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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

LEMBRANÇAS DE BELMONTE 2: UMA MORTE PREMATURA


Por Junior Almeida

Além da enorme bagagem cultural e aprendizado, um dos momentos mais interessantes e gratificantes dos encontros do Cariri Cangaço, é a interação entre seus participantes, quem vêm de vários lugares do Brasil. Durante as palestras e visitas técnicas, alguns momentos de descontração, assim como nos deslocamentos e nas folgas das atividades são imprescindíveis na relação das pessoas.

São contados causos e anedotas, trocadas experiências entre pesquisadores e, sempre sai alguma conversa sobre fatos de temática nordestina de oitenta, noventa, cem anos atrás, e até datas mais antigas, curiosamente como se fossem relatos de passagens da semana anterior ou do mês passado. Acho fantástico esse tipo de coisa.


Por exemplo, no terceiro dia do encontro de São José do Belmonte, Pernambuco, quando nos dirigíamos de ônibus à Casa da Pedra, local onde em 1924 Lampião se escondeu para tratar de um grave ferimento no pé, e à Pedra do Reino, lugar de um funesto movimento “Sebastianista” em 1838, na área da Serra do Catolé, conversa vai, conversa vem, resenha pra lá, resenha pra cá, o “paraibano” de Mossoró, ou “norte rio grandense” de Nova Floresta, o confrade Kydelmir Dantas, se saiu com essa:

Segundo “Kydel”, o centenário avô de um amigo, residente em Mossoró precisaria saber de uma má notícia, e ele foi o encarregado da ingrata tarefa. É que um dos seus tios, Zequinha, beirando os oitenta anos tinha falecido, e por ser ele o xodó do velho foi escolhido pelos demais parentes para dar tal notícia. O amigo de Kydelmir resolveu então dizer da morte à prestação. Primeiro disse ao avô que o tio tinha adoecido e que tinha precisado ficar internado em um hospital. O velho até que aceitou bem. – Bom. – Pensou ele.

Na manhã do outro dia, já depois do velório e o enterro, o patriarca ficou sabendo pelo neto que o estado de saúde do seu filho tinha se agravado. O cabra até se surpreendeu com a tranqüilidade do avô, então resolveu “abrir todo o jogo”, mas, preocupado, ainda pensando no abalo que a notícia poderia causar ao avô, deixou para o final da tarde.

Já perto de ouvir a difusora da igreja tocar a Ave Maria, o neto disse ao seu avô de 106 anos que o tio Zequinha, de 78, havia falecido, e por recomendação do médico que tinha o atendido, já tinham inclusive o enterrado. “Soltou a bomba” para o velho e ficou apreensivo, esperando ele passar mal, uma crise de choro ou algo nesse sentido. Nada. 

Pensativo, com a mão no queixo e o olhar distante, o velho disparou:

Zequinha sempre teve a saúde delicada. Bem que sua avó dizia que era bem capaz desse menino não se criar...

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