Por Susi Ribeiro Campos
Wilson Ribeiro e Susi Ribeiro filho e nora dos ex-cangaceiros Sila e Zé Sereno
Boa Noite
amigo José Mendes Pereira lá de Mossoró no Estado do Rio Grande do Norte, como
lhe prometi, venho finalizar meu relato sobre minha convivência com minha sogra
Sila. Em 13 de novembro de 1995 meu pai que já morava em Rio Claro sofreu um
derrame Cerebral, e minha mãe em desespero nos telefonou avisando.
Wilson meu
esposo e eu, corremos para casa de meu pai que já se encontrava internado, e
após 12 dias de internação veio a falecer no dia 25 do mesmo. Meu casamento com
Wilson já estava marcado e resolvemos nos casar mesmo eu ainda estando de luto
por meu pai, pois era um grande desejo dele que nós casássemos e nosso também. O
casamento foi então uma cerimônia simples, apenas os noivos, minha mãe que já
demonstrava sinais de Mal de Alzheimer, nossos padrinhos e alguns amigos. Sila
estava no Nordeste e a família de Gilaene não compareceu.
Prosseguimos nossa
vida, Sila estava trabalhando em suas reportagens, minha mãe ficou
completamente sozinha e doente em uma casa enorme..., tive que deixar Wilson em
São Paulo trabalhando para cuidar de minha mãe em Rio Claro.
Logo no início
de 1996 Wilson sofreu seu primeiro derrame cerebral, estava sozinho em casa,
pois eu estava cuidando de minha mãe em Rio Claro. Foi socorrido às pressas
pelos vizinhos que o viram cair e rastejar até a escada da frente da casa,
pedindo ajuda.
Foi por eles
encaminhado imediatamente ao Hospital da USP e logo me ligaram avisando. Não
tive tempo para pensar, peguei minha mãe doente e fui com ela para São Paulo.
Graças a Deus Wilson não apresentava maiores sequelas, apenas um problema na
mão direita.
Avisei uma
amiga em Rio Claro para cuidar dos meus animais e fiquei na casa de Sila
cuidando dos dois, de minha mãe, que já se encontrava bem desorientada, e de Wilson
acamado. Algum tempo depois, Sila foi avisada e retornou do Nordeste.
Voltei para
Rio Claro com minha mãe, e Sila ficou cuidando do Wilson que já estava quase
bom e Graças Deus, como um dia eu havia
previsto, havia parado completamente de beber qualquer tipo de bebida alcoólica e cigarro.
Minha mãe
queria permanecer em sua casa, então Wilson começou a pedir transferência para
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz ESALQ em Piracicaba-SP, cidade
próxima a Rio Claro para que pudéssemos cuidar de minha mãe. Afinal, Sila tinha
Gilaene e três netos adultos!
Nós mudamos e
cuidei de minha mãe por cinco anos, até seu falecimento por falência dos órgãos. Permanecemos em Rio Claro, pois agora Wilson trabalhava em Piracicaba e
sonhava com a aposentadoria.
Sila foi
muitas vezes nos visitar, levava suas novas histórias, seus trabalhos. Wilson
sofria muito com reumatismo (gota) herança do álcool e por várias vezes cuidei
dele em casa. Lembro-me de uma vez em que ele piorou muito, o reumatismo
agravou-se para febre reumatoide, e ele não conseguia andar. Através da ESALQ
ele foi internado em Piracicaba, e Sila veio de São Paulo, mas ele não tinha
alta nunca, sua internação já contava 17 dias.
Wilson pedia
que a enfermagem nos telefonasse, estava desesperado para sair, o médico não
lhe dava alta, acredito que devido a persistência da febre. Nós duas,
desesperadas em casa, comecei a ficar indignada com aquela situação, liguei
para o Hospital, mandei chamar o médico, que negou a alta.
Eu sabia que
correria riscos pela saúde dele, mas ele implorava para ficar em repouso em
casa e uma febre, Deus me ajudaria a controlar. Então respondi ao médico, do
qual, não me recordo o nome: "- O Senhor pode dar alta a meu esposo, pois
daqui há no máximo quarenta minutos estarei aí para buscá-lo"(tempo de
viagem entre Rio Claro/Piracicaba).
O médico se
ofendeu e em tom áspero do outro lado da linha gritou: "- A Senhora sabe
com quem está falando?" rsrsrsrsrs.
Ao que lhe
respondi enfaticamente: "Não me interessa, você pode ser o Papa, vou aí
buscar meu marido e não saio daí sem ele de jeito nenhum".
Sila me olhou
assustada:" Parece Lampião" rsrsrsrs com certeza de onde ele
estivesse deveria estar nos protegendo e orientando sim. Chovia muito, entramos
no carro e eu disse a ela: “Confie Madrinha, vamos buscar nosso Wilson". Ela
sorriu, e assim como eu, confiante no Bom Deus e seus anjos.
E o trouxemos
de volta para casa, Graças a Deus!
Logo que
Wilson se recuperou Sila aproveitando sua estadia em Rio Claro realizou um
Lançamento e Exposição de seu Livro: Sila, memórias de Guerra e Paz, era o ano
de 2001 e foi a última vez que a vi com saúde.
Logo Sila
voltou a seus trabalhos no Nordeste e Wilson e eu passamos por uma fase muito
difícil de nossas vidas (quando nos afastamos por completo de Gilaene), as
tentativas de engravidar através de fertilização in vitro em Sorocaba-SP, a
tristeza devido aos resultados dos exames de infertilidade dos dois, os três
abortos e o falecimento de nosso único filho ao nascer, natimorto.
Após esse
período, doei todo meu enxoval para as crianças carentes e começamos a fazer
planos e entrevistas para adotar uma menina. Mas infelizmente não houve tempo, porque
em 12/02/2003 Wilson faleceu de ataque cardíaco e derrame cerebral. Gila foi
chamada pelos estranhos que roubaram minha casa, veio ao enterro, recolheu tudo
que pertencia ao Cangaço e estava com Wilson e foi embora, sem ao menos uma
palavra... Sila apareceu no enterro em cadeira de rodas...essa imagem me marcou
muito, ela era tão forte.
Dois anos mais
tarde, em Janeiro de 2005, lutando sozinha para reconstruir minha vida, fiquei
sabendo através dos antigos vizinhos de São Paulo, que Gila havia vendido a
casa de Sila, que na verdade lhe pertencia e Sila estava internada em um Asilo
em Guarulhos!
Consegui o
telefone e liguei.
Do outro lado
a enfermeira atendeu:
- Você que é a
Susi?
Respondi:
- Sim, sou eu,
porque?
- Olha, dona
Sila já está muito debilitada, mas é consciente e chama muito por você. Diz
que você é a pessoa que virá tirá-la daqui.
Quem me dera!
Pensei comigo, mesmo que eu quisesse... eu ainda não estava restabelecida e
sofria muito, morava no meio de ruínas nessa época. Uma chácara em construção
no meio do mato. Pedi para falar com ela, ela chorou ao telefone, e eu também. Prometi:
- Madrinha, quando
minha situação melhorar você vem morar comigo, tá?
Sila, mais
conhecida como Ilda Ribeiro de Souza faleceu no dia 15 de fevereiro de 2005 em
São Paulo e foi enterrada ao lado de seu esposo e também ex-cangaceiro Zé
Sereno, José Ribeiro Filho.
Encontrou sua
tão querida Paz.
Descanse em
paz Sila, um dia iremos todos nos reencontrarmos. Muito Obrigada porque Tudo,
mas tudo mesmo, valeu a pena, a seu lado e de "Nosso Wilson".
Com carinho da
nora.
Susi Ribeiro
Campos.
Enviado pela a autora.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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