do Norte – A história da grande jornada” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 1ª Edição. Natal, 2005)

Em seguida o chefe ordena que montem e partam em trote acelerado. O tempo urgia ficar o mais longe possível daquela cidade potiguar. Já não estava tão o cangaceiro ferido na altura da barriga. Com o trote forçado a coisa piora e alguns ‘cabras’ que estavam ao seu lado têm que parar para ver o fazia em socorro ao companheiro. O sofrimento era tanto que o ferido suplica aos companheiros que tirem sua vida. Ninguém se habilita a tal coisa. As dores aumentam e ele retorna a suplicar que o matem. Havia, dentre os homens de Lampião, naquele instante, um com alcunha de “Marreco”. Esse vai até ele e diz que fará seu pedido. 


Arrastam o ferido para dentro do mato, levam-no até a sombra de uma grande árvore e lá, no meio do nada, “Marreco” o mata com um tiro.

“(...) Afastaram o bandoleiro para lugar recatado, debaixo de velha quixabeira. Tiro seco e rápido tirou-lhe o resto de vida sacrílega.

Expiação finda, o corpo foi enterrado em cova rasa, à beira do caminho. Cruz tosca marcou o local(...).” (Ob. Ct.)

PS// “A tradição oral fixou que o cangaceiro enterrado nesse ponto da estrada foi o célebre Menino de Ouro. Tal não é verdade. O bandido em questão se quer saiu ferido do embate em Mossoró. Raimundo Lucena, em seu livro “Memórias”, refere-se à presença do bandoleiro-mirim na cidade de Limoeiro do Norte, no dia 15/06/27. Não morrera, pois. Teve, sim, longa sobrevida. Foi encontrado na década de noventa pelo pesquisador Hilário Lucetti. Menino de Ouro, o Alagoano ou Oliveira, morrera somente em 23 de novembro de 1999, com vetusta idade de oitenta e sete anos. O homem sepultado nesse ponto do caminho – o que foi revelado pós a exumação – não era tão jovem. Provavelmente o corpo era do bandido “Dois de Ouro”. O resto é tradição verbal. Pura lenda.” (DANTAS, 2005).

A caterva prossegue rumo às terras cearenses. Antes da linha limítrofe, ainda em território potiguar, tinha uma fazenda chamada Veneza que tinha como administrador o senhor Childerico Fernandes.


Por ter uma vasta área desmatada em sua volta, a visão de quem se encontrava na casa pegava todo o derredor. Por isso, a esposa do administrador, dona Felisbela, ao escutar um tropel de cascos no solo duro, ergue-se e avista o bando de cangaceiros aproximando-se. Vai até onde se encontrava o marido e lhe diz o que estava vindo em direção a eles. A tempestade que vinha chegando.

Sendo comerciante, Childerico havia comprado um rebanho de reses a prazo, ou feito um empréstimo e comprado o gado, mais provável. De posse das reses, começa a engordá-las e vai vendendo e juntando a quantia para fazer o pagamento. Tanto a esposa como o marido, tremem nas bases, principalmente por saberem ter em casa a quantia de dez contos de réis, os quais seria para saldar a dívida. Avexam-se a procura de um local para esconderem a ‘botija’.

Lampião parecia já estar refeito da derrota em Mossoró, pois seu cérebro já tramava a mil. Antes da aproximação da casa sede da fazenda Veneza, ele divide o bando, fica com alguns cangaceiros e os reféns. Envia Sabino com trinta cangaceiros à casa da fazenda. Sem a preocupação dos reféns nem a marcha lenta dos guias como empecilho, a tropa liderada por Sabino esporeiam suas montarias e chegam muito rápido a casa e, imediatamente, a cercam, invadem e tomam conta de todo e qualquer recanto que havia nela. Na sala, estando Childerico, Sabino começa a fazer-lhe várias perguntas: onde estão, a qual Estado pertencem aquelas terras e por aí foi... O administrador ia respondendo a cada pergunta de acordo com a situação. 

Dona Felisbela, de posse da grana junta, tinha tentado sair pela porta da cozinha para ir escondê-la, mas, não deu tempo. O cangaceiro apelidado de “Coqueiro” invade a casa por essa saída e impede que ela saia. Percebendo o nervosismo da senhora, o cangaceiro começa a procurar e acha tudo. Ela, sem ter outra opção, dispara pra sala onde estão seu marido, Sabino e vários cangaceiros, dizendo o que tinha acontecido. Pelo que a senhora falou, Sabino, cangaceiro experiente, já sabia de quem tratava-se e dana o grito pra cima querendo a presença de Coqueiro imediatamente. De imediato o chefe ordena que lhe passe a grana. Ao receber, nota a quantia e seus grandes olhos quase que saltam da face. Sem acreditar direito, O cabra das Abóboras afasta-se dos demais e começa a contar o volume de notas uma por uma. Fica meio que boquiaberto. Nunca pensara em encontrar naquela simples casa tanto dinheiro junto. A razão da soma, um tanto grande para a época, era simplesmente o acúmulo para pagar o que havia comprado, as reses, ou seja, aquele dinheiro não era de Childerico.


O restante do bando, ao ver a quantia de notas nas mãos de Sabino imediatamente começa a fazer uma varredura no local. Não deixando um, dos poucos móveis que tinha inteiro. O administrador, cheio de pena, lamentos e raiva por estar perdendo tudo quanto havia conseguido na vida, protestou com o chefe, Sabino das Abóboras, que lhe responde para que ele vá reclamar com o coronel José Pereira, chefe político da cidade de Princesa Isabel, PB, o qual havia lhe ensinado o que acabara de fazer. Essa ligação entre José Pereira, Sabino Gomes de Gois, também conhecido como “Sabino das Abóboras” e o coronel Marçal Florentino Diniz, esse pai de Sabino com uma de suas empregadas, contaremos em outra oportunidade. Pois bem, não contente, mesmo tendo encontrado a enorme soma, Sabino começa uma sessão de torturas no corpo de Childerico. Dessa vez, ele alterna os objetos que produziam as dores: usava o chicote e depois o punhal, voltava a usar o chicote e em seguida, novamente a ponta fina e dura da lâmina de aço. Assim o tempo passa, para Childerico, cada minuto parecia um tempo enorme... uma eternidade.

O misticismo, catolicismo e messianismo foram, são e será, sempre, uma válvula de escape sobre, arrancando daí uma fé às vezes doentia, o sofrimento de parte da população mundial, e entre esses estão os sertanejos. Em determinado momento, não aguentando ver o esposo estar sofrendo tanto, sua esposa corre até o oratório, nicho ou armário com imagens religiosas; capela doméstica, que surgiu desde a Idade Média no território europeu, como devoção popular e ordem religiosa tendo sido inserido em nosso convívio, certamente, pelos europeus migrantes, pega uma imagem e a coloca na frente do rosto do cangaceiro. Tanto dona Felisbela, quanto o cangaceiro Sabino possuíam, não explicar como, a mesma fé interior. Ao deparar-se com tal imagem, o cangaceiro perverso larga do chicote, guarda o punhal na bainha e deixa Childerico de lado.

“(...) A essa altura, Dona Bebela (Felisbela), em (prantos), correu ao oratório. Tomou nas mãos imagem de Nossa senhora e a colocou rente aos olhos do cangaceiro:

- Poupe nossas vidas! Já lhe demos todo dinheiro e nossos bens! Você não acredita em Deus; em Nossa senhora?

- Ora, deixe de choradeira! Já vem você com essa tapeação? Contrapôs Sabino, com sorriso amarelo.

A estratégia de alguma forma surtiu efeito. O cangaceiro – ignorante, fanático religioso por índole e cultura – temia as coisas do céu. Respeitava os Santos e reverenciava imagens. Teve, decerto, medo de sortilégio que podia advir de atitude tida por “herege”.

Sem mais discussão, largou Childerico (...).” (Ob. Ct.).

Lampião, estava acampado perto dali, havia combinado com Sabino que, tudo dando certo na fazenda, ele enviasse um emissário com a senha “acabado o serviço”. Essa frase, para o chefe pernambucano, significava que ele poderia aproximar-se com segurança. Virgolino percorre a pequena distância entre seu acampamento e a casa, desmonta no terreiro da sala e entra na casa. A partir do momento da sua aproximação, chegada, desmonta e caminhada até onde estava o casal, não escutou som de voz alguma. Naquele momento, apenas sua presença fazia todos calarem-se. Um dos cangaceiros chega bem perto do sofrido administrado, agachasse e lhe pergunta se sabe quem seria aquele que estava em sua frente. Não entendendo o que o prisioneiro respondeu, pois até para falar doí-lhe tudo, o cabra insiste na pergunta. Depois termina lhe dizendo de quem se tratava, de Lampião.

O cangaceiro mor se aproxima mais ainda do prisioneiro, se abaixa e começa a fazer-lhe várias perguntas. Dentre essas, perguntou se seria parente do prefeito de Mossoró, coronel Rodolfo Fernandes. Acreditamos que nesse momento tanto Childerico Fernandes como sua esposa, dona Felisbela, começaram a rezar, encomendando suas almas a Deus, pois ele era parente do Intendente.

Na historiografia do “Rei do Cangaço”, vemos fatos, ações e atitudes com tamanha distinção entre eles, que não sabemos do porquê, agir daquela forma. Em vez de sacar a pistola e atirar na cabeça de Childerico ou puxar seu grande punhal da bainha e sangrá-lo, Lampião começa por pedir que armassem redes para que ele, Sabino e o coronel Gurgel se deitassem. Depois começa a conversar, sem ameaças ou violência com o prisioneiro. Pede-lhe azeite para lubrificar as armas... Tanto fica dono da situação que o preso lhe oferece refeição de carne de gado. Meticuloso, Lampião diz querer comer galinha, as quais estavam no terreiro e todas foram mortas, a tiros, pelos cangaceiros. A comida é feita e todos se empanturram de galinha cozinhada. Conversa vem, conversa vai, de súbito, Lampião ergue-se e ordena que a cabroeira monte que iam partir imediatamente. A coisa seria cômica, se não fosse tão trágica, pois, ao despedirem-se do casal prisioneiro, vão apertar-lhes as mãos e desejam-lhe felicidades. Incrível essa maneira de mudar suas ações. Em repentino momento, muda da água para o vinho. Todos montados, apertam as pernas e aos sentirem as pontas pontiagudas das rosetas das esporas, os animais começam a caminhar para a terra dominada por Padre Cícero.

“(...) Os homens equiparam-se, apressados. Dirigiram palavras amáveis a Childerico e esposa. Apertaram-lhes as mãos. Ensaiaram, brevemente, atos de civilidade.

- Vamos embora! – insistia o líder supremo, algo nervoso.

A malta partia, satisfeita com refeição e sesta.

Em menos de hora cruzaram a fronteira cearense. Lampião alertou os carbonários. Deixou claro que a partir dali o comportamento deveria ser outro. Estavam nos domínios do Padre Cícero Romão. Repetia e advertência:

- Aqui já é Ceará! Pra diante ninguém rouba mais, pois o Governo daqui não bole com a gente! (LUCETTI e LUCENA, 1995,p. 210)(...).” (Ob. Ct.)...

Continua...

Fonte “Lampião e o Rio Grande do Norte – A história da grande jornada” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 1ª edição. Natal, 2005
Foto Ob. Ct.
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