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sábado, 26 de maio de 2018

LA LUNA

*Rangel Alves da Costa

Estava lendo um poema. La luna o seu nome. E dizia assim: La luna, mulher e lua. Um nome e uma luz. Um beijo na face e um olhar dourado. Ela está lá em cima,  la luna. E quem dera que aqui estivesse, mulher...
A lua de ontem também estava um poema. Minha la luna de solidão. Ela estava cheia, imensa, belíssima e misteriosa. E também perigosa, segundo os crentes nas interferências lunares.
Creio na magia da lua cheia, no seu imenso poder de atrair, envolver, transformar. Basta um simples olhar para a sua face e algo misterioso surge diante do olhar. E também na mente.
No ser humano, é a mente que mais sofre influência da lua cheia. Como é a mente que irradia todas as forças e propensões pelo corpo, então todo o ser passa a ser submetido ao poder daquela luz imensa.
Tento avistá-la apenas na sua beleza, na sua luminosidade indescritível. E trago tal grandeza para o romantismo que aflora, para a nostalgia que ressurge, para a poesia do instante.
Eis que, indubitavelmente, a lua cheia faz o amante ficar propenso a mais amar, o saudoso a entristecer ainda mais, o poeta a encontrar versos jamais imaginados em outras fases lunares.
Eis que a lua cheia desperta a emoção, sentimentalismo, reencontro. Ninguém é capaz de mirar tamanha esfera dourada e se fazer de forte ou de alheio ao que ela forçosamente transmite.
Eis que ninguém consegue simplesmente mirar a lua cheia e depois retornar o olhar sem trazer na íris todo um mistério indecifrável, toda uma força que poderosamente age pelas entranhas adentro.
Nesta noite não pude, pois numa cidade sem campo aberto ao redor, mas gostaria de ter esperado essa lua do alto duma montanha ou em cima de uma pedra grande. E abrir os braços e erguê-los para o alto como se desejasse abraçar toda a luz.


E conversar com a lua cheia, dialogar com seus segredos e mistérios, me confessar escravizado diante do poder de sua luz. E somente assim conseguir sair de lá sem me deixar levar por aquele clarão. E subir e subir, ou descer e descer...
Fico imaginando quanta ação dessa lua perante homens, animais, águas e todos os elementos da terra. Tenho a máxima certeza que não há um só elemento sobre a terra, um só grão de areia, que naquele momento não estivesse sendo afetado pela força e poder da lua cheia.
Os loucos, coitados, mais enlouquecidos ainda, transtornados e transformados, envoltos no dilema de querer subir a qualquer custo até alcançar o imenso anel. E assim porque atraídos para o amor da lua, para a paixão da lua, para o inexplicável da lua.
Os loucos, pobres coitados, tentando a todo custo fugir daquela luz chamejante, buscando se esconder para não ter de mirar aquilo que se alastra para ferir, machucar, dilacerar a alma.
Mas não consegue, pois nada consegue se esconder ou fugir da lua cheia. Os loucos se amarram a objetos, trancam portas e janelas, correm para esconderijos, mas nada disso surte qualquer efeito. E de repente já estão do lado de fora, com as mãos sobre a cabeça, gritando, já sem forças para evitar que ela os chame ao alto.
Sob o clarão do luar, os apaixonados se ajoelham, os amantes se tornam vorazes, as inocências só pensam em pecar, os pecados afogueiam os corpos, os copos são transbordados, os seres se entregam sem medo.
Nas distâncias das águas os barcos e velas naufragam com a força das ondas, com os movimentos revoltosos dos azuis. Os cais são povoados por seres estranhos, de pessoas que vagueiam perdidas, e todas desejosas de ir beber da luz do luar sobre as águas.
E eu nem sabia mais o que fazer. A noite tão bela, a lua tão cheia, a lua chamando, e fui. Segui até a janela para novamente voltar o olhar para o alto e ver se na lua avistava o eu poeta que já havia sido chamado. E tive que reencontrá-lo lá em cima.
Minha la luna estava lá em cima. E eu apenas aqui. Apenas aqui.

Escritor
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