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sábado, 14 de abril de 2018

MITOS NA HISTÓRIA DO CANGAÇO.


Por Verluce Ferraz

Nem todos concordarão com todas as proposições constantes destas minhas considerações sobre o cangaceiro Lampião quando tento sair dos conceitos populares que colocam o cangaceiro no campo dos seres mitológicos. De certa forma os meus escritos apresentam matéria positiva ou negativa; positiva quando quero mostrar tópicos relacionados à pessoa de Lampião com uma inteligência inigualável; negativa quando alcanço essa mesma pessoa com graves problemas patológicos que o levaram às tendências criminosas. De certa forma quase todos os estudiosos que escrevem sobre a saga do cangaceiro evitam comentar sobre o comportamento destrutivo do criminoso, não apontando os seus crimes como possíveis formas de organização social existentes entre os grupos lampiônicos. Quase tão desorientador e enganoso é terminar um estudo com um desfecho bem sedutor, sem examinar o lado mais obscuro da questão de fato. 


Percebo que é muito mais seguro escrever sobre o cangaço trazendo fatos que estimulem reflexão, utilizando técnicas já conhecidas de alguns, como exemplo, o método arqueológico de do pai da psicanálise. Freud escreveu uma obra bastante condensada, quase esquemática, para explicar algumas das manifestações de pessoas com quadros psicogênicos. 


Lampião era sertanejo e vivia na mesma época em que outras famílias tinham as mesmas dificuldades que seus familiares. O Sertão sempre foi um conjunto de dificuldades para todos, ricos e pobres. Afirmar que Lampião entrou para o mundo do crime com o objetivo de vingar a morte dos pais é estar somente interessado em abreviar as analises e isso não nos parece plausível. Mas, poder-se-ia com justiça ressaltar que, nos crimes do cangaceiro haviam conteúdo de desejos reprimidos que fizeram-no afastar-se do convívio social, quando percebeu o ‘seu lado invertido’; expressão mais definida de um desejo erótico.


Tais transformações tornaram-se mais manifestas no uso de roupas e adornos e pelo apaixonado desejo de ser o Capitão do Sertão. Os sequentes crimes cometidos pelo cangaceiro não parecem ter conexão com o fato de vingar a morte de seus genitores, mas teriam sido desencadeados para reprimir uma fantasia edipiana já que não fez senão repetir indefinidamente seus crimes até o fim de sua existência. O desejo de vingar o pai, seu rival primordial, conforme afirma o pai da psicanálise em seu Totem e Tabu.

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