Agência Estado
ISTOCK/FOTO
ILUSTRATIVA
A mulher de 24
anos relata que deixou os abusos em segredo por muito tempo por sentir culpa,
medo e vergonha.
Em meio aos
depoimentos de mulheres que contam ter sido abusadas pelo médium João de Deus
está o da Flávia (nome fictício), de 24 anos. Ela afirma que deixou a
violência sofrida guardada por anos por sentir culpa, medo e vergonha. A
seguir, o relato:
“O abuso
aconteceu quando eu tinha 20 anos. Mas, antes disso, eu já frequentava a
CDI (Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia) por anos, desde meus
13. Eu tinha um carinho muito grande pelo médium João (de Deus), sempre fazia
questão de cumprimentá-lo. Em uma viagem, se não me engano em janeiro de 2015,
fui na sala dele após os atendimentos da manhã, provavelmente eu fui pelo fato
da entidade me pedir para ir falar com ele, pois nessa época eu pedia ajuda
pelo vestibular.
MAIS SOBRE O
ASSUNTO
Nessa parte,
eu não lembro muito bem o que conversamos, mas o abuso foi quando ele me levou
para um corredor na sala, e me pediu para ficar de costas, nisso me falou que
iria passar energia. Muito rápido ele levou a minha mão para o pênis
dele e pediu para que eu mexesse o quadril. E eu fui fazendo, mas sem
entender nada, apenas pensando o que está acontecendo?
Após isso, ele
me levou para o banheiro, onde tem uma cadeira, e essa cena é forte na minha
cabeça: eu estava praticamente masturbando ele, ele sentado e eu de
joelhos, chorando, não entendendo nada. Não lembro se ele pediu para fazer sexo
oral. Quando acabou o ato, essa outra cena também ficou marcada: eu lavando a
mão na pia e chorando muito mesmo, e ele do lado falando que eu não
precisava chorar.
Foi apenas
essa vez que aconteceu, porque em nenhuma outra vez eu estava sozinha com
ele ou, quando entrava, era conversa muito rápida, pois havia mais pessoas
para conversar com ele. Eu decidi não contar para ninguém, pois foi tempo até
relacionar isso como um abuso.
Eu guardei
isso por anos. Primeiro porque você se sente culpada, se questiona
porque deixou que isso acontecesse. Vergonha, medo, como eu iria denunciar
uma pessoa que tem uma legião que o acompanha e que tem uma enorme força em
todos os sentidos?
Minha família
frequentava a CDI também, houve curas em nossa família. Eu não queria estragar
essa fé deles também, sabe? Então decidi que esse seria meu eterno segredo. Eu
coloquei esse abuso como uma coisa para meus subconsciente esquecer, para
evitar pensamentos, traumas e paranoias.
Estou chocada
pelo fato disso ter acontecido com centenas de outras mulheres. Eu voltei
algumas vezes na CDI após ter acontecido o abuso, mas pelo fato de ter fé nos
trabalhos das entidades, evitava ele e o meu carinho por ele deixou de
existir.”
https://www.metropoles.com/brasil/decidi-que-seria-meu-eterno-segredo-diz-vitima-de-joao-de-deus
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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