Por: José
Romero (*)
...
“Região situada no Oeste do estado brasileiro da Paraíba, o Vale do Piancó foi
um dos locais por onde a Coluna Prestes esteve em sua incursão. Para muitos
seriam os "Cavaleiros da Esperança", mas para outros, essa corrente
de cunho militar, liderada por Prestes e com idéias comunistas, era mais um
grupo que abalaria a região com suas idéias más, quando com o poder em suas
mãos, não faria nada para ajudar realmente a população pobre da região”.
Formada pela União das Colunas Paulistas e Rio Grandense a Coluna Prestes,
conhecida assim popularmente, mas oficialmente com o nome de Coluna Miguel
Costa – Prestes marchou por 674 dias percorrendo 24.947 Km, passando pelos
seguintes estados: RS, PR, SC, SP, MT, MS, GO, TO, MA, PI, CE, PB, RN, PE, BA,
MG e terminou na Bolívia em fevereiro de 1927 com um total de 53 combates
vitoriosos (invictos), com um contingente variável de 1500 homens. Sua tática
de guerrilha foi conhecida internacionalmente, como uma das mais prodigiosas
façanhas militares da história de guerrilhas; não andavam com menos de 800
homens, consumindo em torno de 100 mil cavalos em sua jornada, não ficavam mais
de 48 horas em um mesmo lugar o que dificultava a sua localização, devido a sua
movimentação rápida. Passando por dois governos, um em sua formação Artur
Bernardes (1922 – 1926) e outro na sua extinção Washington Luiz (1926 – 1930),
mataram por volta de 600 soldados e sofreram perda de 70 oficiais
guerrilheiros. Queriam, e assim foi decidido na reunião de 12 de abril de 1925,
conscientizar a população do interior, predominantemente a rural, do domínio
exploratório do governo, e difundir suas idéias para ter apoio popular, uma
coisa básica em movimento revolucionário. Em seus objetivos, porém, tiveram que
ter atitudes bruscas, como toda revolução, atitudes fortes, que podem
prejudicar o movimento diante dos olhos do povo. Outro motivo que ajudou a
prejudicar sua imagem frente à opinião pública, foi o fato de que ao adentrar
em um vilarejo, roubavam cavalos, alimentos, armas, aterrorizavam a população...
O principal nome dessa aterrorização foi o tenente João Cabanas, que depois de
adoecer em fevereiro de 1925, não se seguiu mais com a Coluna. A Coluna Prestes
entrou no Estado da Paraíba, vindo de Luiz Gomes-RN, até chegar no lugarejo de
Várzea Cumprida, em Pombal- PB. A cidade de Piancó- PB, não constava no
percurso da Coluna, tendo sido incluída de última hora uma vez que a polícia
paraibana havia fechado quase todas as fronteiras do estado a passagem da
Coluna. Em Piancó havia uma briga paroquial onde a oligarquia da família Leite
que tentava expurgar o Deputado Estadual Padre Aristides da sua trajetória
política, este último fortalecido pelo então aliado Governador do Estado, o Dr.
João Suassuna (1924/1928).
* Por: José Romero Araújo Cardoso
“(...)Nas inúmeras conversas sobre a passagem da Coluna pelo desditado
município paraibano, havia incontida emoção quando o velho combatente falava
sobre o Padre Aristides Ferreira da Cruz, vigário e chefe político da cidade
sertaneja literalmente arrasada em fevereiro do ano de 1926.
O Coronel Manuel Arruda de Assis informava que o Padre Aristides nasceu no
então distrito pombalense de Lagoa. Quando de minha fixação no Estado do Rio
Grande do Norte, efetivamente a partir do ano de 1998, fiquei sabendo por
intermédio de informações fornecidas por dileto amigo de nome Raimundo Soares
de Brito, verdadeiro arquivo vivo da cultura potiguar, que o Padre Aristides
havia exercido o cargo de vigário em Caraúbas (RN).
Arruda narrava que o Padre Aristides era inimigo de muita gente em Piancó, mas
que todos o respeitavam. O vigário andava com inseparável F. N. Brown na
cintura, acompanhado de grupos de capangas, era metido em tudo que não prestava
no sertão daquela época, viveu maritalmente com jovem da localidade, tiveram filhos,
enfim, como dizemos no sertão, era mais desmantelado do que vôo de anum molhado
ou galope de vaca amojada.
Quando os informes enviados de Pombal - PB, notificando sobre a passagem da
Coluna Prestes por Malta –PB, chegaram em Piancó- PB, o Padre Aristides se
animou em enfrentar, telegrafando para Júlio Lyra, o chefe de polícia de (João)
Suassuna, comprometendo-se a conseguir dois mil homens em armas em quarenta e
oito horas, prontamente aceito pelo governo do Estado. Não obstante os
esforços, Padre Aristides não conseguiu reunir o número de homens prometido
para a defesa(...)Quando a Coluna entrava em Piancó, descargas certeiras
alvejaram cavalos e cavaleiros. Daí por diante fechou-se o tempo, quando
intenso tiroteio transformou Piancó em praça de Guerra. Vinha de ambas as
partes, mas com maior intensidade, devido ao número de componentes, disparado
pelos integrantes do movimento tenentista originado no sul do País(...)O ódio
que a Coluna Miguel Costa - Prestes passou a devotar ao piquete do Padre Aristides
teve seu recrudescimento quando ato considerado de alta traição inflamou os
ânimos acirradíssimos dos combatentes.
(O)Tenente Antônio Benício, delegado de Piancó,(solicita, através de sinais)
para que levasse quatro fuzis e um cunhete de balas para o piquete dele, ao que
"preá"(espécie de correspondente de guerra) retrucou com toda razão
ser impossível furar as mil modalidades de ataque dos
revoltosos(...)(O)Sargento Manuel Arruda de Assis(teve a idéia e ordenou que se
erguesse uma bandeira branca, com isso tinha-se a chance de abastecer o piquete
do Delegado)(...) o piquete do Padre Aristides aproveitou o momento de
distração da Coluna Miguel Costa - Prestes para intensificar o tiroteio em
direção ao grupo revoltoso. O resultado foi catastrófico, pois a Coluna teve
muitos integrantes mortos e feridos(...)Daí em diante era ponto capital para os
comandados pelo General Miguel Costa e pelo Capitão Luiz Carlos Prestes
chegarem ao piquete do Padre Aristides Ferreira da Cruz(...)o Padre Aristides
quando viu a coisa ficar preta mandou seu guarda-costa, de nome Rufino, subir
no muro para ver o que acontecia. Rufino informou desesperado que a situação
era periclitante, pois se fugissem morriam, se ficassem morriam do mesmo
jeito(...)A luta era nos corredores, nas salas, em todo canto, quando uma ordem
do comandante da investida, que calassem as baionetas de uma vez só, cessou a
luta, enquanto o Padre Aristides pedia incessantemente garantias de vida para
todos(...)Covardemente o comando da Coluna Miguel Costa - Prestes assegurou as
garantias. Todos que estavam na casa, incluindo o Padre Aristides e o prefeito
de Piancó- PB, o Sr. João Lacerda, bem como o filho deste, foram conduzidos a
um barreiro e lá sangrados, um a um, e não fuzilados(...)Padre Aristides,
sentindo-se mortalmente ferido, implorou para que não fizessem aquilo com ele,
pois era um sacerdote católico. As humilhações foram intensificadas, pois o
martírio do Padre Aristides Ferreira da Cruz e sua gente foi um episódio
macabro patrocinado pela ignominiosa covardia, pela efetiva traição de membros
de um movimento que se auto-intitulavam revolucionário, reformista, ou seja lá
o que tenha sido ou digam ter sido, mas que não teve hombridade E nem humanismo
para respeitar as vidas daqueles que já se achavam dominados e impossibilitados
da mínima defesa(...)”.
(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor do Departamento de
Geografia do Campus Central da UERN. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
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