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seu respeito. Mandou um portador saber se era verdade o que lhe disseram. A resposta do proprietário e criador de gado foi afirmativa. Então, o mesmo portador que levara a resposta voltou dizendo que a qualquer hora o Capitão visitaria o povoado, para ter certeza da valentia do chefe do lugar. Nesse povoado não havia soldados para manter a ordem e garantir a segurança dos moradores. Havia apenas um subdelegado civil e um inspetor de quarteirão. Depois que a notí. cia espalhou-se, o povo ficou bastante apreensivo, querendo inclusive abandonar suas atividades. Porém o chefe (Zé Braz) tranquilizou a todos dizendo que o senhor Pequeno, inspetor do povoado, era um homem muito disposto e que de modo algum tinha medo dos cangaceiros. Além disso, haviam contratado dez homens corajosos para defender o povoado. Diante das precauções tomadas, não havia razão para ninguém retirarse. O senhor Pequeno não iria permitir que bandidos desmoralizassem aquele povo. Os voluntários recebiam um salário acima do normal, naquele tempo, e em virtude de ser uma missão perigosa recebiam café, almoço e ceia. armas de fogo e munição para enfrentar os foras-da-lei. A expectativa era grande nos primeiros dias, mas os cangaceiros não deram sinal de vida durante meses. Ninguém dava notícia do Capitão. A feira que quase acabara estava voltando ao seu ritmo normal. Além do senhor José Braz, se destacavam ainda os senhores José Patrício e José Alvino de Queiroz, sem falar no senhor Pequeno que dizia a todos com plena convicção, que os cangaceiros não iriam cumprir o recado enviado pelo Capitão, garantindo ao senhor Zé Braz que "dois bicudos não se beijam". O senhor José Braz todavia, tinha suas dúvidas, e como chefe, repetia as mesmas instruções de sempre para o inspetor, perguntando se os voluntários enfrentariam mesmo os bandidos, correndo o risco de morrer lutando. O inspetor sempre respondia: "Vá dormir descansado, que cangaceiro só entra aqui depois que eu estiver morto com meus companheiros, o que é muito difícil". Entretanto, o senhor José Braz não duvidava da audácia de António Silvino e esperava-o a todo momento. Dizia sempre que António Silvino era audacioso e felino como um gato selvagem, e que a qualquer instante apareceria. Ficava de prontidão em sua residência. Seus colegas José Patrício e José Alvino, também aguardavam nas suas casas.
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Quando a
maioria já pensava que o Capitão desistira de invadir o povoado, num dia de
segunda-feira, na hora em que a feira estava repleta de pessoas, surgiram por
trás do cemitério os cangaceiros, fazendo alguns disparos para o ar,
amedrontando os feirantes. O senhor Pequeno e seus homens romperam fogo contra
os invasores. O Capitão António Silvino revidou com tamanha violência e rapidez
que impressionou o inspetor, de maneira que o mesmo, tomado de medo, fugiu com
os seus companheiros voluntários, enquanto os outros, sem comando, abandonaram
o campo de luta. Os senhores Alvino e Patrício ocultaram-se diante do perigo,
haja vista que naquele momento o povoado estava entregue aos "fora-da-lei".
O senhor José Braz ficou sozinho, entrincheirado num prédio de primeiro andar
que era a sua residência, sustentando o tiroteio até a munição acabar.
DONA JOSEFA LUCENA HERÁCLIO RELATA ESSE FATO
Dona Santa Heráclio conta que esse acontecimento ocorreu no dia 12 de junho de 1912. António Silvino invadiu o povoado de Santa Maria, acompanhado de vinte e quatro cangaceiros. Após dominar o lugar, ocupou o mercado público como se fosse legalmente um oficial do governo. O irmão de Dona Santa, Miguel Braz Pereira de Lucena, temendo ir pela rua, foi de telhado em telhado até conseguir chegar no mercado para conversar com o Capitão, na esperança de que ele mudasse de ideia e não matasse seu pai. Os cangaceiros ficaram admirados com a audácia do Dr. Miguel (era advogado), especialmente pela eloquência e maneira de falar com o Capitão, dizendo-se amigo e na certeza que pouparia, a vida do seu genitor. Soltando gracejos, os cangaceiros disseram que teria sido ótimo caso o tivessem visto andando por cima das casas, pois certamente receberia uma bala muito certeira. António Silvino ordenou que seus cabras terminassem as brincadeiras e disse para o Dr. Miguel: - "Foi até bom você vir se entregar, porque ficou mais fácil de sangrar seu pai. Você ficará aqui enquanto eu vou matar seu velho". Ordenou aos companheiros não fazerem nada com o advogado e nem deixá-lo fugir, o que os cabras cumpriram à risca, e foi com outros capangas matar o Coronel José Braz que se encontrava com a família, no primeiro andar de sua residência. O Capitão, aos gritos, perguntava se José
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Braz preferia
morrer em cima, no sobrado, ou na calçada da rua. Nesse momento, José Braz
desceu a escadaria acompanhado de sua filha Santa, dizendo: "Você só
chegou à minha porta, porque as balas acabaram e já não tenho com que me
defender". Os cangaceiros fizeram um círculo, dentro do qual ficaram
António Silvino, o Coronel José Braz, Jararaca e Santa. O Capitão iniciou,
dizendo: "José Braz, você sabia que não podia comigo e por que ficou
contra mim? Agora vai morrer sangrado como um porco". Com um punhal
chamado "bico de lavandeira" na mão, colocava a ponta do mesmo na
garganta do Coronel. Santa, que de tudo participava, tomou posição entre o
cangaceiro e seu pai, sustentando a lâmina da arma, e pediu: "Mate-me, mas
deixe meu pai vivo, eu lhe suplico" O Capitão retirou o punhal, no entanto
continuou torturando-o com sua arma, que encostava ora no peito, ora na barriga
do seu inimigo, ouvindo as súplicas da moça. Já estavam sem condições de
suportar tanto sofrimento e humilhação, quando António Silvino afastou-se um
pouco e o cangaceiro Jararaca aproximou-se de Santa, dizendo baixinho no seu
ouvido: — "Não tenha medo, moça. Seu pai não vai morrer. Quando ele quer
mesmo matar, não judia".
MOMENTO DE CORAGEM DA MENINA SANTA
Atualmente, ao relatar esse fato, D. Santa diz que as palavras de Jararaca, naquele momento, foram mesmo que uma injeção energética, tornando-a mais tranquila e ao mesmo tempo afoita, chegando a dizer ao Capitão: —"Você só mata Papai, porque o meu noivo não está aqui". Ele observando-a, sem maltratar o Coronel, perguntou: —"Quem é seu noivo, menina?". Ela respondeu: - "É Jerônimo Heráclio". O Capitão, muito sério, guardou a arma e disse para José Braz: "Você não vai morrer agora; agradeça à sua filha, que me impressionou com tanta coragem. E além disso, não quero encrencas com os Heráclios, Agora, tem uma coisa: mande para mim dois contos de réis, pelo Coronel António Farias". Naquele tempo, dois contos de réis era muito dinheiro, mas o Coronel foi obrigado a cumprir a palavra. O senhor Jerônimo Heráclio foi de opinião que o seu futuro sogro mandasse o dinheiro imediatamente, servindo ele mesmo de portador para entregar a importância ao Coronel
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António Farias
(pai do senhor Severino Farias e avô do Dr António de Arruda Farias,
ex-Prefeito do Recife)
O Coronel António Farias era amigo do Capitão, e párente do senhor José Braz, que forçado pelas circunstâncias, continuou amigo do Capitão, que recebeu o dinheiro, dizendo: "Só perdi a amizade de José Braz por causa daqueles macacos safados", referindo-se ao Sargento João Nunes e ao Cabo António Tetéu. Por ter dado pousada aos soldados, o Capitão achou que o Coronel havia se tornado inimigo seu, daí os recados desaforados e os preparativos que culminaram com o encontro e invasão do povoado por vinte e quatro cangaceiros, juntamente com seu chefe, quando incendiaram quase todas as casas comerciais, após retirar e fazer entrega ao povo de tecidos, géneros alimentícios e tudo que encontraram. Somente o dinheiro em cédulas António Silvino guardava. Níquel, prata e cobre eram distribuídos com os curiosos que já haviam invadido o lugar a chamado do "bandido-chefe". Foi verdadeiramente um dia de juízo para os moradores do povoado. Os amigos do Coronel José Braz, que tanto o incentivaram, sem falar no senhor Pequeno, se omitiram de aparecer na hora difícil. Eram eles José Patrício e José Alvino de Queiroz que, tempos depois, demonstraram tanta audácia sob o comando do alferes Teófanes Ferraz Torres. O senhor Pequeno, ex-inspetor, com vergonha de apresentar-se ao chefe político (o único a enfrentar os cangaceiros) , demorou muito tempo a aparecer, e quando voltou não era mais o valentão de antes. O senhor José Braz (que também ocupava o posto de sub-delegado) demitiu-o.
DONA SANTA NÃO ESQUECEU A BOA AÇÃO DO CANGACEIRO JARARACA
Após afastar-se da senhorita Santa e do Coronel, Antonio Silvino foi para o mercado público onde o Dr. Miguel Braz Pereira de Lucena se encontrava sob a guarda incómoda de vários cangaceiros. Ao chegar, chamou seus companheiros para irem embora, dizendo ainda: "Não matei José Braz, nem vou matar o Dr. Miguel". Enquanto o Dr. Miguel esteve com os cangaceiros aguardando o desfecho daquele triste dia, não demonstrou muito medo, mas o contrário, conversando com eloquência, impressionando aos bandoleiros.
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O Capitão
disse ao Dr. Miguel: "O seu pai sabia que não podia comigo". Após
esse encontro, retirou-se com seu grupo, deixando os habitantes do povoado
sofrendo os prejuízos material e moral por muito tempo. Santa ficou muito grata
ao cangaceiro Jararaca e ainda hoje tem gravado na mente o perfil do mesmo:
homem preto, de estatura elevada, timbre de voz bonito e olhos verdes. Apesar
de sua cor preta não era feio, e pareceu-lhe até bonito naquela hora tão
amargurada. Ainda hoje ela comenta: "agradeço e ainda ouço aquelas
palavras de esperança, pronuncia, das por um bandido num momento tão difícil.
Diariamente, faço preces a Deus por sua alma". Era um verdadeiro inferno
na época de António Silvino, naquelas regiões. Naqueles dias ela contava com
apenas 16 anos de idade. No ano seguinte, em 1913, com 17 anos casou-se com o
senhor Jerônimo Heráclio do Rego, homem azogado, muito trabalhador e honesto.
Infelizmente por motivo de internet perdi a fonte.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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