por Paulo Goethe
Arte Silvino - Diário de Pernambuco
Em abril de 1937, o repórter Fernandes de Barros foi enviado pelo Diário de Pernambuco para mostrar como as chuvas haviam mudado o cenário no interior do Nordeste. O seu relato, publicado no dia 24, com direito a quatro fotos feitas por ele, apresentava uma realidade que poderia escandalizar os leitores do litoral. Pior que a estiagem, quem vivia no semiárido sofria mais era com o banditismo, agravado por extorsões e saques praticados pelas volantes, que deveriam manter a ordem e o direito.
A reportagem de Fernandes de Barros apresentou uma abordagem que vem ganhando força entre os pesquisadores do fenômeno do cangaço nas últimas décadas. Entre 1919 e 1927, agiam no interior nordestino pelo menos 54 bandos armados. Essa movimentação gerava uma instabilidade econômica em uma região que já apresentava um desenvolvimento inferior em relação ao Centro-Sul do país. Todos os setores produtivos da sociedade sertaneja sentiam-se ameaçados. Além dos saques nas pequenas cidades e ataques a fazendas, Lampião – o mais famoso dos cangaceiros, que só saiu de cena em julho de 1938 – instituiu uma nova modalidade criminosa: o sequestro.
Os fazendeiros não estão dispostos a arriscar a vida morando em sua propriedade. Há o êxodo para as cidades. Agora, não mais pelo flagelo da seca: por uma questão social. Se ficarem trabalhando, no fim da safra Lampião iria buscar o dinheiro da venda do algodão e do gado que levara para Rio Branco (atual Arcoverde). O pobre que passou os doze meses do ano embrenhado na fazenda plantando e criando para sustentar a família é obrigado a dar tudo aos bandidos e ainda fica preso para resgate. Tem de escrever aos comerciantes seus amigos pedindo dinheiro, como muitas vezes já tem acontecido.
Quando o cangaceiro sai, vem a polícia. Acusa-o de coiteiro e lá é o homem preso de novo e será feliz se não for bater com os quartos na cadeia, e não levar uma surra, como sucede sempre e como se deu ano passado nos arredores de Alagoa de Baixo, conforme as reportagens publicadas a respeito nesta folha.
Resultado: para resolver essa grave situação, os fazendeiros prejudicados não trabalham e vivem na cidade esperando que os bois e os cabritos cresçam em abandono, para terem com que se manter.
Imagem: Blog do Crato |
Durante 16 anos, de acordo com Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, autora de "A derradeira gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no sertão", Lampião impediu o fortalecimento de uma camada intermediária economicamente autônoma no interior nordestino. Luitgarde é a mais contundente crítica da ação dos fora da lei na região.
Ela calcula que, a partir de 1930, quando Lampião dividiu os cangaceiros em subgrupos, foram realizados cerca de 10 saques que rendiam 5 contos de réis por dia. Em 15 anos, a extorsão de pequenos e médios produtores sertanejos teria rendido a fortuna de 273 mil contos de réis, dinheiro suficiente para manter postos de pronto-socorro em cinco estados, além de uma Escola Normal e uma Profissional em cada um.
Enquanto os governos do Sudeste conseguiam subsídios para investir em produção e pesquisa, no Nordeste boa parte do dinheiro público era destinado ao combate à criminalidade. De acordo com Luitgarde, somente a Bahia recebeu 400 mil contos de réis para ação de combate ao cangaço, isso sem representar melhoria das estradas ou aparelhamento da polícia.
José Anderson Nascimento, em Cangaceiros, coiteiros e volantes, ressalta que o banditismo causou ainda uma grande queda de arrecadação nos estados nordestinos. Os cangaceiros assaltavam coletorias, incendiavam documentos, destruíam equipamentos. “Os fiscais não podiam viajar”, acrescenta. Luiz Bernardo Pericás, em seu livro Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica, ratifica a tese de que a criminalidade fez a diferença negativa no Nordeste.
Ela calcula que, a partir de 1930, quando Lampião dividiu os cangaceiros em subgrupos, foram realizados cerca de 10 saques que rendiam 5 contos de réis por dia. Em 15 anos, a extorsão de pequenos e médios produtores sertanejos teria rendido a fortuna de 273 mil contos de réis, dinheiro suficiente para manter postos de pronto-socorro em cinco estados, além de uma Escola Normal e uma Profissional em cada um.
Enquanto os governos do Sudeste conseguiam subsídios para investir em produção e pesquisa, no Nordeste boa parte do dinheiro público era destinado ao combate à criminalidade. De acordo com Luitgarde, somente a Bahia recebeu 400 mil contos de réis para ação de combate ao cangaço, isso sem representar melhoria das estradas ou aparelhamento da polícia.
José Anderson Nascimento, em Cangaceiros, coiteiros e volantes, ressalta que o banditismo causou ainda uma grande queda de arrecadação nos estados nordestinos. Os cangaceiros assaltavam coletorias, incendiavam documentos, destruíam equipamentos. “Os fiscais não podiam viajar”, acrescenta. Luiz Bernardo Pericás, em seu livro Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica, ratifica a tese de que a criminalidade fez a diferença negativa no Nordeste.
De acordo com o jornalista Moacir Assunção, cujo livro Os homens que mataram o facínora: a história dos grandes inimigos de Lampião abordava os principais perseguidores do mais famoso cangaceiro, Virgulino Ferreira da Silva precisava manter a região que dominava bem longe do progresso: “Sagaz, ele percebia que o desenvolvimento do sertão conspirava contra o seu domínio.
Afinal de contas estradas, telégrafo, melhores comunicações e crescimento das vilas trariam, com certeza, mais soldados e proteção às pequenas povoações do interior. O seu tempo, como notava, passaria quando o sertão estivesse em melhores condições”.
No início da década de 1930, o caminhão passaria a ser mais usado como meio de transporte de tropas, constituindo uma poderosa vantagem para os inimigos do bandoleiro, em pleno governo Getúlio Vargas. Lampião chegaria a ameaçar alguns donos de caminhão que cediam seus veículos ao transporte de “macacos”. Menos de quatro anos depois, era a vez de entrar em cena as metralhadoras, que decretaram o fim dos cangaceiros.
Pescado no Diário de Pernambuco
Afinal de contas estradas, telégrafo, melhores comunicações e crescimento das vilas trariam, com certeza, mais soldados e proteção às pequenas povoações do interior. O seu tempo, como notava, passaria quando o sertão estivesse em melhores condições”.
No início da década de 1930, o caminhão passaria a ser mais usado como meio de transporte de tropas, constituindo uma poderosa vantagem para os inimigos do bandoleiro, em pleno governo Getúlio Vargas. Lampião chegaria a ameaçar alguns donos de caminhão que cediam seus veículos ao transporte de “macacos”. Menos de quatro anos depois, era a vez de entrar em cena as metralhadoras, que decretaram o fim dos cangaceiros.
Pescado no Diário de Pernambuco
http://lampiaoaceso.blogspot.com/2017/03/opinioes.html
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