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sábado, 26 de janeiro de 2019

.O QUE QUEREM FAZER COM A HISTÓRIA DA SAGA LAMPIÔNICA? DESTRUÍ-LA OU RECONTÁ-LA

Por Sálvio Siqueira

Amigos, não sei o motivo, a causa ou as circunstâncias que estão levando determinadas pessoas: pesquisadores, autores e enxeridos, a quererem mudar, ou mesmo acabar, com os fatos da história no Fenômeno Social Cangaço. Logicamente que enquanto existirem pessoas como eu, jamais permitiremos que tentem sem terem uma mutuca a lhes aperrear pelo corpo.
A História em si, em sua pesquisa e divulgação, sempre teve aqueles irresponsáveis que tentaram fazer parte da mesma usando de “malandragem” para serem inclusos, auto se incluindo, nela. Bem, como a história do cangaço também tem seus adeptos, pesquisadores, e estudiosos, também teve lá em seus primórdios, meado e final tais tipos aproveitadores. O interessante e que essa falta de respeito veio para cá, atualíssimos estão tais aproveitadores, irresponsáveis que como lá, tentam cá, enfiar-nos goela abaixo suas mentiras com pseudônimo de “trabalho”.

Dentre as personagens do cangaço, isso se inclui cangaceiros, volantes, fazendeiros, coiteiros, comerciantes, jornalistas, imprensa, políticos e etc., que existira em seu decorrer, fazendo parte em séculos de existência, a que mais se destacou foi o pernambucano Virgolino Ferreira, o chefe cangaceiro alcunhado por Lampião considerado ser a segunda pessoa mais biografada na América Latina. Aproveitando-se dessa ‘popularidade’ do cangaceiro filho de Vila Bela, muitos passaram a vender fatos improvisados, imaginados nas mentes mesquinhas, definhando a verdadeira historiografia. Isso ocorreu nas décadas em que seu cangaço imperava no sertão nordestino. No entanto, não bastando termos que trabalhar na pesquisa triplicadamente, campo, literária e imprensa, agora nos aparecem outros desonestos da história divulgando através de meios de comunicação em massa suas mentiras, mas, como os de ontem, os de hoje possuem o mesmo intuito.
Boqueabertos estamos com um novo associado desse grupo de asseclas que defende esse tipo de comportamento irreal, mesquinho e destruidor de uma saga.
O sociólogo Frederico Pernambucano de Mello, autor de vários livros, onde dentre suas obras literárias existe aquela que chegou a ser considerada a melhor sobre a história de Virgolino e seu cangaço, infelizmente, já em fim de carreira, esse reconhecidíssimo autor, escritor, professor e pesquisador, lança um livro que, a nosso ver, põe em cheque aquilo que está escrito no interior de todas as suas obras antecessoras devido às aberrações constantes nas suas páginas.

Em textos anteriores falamos sobre ‘certo tiro de fuzil’ que ao chocar-se com um punhal, partiu-se em vários fragmentos, dois destes retornando e fazendo um ângulo de 180° e, retornando, seguir no mesmo sentido que vinha ao sair da boca do cano do fuzil, atingindo o alvo, em ângulos perpendiculares ao mesmo, em lugares distintos como no abdômen e hemitórax esquerdo. Nem ‘Magaiver’ conseguiria tal façanha, imagina o soldado Sandes. Depois referi sobre certo acampamento que o cangaceiro mor havia feito em Cabrobó, PE, no aguardo a ordens do Padre Cícero para seguir ou não a Coluna Prestes do lado baiano... espera de dinheiro e uma suposta segunda visita ao saverdote.
Agora vamos mostrar para os senhores mais uma das grandes aberrações constantes no livro que não deveria ter sido feito. A história da morte da companheira de Lampião, Maria Gomes de Oliveira, a filha de dona Déa, a Maria do Capitão, Maria de Lampião ou, simplesmente, a conhecidíssima ‘Maria Bonita’, há muito é contada e recontada seguindo um padrão lógico que jamais foi contestado por volantes, cangaceiros ou coiteiros.
Pois bem, no livro “De Virgolino a Lampião”, dos autores Vera Ferreira e Antônio Amaury, 2ª edição, na página 295, está escrito “(...) aos primeiros tiros disparados pelos soldados Lampião tombou morto e Maria Bonita foi atingida nas costas(...) Na grota do Angico, morreram duas mulheres: Maria Bonita que teve sua cabeça decepada enquanto ainda estava viva, e Enedina, com um tiro na cabeça, quando tentava fugir(...).” Já no livro “Lampião, A Raposa das Caatingas”, de José Bezerra Lima Irmão, em sua 4ª edição, na página 578, lemos: “(...)Maria Bonita foi encontrada ao lado do corpo de Lampião, baleada na perna e nas costas(...) O soldado Cecílio, de Piranhas, aproximou-se de Maria Bonita, que gritava de dor e pedia: 
- Pelo amô de Deus, num me mate!...
Cecílio puxou o facão, segurou Maria pelos cabelos e cortou-lhe o pescoço(...).”
Continuando a narração, o autor cita o seguinte: “(...) Alguém avisou a João Bezerra:
-Tenente, mataro Maria Bunita!
João Bezerra que vinha descendo o Alto das Perdidas, vociferou:
- Quem foi o cachorro que matou ela? Eu nun falei que nun era pra matá ela?
Ninguém disse quem foi, e o tenente logo esqueceu o episódio, pois a confusão era demais(...).”
Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto, em seu livro “Lampião em Alagoas”, na página 371, dizem: “(...) Dois soldados, o cabo Bertoldo a suspendeu pelos cabelos. Panta espantou-se com as palavras sopradas e engroladas de Maria e disse: “Ainda tá viva, essa bandida! Cadê o dinheiro? Quero o dinheiro”. 
Ela: “Nã... Nã... Tem... Não...”.
Panta: “Tem não? Então lá vai...”. E largou-lhe duas facãozadas no pescoço: “Toma, danada dos infernos!”.
Do corpo talhado saiu rio de sangue borbulhante. Parecia o corpo de uma galinha morta, sem cabeça, batendo no chão. Quando o corpo parou de tremer, alguns cabras aproximaram-se e, com as pontas dos fuzis e grosseiras pilhérias, foram levantando a saia de azulão, deixando as pernas nuas até a calcinha vermelha. Rasgaram-lhes a calça, a combinação e o vestido. Ficaram admirados com a pele da morta. Cabo Bertoldo: “A pele sem nenhuma cicatriz ou mancha, maia que nem seda”. “Era para as melodias da vida e não para ser matada”, exclamavam alguns. Amolegaram-lhes o corpo, bolinaram nas partes e pepinaram todo o seu corpo com punhais e que nem saia mais sangue, apenas ficavam uma pintas desbotadas (...)”.
O ilustre decano de Poço Redondo, inesquecível Alcino Alves Costa, em seu livro “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”, em sua 2ª edição, a partir da página 397 nos diz: “(...) Mas vamos ao que diz Panta de Godoy, soldado de Francisco Ferreira de Melo, tido como um dos heróis de Angico.


“...Qundo nós tava subindo i chegando nessas pedras , topemos com um cabra qui vinha apanhar água a umas deis braças, mais ou menos, di distância”. Nois corremo pra dentro, corremo dentro i quando chegamo na frenti u pouquinho, topei cum Maria Bonita que vinha apanhar água com uma bacia na mão”. “Aí, quando eu avistei ela; ela deu meia volta, correu e disse: -“Valha-me Nossa senhora!”. “Aí eu atirei nas costas dela e ela caiu. Nu qui ela caiu, ela fez corcunda e levantou-si i ia saindo i Antônio Ferro grito”:
- Cumpadi, sigura a bandida qui ela vai simbora!
“Eu dei outro tiro, na barriga dela, assim por ditrais, ela caiu i não levantou-si mais”(...)”.

O pesquisador, escritor e professor João de Sousa Lima, biógrafo da “Rainha do Cangaço”, Maria Gomes de Oliveira, a Maria de Déa, que passou a ser conhecida entre as companheiras e companheiros dos bandos de cangaceiros como “Maria do Capitão”, ou simplesmente, “Maria de Lampião”, que a imprensa da Capital do País, Rio de Janeiro, termina por dar-lhe a alcunha que a levaria a ser conhecida internacionalmente, “Maria Bonita”, em seu livro “A Trajetória Guerreira de Maria Bonita – A Rainha do Cangaço”, a partir da página 79, nos conta assim da morte de Maria: “(...) O tiroteio ainda rasgava a névoa fria da grota do Angico. Balas cruzavam, cortando o ar gelado do esconderijo descoberto.
O soldado José Panta de Godoy, da volante do aspirante Francisco Ferreira de Melo, foi o grande carrasco de Maria Bonita. Vem em partes seu depoimento:
-“Aí quando avistei cum ela (Maria Bonita), ela deu meia volta, correu e disse: “Valha-me Nossa Senhora! Aí eu atirei nas costas dela e ela caiu. No que ela caiu, ela feiz corcunda e levantou-se e ia saindo e Antônio Ferro gritô:
- Cumpadi, sigura a bandida que ela vai imbora!
Eu dei outro na barriga dela, assim por trais, ela caiu e não levantou mais.
Santo (o soldado Santo) cortô a cabeça de Lampião e adepois ele me empresto o facão pra mim cortar a cabeça de Maria Bonita. Nisso nóis fiquemo levantando a saia dela com a boca do fuzil, pra vê a caçola que era incarnada (vermelha).
No Borná de Maria Bonita tinha um pouquinho de ôro quebrado. Dentro dum pé de meia tinha uma base de um meio quilo de ôro quebrado. Era volta, ané...”.
Muitos afirmam que Maria Bonita ainda estava com vida quando foi degolada. Um dos que atestam esta afirmação é o doutor Antônio Silveira, que foi o médico especialista em cirurgia máxilo-facial e que trouxe as cabeças de Lampião e Maria Bonita de Maceió para Salvador. O médico disse que quanto às cabeças, observou-as, estudou-as e chegou a seguinte conclusão: Maria Bonita foi mesmo degolada viva(...)”.

Fora esses exemplos, e, diga-se de passagem, de autores, pesquisadores renomados sobre o Fenômeno estudado, existem vários outros livros de distintos escritores descrevendo essa mesma linha de narração e pensamento sobre a morte de Maria Gomes de Oliveira naquela manhã de uma quinta-feira aos 28 dias do mês de Santana de 1938, na Grota do Riacho Angico em terras da fazenda Forquilha no município de, hoje, Poço Redondo no Estado do Sergipe.
Notaremos em determinadas entre linhas de distintos autores em diferentes obras literárias a mesma prescrição de uma narração do soldado Panta de Godoy, aquele que tudo indica, realmente, quem matou Maria Bonita.

Ainda existe uma versão um pouco maluca em um dos livros do autor Frederico Bezerra Maciel, aonde o padre, mentirosamente, cria um cangaceiro chamado “Paturi” e que o mesmo se escondeu em uma loca de pedra e presenciou tudo, sem antes ser ele quem estava com Maria Bonita, arrumando às coisas para levantar acampamento. Absurdo total de um padre querendo contar uma história que ele queria que tivesse acontecido.
Mas, no momento, nosso maior foco é o que está escrito no mais novo livro do sociólogo, pesquisador e professor Frederico Pernambucano de Mello, “Apagando o Lampião – Vida e Morte do Rei do Cangaço”. Na página 275, o sociólogo nos transcreve uma nova ação do super soldado Santo. Aquele que estava amarrado ao coiteiro Pedro de Cândido e que deu um tiro de fuzil que jamais existirá outro igual.
Vejamos o que nos diz o autor: “(...) Nem bem cessados os tiros no salão da grota, Santo desce a ribanceira no primeiro momento e se aproxima da barraca de Lampião. Uma temeridade. O aspirante ainda grita, na tentativa de obstá-lo. A fumaça leva o afoito a tropeçar em cadáveres, embora deva tê-lo envolvido numa cortina de salvação, é de se imaginar. Chega ao pé da craibeira. Maria bonita, atingida por apenas um tiro transfixante dado pelas costas, à altura da omoplata esquerda, com orifício de saída sob a clavícula, pouco acima do coração – do qual “podia ter escapado”, ao que opinou Santo – queda-se no pé da árvore, “entre sentada e deitada”. Reconhecendo o amigo de outrora, a Rainha do Cangaço ensaia um meio sorriso e lhe dirige apelo, um filete de sangue se desprendendo do orifício da bala a cada palavra soprada: “Galeguinho, pelo amor de Deus, não deixem acabarem de me matar!”.
Noratinho e abdom se aproximam. Santo os contém. Abaixam-se os três para ouvir o que ela sussurra. Quando Santo bate mão de um cigarro para lhe oferecer, Zé Panta chega na carreira e atira por cima dos companheiros. Justifica “o direito de terminar de matar a bandida” por ter sido o autor do primeiro tiro que a alvejara, dado de cerca de quinze braças de distância, ruge para os companheiros.
Atingida no ventre pelo segundo disparo, a cangaceira tem apenas alguns momentos de vida (...)”.

Eita. A coisa está braba demais. Vejamos os contra tempo descritos nessa narração aloprada:
a) Toda narração feita até o aparecimento dessa versão, Maria Bonita é atingida no começo do tiroteio por dois tiros sequenciais.

b) Como descer em momento daqueles? A coisa estava ainda fervendo de balas, principalmente em sentido leito da grota. Grota e rios não possuem salão e sim leto ou calha.
c) Ele nada citou sobre o coiteiro que, segundo o próprio estava amarrado a ele no alto da barreira.

d) Maria chama-lo de ‘Galeguinho”? Em um momento daqueles estarem eles conversando, depois da chegada de mais dois volantes, Noratinho e Abdom, se agacharem e ainda continuarem a prosa até que ele, Santo, resolveu pegar um cigarro com a intenção de dar a Maria? Maria Bonita fumava?
e) Falou que Maria Bonita foi atingida primeiramente pelas costas, na altura da escápula esquerda e que a bala ao sair na altura da clavícula deixou um pequeno orifício por onde jorrava um pouco, filete, de sangue? Quinze braças são iguais a trinta metros. Um tiro de fuzil a trinta metros de distância, quando o projétil atingir o alvo, no caso as costas de Maria Bonita, ao sair na parte posterior teria arrancado quase que a frente total do tórax daquela infeliz.
Amigos, sinceramente, não sei o que diabos estão querendo fazer com a história do cangaço. Com certeza, assim espero, esses relatos tenham sido feito pelo soldado Santo, porém, deveria ter o escritor filtrado tanta mentira em vez de publicá-la. Soube por fontes confiáveis que esse depoimento do soldado volante estava com autor há muitos anos e que o mesmo não via meios lógicos de publicá-los. Estranho de uma hora para outra ter resolvido lança-los em um livro. Acredito que em sua fase derradeira, Pernambucano pecou fora da conta.
Espero compreensão e apoio dos ilustres pesquisadores para formarmos uma campanha contra tantas distorções dos fatos históricos.

Obs.: Todas as transcrições foram feitas completamente como se encontram nas páginas dos livros.

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