Cantor diz que
perdeu o prazer pela música e hoje prefere o silêncio. Aos 72 anos, ele gosta de ler a Bíblia e cultiva uma vida pacata em Goiás.
Por Lívia Machado Do
G1, em São Paulo Publicado em 03 de 07 de 2012
Com a voz
falha e imbuída de receios, Lindomar Castilho reluta em conceder uma entrevista
por telefone. “Eu não sou mais nada, cansei de ser cantor. Para que falar sobre
minha vida agora?” Aos poucos, porém, ele concorda em contar um pouco sobre a
sua influência na música popular brasileira. Após inúmeros problemas de saúde -
um deles responsável por comprometer parte de suas cordas vocais - ele afirma
levar uma vida pacata, "quietinha", no interior de Goiás.
(Ao longo
desta semana, o G1 publica uma série
de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos há cinco décadas,
eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de
cantoras da MPB)
Hoje, o
comportamento de Lindomar pouco se assemelha ao artista sedutor e mulherengo
que proferia os lamentos em "Vou rifar meu coração" e cantava músicas
divertidas como em "Doida demais", hit reciclado na abertura do
programa semanal "Os normais", exibido pela Globo de 2001 a 2003.
Diferente de
seus companheiros de vertente, aposentou o microfone, perdeu o prazer de cantar
e agora tem a Bíblia como companhia. Afirma que ganha "algum
dinheiro" com direitos autorais e venda de discos, mas perdeu o interesse
e o espaço no meio musical.
“Tenho aqui em
casa muitos DVDs, CDs, mas escuto pouco. Perdi o tesão, não canto mais nem no
chuveiro.” Lindomar mora sozinho, mas se diz acompanhado por dois
porta-retratos de suas filhas, que vivem em São Paulo.
Aos 72 anos, o
cantor fez do anonimato uma espécie de escudo. Embora avesso às entrevistas,
ele gosta de comentar sobre seus feitos na musica popular. Teme, entretanto,
que o assunto inevitavelmente esbarre no crime que cometeu em 1981, quando
assassinou sua ex-mulher, a também cantora Eliane de Grammont, em um bar na
zona sul de São Paulo. “É um massacre isso. É lógico que eu me arrependo todos
os dias. A gente comete coisas em momentos que está fora de si.”
Na época,
cumpriu dois anos de pena na capital paulista e depois foi transferido para um
presídio em Goiás. Além de compor um CD de inéditas atrás das grades –
"Muralhas da solidão", lançado em 1985 e um dos poucos em que assina
a maioria das canções –, ele passou os sete anos preso dando aulas de música e
violão aos detentos.
“Eu ainda
fazia muito sucesso naquela época, e o interesse nas aulas era grande. Comecei
com a escolinha em São Paulo, mas o diretor do presídio de Goiânia gostou da
ideia. Tinha três turmas e dava aulas de segunda à sexta-feira. Era um alívio,
foi muito positivo.”
Nascidos em
bordéis
Um dos precursores da música brega, Lindomar credita o adjetivo pejorativo ao nome de uma rua na cidade de Salvador, famosa por abrigar casas de prostituição. “Esse nome começou comigo. Eu frequentava a Rua Nóbrega, que nem sei mais se existe, lá em Salvador. Eu e os demais cantores de músicas românticas tocamos em algumas dessas casas, mas gostávamos de ir lá para ver as garotas de programa. Ficamos conhecidos como os rapazes da Nóbrega, que viviam na Nóbrega, que foi abreviado para brega tempos depois.”
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O cantor
parece pouco preocupado com o rebaixamento qualitativo que seu estilo musical
sofreu ao longo dos anos. “Nada mais é do que música romântica, e não vejo
problema em ter vivido disso.” Justifica suas escolhas profissionais com o nome
de uma das canções que gravou nos anos 80. "Eu canto o que o povo quer
ouvir."
Cheio de si,
ele compara o alcance de suas músicas com a baixa penetração da bossa nova,
vertente de “bacanas cariocas", como gosta de classificar. “Enquanto eu
cantava para milhares de pessoas, eles faziam reuniões para 100. Fui um dos
maiores vendedores de disco do Brasil, fui um homem bem sucedido.”
Além do
potencial comercial, um ponto comum dos ícones da música brega - ou apenas
romântica - como eles preferem ser classificados, foi o frisson que provocaram
no público feminino. Ao narrar histórias sofridas de amor, eles arrebatavam
corações e eram constantemente agarrados pelas fãs.
“A gente
cantava pra uma multidão, era muita mulher, uma loucura. Tinha que chegar junto
mesmo, elas queriam, se jogavam. A gente só retribuía.” Hoje, porém, escreve
canções apenas para si e resguarda o direito do anonimato. Acredita que seu
tempo como artista passou: "Eu já cansei, comecei em 1962. Já chega”.
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http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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