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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

CABY DA COSTA LIMA ENTREVISTA FEITA POR MIM PARA O JORNAL O MOSSOROENSE. NÃO LEMBRO O ANO, MAS FOI ENTRE 2014/2015.

Por Caio César Muniz

CABY DA COSTA LIMA

Entrevista feita por mim para o jornal O Mossoroense. Não lembro o ano, mas foi entre 2014/2015.

Pois é "camaradinha", a entrevista de hoje é com um "bicho dos cabelos encaracolados" que usa tamancos e toma campari.

Assim, lógico, mesmo que não houvesse a foto ao lado ou ainda eu estivesse escrevendo somente para aqueles que só conhecem a voz do irreverente locutor, mesmo assim todos iriam saber que estou falando de Caby da Costa Lima, ou Raimundo Nonato da Costa Lima, como alguns colegas de imprensa afirmam de pés juntos que seja o seu verdadeiro nome.


Bom, identificação à parte, Caby é mossoroense e joga nas onze - locutor esportivo, publicitário, escritor e atualmente idealizador de um site de variedades culturais na Internet.

Acompanhemos a entrevista.

O Mossoroense - Caby, você é mossoroense mesmo?

Caby da Costa Lima - Sim, mossoroense, nascido aos 11 de maio de 1957, mas eu digo carinhosamente que sou de Patu, porque meu pai, José Izídio Lima, que era motorista de táxi, ficava muito orgulhoso quando me ouvia dizer isso. Ele era patuense e eu era o único dos filhos que dizia que era de Patu.

OM - Que recordações você tem da Mossoró da sua infância?

CCL - Olha, veja bem. Era mais fácil viver - com relação à segurança - você ia pro estádio, para uma festa, ou para qualquer lugar, voltava a pé e ninguém mexia contigo. Hoje, você sabe que a violência predomina, a insegurança é grande. Você sai, deixa sua casa fechada, quando retorna alguém tem entrado, levado suas coisas, etc. Por outro lado, existia mais coleguismo naquela época e as amizades eram mais puras, mais saudáveis. A gente não era tão cão, porra-louca como hoje. Mas, de certa forma, fica uma coisa pela outra, porque se naquela época nós tínhamos mais tranqüilidade para viver e hoje não temos, nós também não tínhamos naquela época as opções de lazer que temos hoje. Naquela época você ganhava menos, mas gastava bem menos. Hoje você ganha mais, mas seu lucro é inferior ao que você ganhava antes. Então é assim, Mossoró tinha coisas que já não existem mais, em compensação foram criadas muitas coisas que naquela época nem se imaginava que fossem criadas.

OM - A que você atribui esta falta de "tranqüilidade de viver" que hoje nós já não temos?

CCL - Em grande parte à televisão. Acredita? Esta promiscuidade, esta indecência que existe no Brasil, os sequestros, os assaltos, muita coisa ruim. Quem dá carona para isso é a televisão, esta máquina mortífera.

OM - Como foi o início da sua carreira no rádio?

CCL - Eu comecei no rádio devido ao futebol. E quem me viu jogar sabe que eu jogava direitinho. Então, na rádio Tapuyo, no dia 12 de junho, eu fui participar de um torneio da imprensa contra a Fitema - perdemos de 5 a 1. Lupércio Luís de Azevedo me perguntou então se eu não queria jogar no gol, porque o goleiro estava tomando muito frango. Eu aceitei o convite e fui um dos destaques. Mas daí eu tinha que falar ao microfone para ser da imprensa. Colocaram-me então como repórter suburbano, me deram uma carteirinha, que até deveria ter guardado, mas eu perco tudo, e foi assim que eu comecei no rádio.

OM - Como surgiu a ideia de usar tamancos?

CCL - Não sei, pintou, eu gostei, adorei e uso desde o início do meu período em rádio. Olha, eu ainda vou voltar a estudar para me formar em ecologia. Quando você usa o tamanco, você fica à vontade, você se solta, tira o pé fácil e de repente está descalço. Eu uso tamanco pelo mesmo motivo que não uso cueca, porque sem a cueca eu posso deixar o "bicho" solto como manda a ecologia. Outra coisa, por exemplo, eu não uso camisas de botão, mas três ou quatro pessoas repararam nisso. A questão é a seguinte: se ser feliz é você se amar e se amando dizer o que pensa e fazer o que gosta, então eu sou feliz. Eu uso tamancos apenas porque gosto, não há necessidade de um argumento maior e ponto final.

OM - Mas é verdade que você foi barrado no Maracanã porque estava de tamancos?

CCL - É verdade. Naquela época o tamanco era visto com uma arma nos estádios do Rio de Janeiro, mas eu sabia disto, eu já tinha ido outras vezes, mas olha o que eu fazia. Eu ia pro estádio de tênis, mas levava o tamanco numa sacola. Quando eu cheguei no portão que dá acesso ao elevador às autoridades, o Mário, que era quem ficava na porta, me chamou e disse: "Você sabe que não pode." Mas algumas vezes eu entrei, entrava de tênis, quando chegava na cabina, tirava o tamanco da mochila e calçava.

OM - Você narrou várias partidas de futebol importantes. Qual delas você considera inesquecível?

CCL - Em nível internacional foi o jogo da classificação do Brasil para a Copa do Mundo de 1994 (Brasil x Uruguai) que terminou com dois gols de Romário. Nesta época eu fui transmitir o jogo pela rádio Difusora e o meu repórter foi o Jota Régis. E era aquela coisa muito bonita, aquelas mais de trezentas emissoras do país além das rádios internacionais, todas, uma ao lado da outra. Então, não tinha mais espaço para nós e fizemos uma cabina improvisada muito próxima do gramado. Na hora do gol, já no final do jogo, a coisa foi tão emocionante que o Jota Régis invadiu o campo, lógico, não só ele, mas uma multidão. Foi a primeira vez que eu narrei um gol em dose dupla, porque enquanto eu gritava o gol ele também gritava lá no microfone dele. Aqui em Mossoró, o mais emocionante na verdade eu não narrei, fui repórter. Foi em 1979, em um seletivo para decidir o representante de Mossoró no campeonato nacional. Quem apitou este jogo, é importante se dizer, foi Manuel Amaro, da Federação Pernambucana que apitou também o milésimo gol de Pelé, no Maracanã (Santos x Vasco) em 19 de novembro de 1969. Naquele Potiba, o Baraúnas saiu na frente, fez 1 x 0, terminou o primeiro tempo neste placar, o estádio lotado. No segundo tempo o Potiguar empatou aos 16 minutos, fez 2 x 1 aos vinte e aos 26 minutos fez 3 x 1. Aos 42 o Baraúnas fez 3 x 2 e foi uma doideira. Acho que até hoje quem assistiu aquele jogo guarda aqueles momentos.

OM -A sua passagem pela direção do Potiguar deixou mais alegrias ou tristezas?

CCL - Tristezas e alegrias nós temos em qualquer segmento. Eu fui presidente do Potiguar em 1997 e pela primeira vez um clube de Mossoró foi primeiro lugar em público. O campeonato naquele tempo era diferente, eram seis meses e nós terminamos como vice-campeões. Claro, tiveram dissabores, mas eu deixei pra lá. Cara, eu só não vendi os meus tamancos naquela época, mas "quebrei" de não prestar, eu perdi até o meu jeito de andar. Mas, de certa forma, eu achei isso bom, porque me deu oportunidade de saber quais são as reais adversidades da vida, o que uma "quebradeira" propicia a um ser humano, como ele deve reagir, como fazer para ficar de pé novamente. Foi uma das lições de vida mais importantes para mim pelas dificuldades financeiras que o futebol me impôs e eu não me arrependo de jeito nenhum.

OM - Ficaram mágoas com relação ao time?

CCL - Não. De forma alguma. Teve aí um maluco destes da vida que disse que eu roubei do potiguar. Eu quebrei de não prestar, mas foi uma lição extraordinária, tanto é que quem sabe um dia, no futuro, eu possa voltar a ser presidente do potiguar.

OM - Como ex-presidente, comente a má-fase enfrentada pelo clube.

CCL - Eu acho que o time do Potiguar é tão bom quanto o do Baraúnas, só que não se acertou. Na minha ótica, ele estava taticamente errado, as peças estavam atuando num sistema tático confuso e isso levou à derrocada. Não se concebe que um técnico tenha um jogo, por exemplo, na quarta-feira e na quinta às 14 horas você tenha treino. Isso acaba com qualquer máquina humana. Coloque os carros da Fórmula 1 para correr um grande prêmio no domingo e outro na segunda que eles quebram. Eu acho que Miluir Macedo foi um técnico feliz em 2004, mas foi muito infeliz em 2005. Digo novamente, o Potiguar tem um time muito bom, mas ele foi concebido de maneira errada taticamente. Eu conheço o pensamento da diretoria e sei que fora de campo ela agiu da forma correta. Pode ter cometido erros como todos cometem, mas trabalha com muita transparência, muita honestidade e deu ao técnico do Potiguar os jogadores que ele pediu. Acho que para o Potiguar engrenar é só uma questão de tempo.

OM - Mudando de assunto. Como nasceu O Mancha?

CCL - O Mancha nasceu de um "estalo". Eu estava cobrindo uma transmissão de carnaval ali na rua Coronel Gurgel e o Coroné Pereira - ele não gosta que eu fale, mas eu falo mal até de mim. Por que não vou falar dele? - não pronunciava o "L" das palavras. Era "bicicreta", por exemplo. E, na transmissão, Canindé Alves, que estava comandando pela rádio Tapuyo, perguntou: "Coroné Pereira, quem está se aproximando aí no quartel da folia que eu não estou vendo?" Ao que ele dispara de lá: "Vem aí o crube Baraúna, em seguida o broco Pimpão, mas como eu não estou vendo bem, eu vou pra cima da praça do Espranada e de lá eu dou um pra".

Então eu ouvi isso e fiquei atento.

Eu via nos jornais espaço para polícia, para política, espaço para tudo, menos para o rádio.

Procurei, então, no ano de 1984 o Canindé Queiroz, no jornal Gazeta do Oeste, e pedi um espaço para escrever as "mancadas" da turma da imprensa e passei quatro meses escrevendo sob o pseudônimo O Mancha.

Daí surgiu a ideia do livro que hoje já alcançou vinte e uma edições. Uma delas com mais de dois mil exemplares.

Certa vez, eu trabalhava na rádio Libertadora e José Maria Alves chegou com um abaixo-assinado para que fosse entregue à direção do jornal e eles retirassem a coluna O Mancha. Eu fui o primeiro a assinar.

OM - Nunca houve casos em que as personagens relatadas no livro tentaram matá-lo?

CCL - Não. Houve tentativas de processos, mas depois as próprias pessoas que se indignavam no princípio, me procuravam depois para me "presentear" com outras histórias e estórias que eles ouviam ou mesmo criavam.

OM - A série Do Bumba veio para substituir O Mancha?

CCL - Não. O Mancha ainda está aí, agora como janela no site "azougue.com" como o Do Bumba também nasceu de uma janela do site. Eu comecei a colocar seis fotos por semana e percebi que esta coisa da fotografia tem uma espécie de imã. Então pensei na possibilidade deste resgate em livro. Já saíram dois volumes e já estão esgotando ambas as edições. Tenho recebido muitos pedidos de fora, inclusive de outros países e isso tem me deixado muito feliz.

OM - E esta nova experiência de fazer comunicação na Internet. Como você está encarando isso?

CCL - Olha, esta ideia não foi minha. Quem imaginou este negócio foi o publicitário Brito e Silva. Nós começamos juntos, ele sugeriu alguns tópicos, outros eu criei, mas a parceria foi breve, durou cerca de noventa dias e eu resolvi dar continuidade. Para você ter uma ideia, em fevereiro de 2005 nós tivemos 4.518 acessos, este mês a previsão é de fecharmos o mês com mais de 30 mil acessos no www.azougue.com e isso só me faz crer que estamos no caminho certo.


Enviado elo professor, escritor, pesquisador do cangaço José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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