Conta-nos o
Doutor Helvécio Neves Feitosa em seu “Pajeú em Chamas” uma história bem
interessante narrada pelo também escritor Nertan Macedo, envolvendo nada mais
nada menos do que o célebre cangaceiros Luiz Padre, que junto com seu primo
Sinhô Pereira “incendiou” parte do Nordeste até o início da década de 1920,
quando fugiram para Goiás deixando seu bando sob comando de Virgulino Ferreira,
o Lampião, que viria se tornar o mais conhecido e temível cangaceiro de
que se têm notícias. Foi assim:
Ainda
cangaceiro no Nordeste, Luiz Padre gostava de fazer piada quando tinha que
viajar. Tinha uma montaria predileta, um burro, que chamava de “Padre Cícero”,
o que aos ouvidos dos sertanejos, era um insulto, uma verdadeira heresia contra
o santo patriarca de Juazeiro do Norte, um atentado contra a pureza do velho
sacerdote e dos seus seguidores, os romeiros.
Assim brincava
Luiz Padre:
-“Arreia Padre
Cícero pra mim, que vou fazer uma viagem...” dizia, a título de gozação, o combatente, o guerreiro do Pajeú, filho do Padre Pereira.
Certo dia a
história chegou aos ouvidos do Padre Cícero. Em 1919, ao decidir abandonar a
vida cangaceira, Luiz Padre foi ao Juazeiro para aconselhar-se, pedir a bênção
e ajuda ao velho sacerdote. Adentrou a casa do reverendo como um romeiro
qualquer. Apresentou-se. Ao tomar conhecimento de quem se tratava, o Padre
Cícero replicou calmamente:
-“Menino, você
já viu burro dar conselho a alguém?”
Luiz Padre,
homem acostumado com as lutas do Sertão, ficou desconcentrado. Então o Padre
Cícero sabia da brincadeira? Permaneceu calado, humilde, sem balbuciar nada
diante do sacerdote. O santo do Juazeiro, segurando o cajado, bateu com ele na
cabeça de Luiz Padre, profetizando:
-“Está bem,
está bem, meu bichinho. Vá pra Goiás e crie juízo. Porque você vai morrer na
sua cama. Jamais será ofendido por arma de fogo ou arma branca. Vá primeiro
para o Piauí e, de lá, rume para onde a vontade lhe mandar...”
A profecia do
velho sacerdote concretizou-se. Na sua velhice, em Dianópolis (antigo Duro), septuagenário,
Luiz Padre tinha dois hábitos singulares. Todo santo dia limpava
cuidadosamente, com uma flanela, o seu rifle, que azeitava carinhosamente,
pondo as balas na “capanga”, e adormecia com ele ao alcance da mão.
-“Mais vale
andar sempre prevenido – costumava dizer – do que ser surpreendido.
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