Por Raul Meneleu
No ano de 1931
Lampião já usava sua mais contundente forma de estratégia para deixar seus
inimigos em confusão, a divisão do bando, comandados por homens traquejados na
luta de guerrilha e que eram a nata do cangaço junto com ele; Corisco, Mariano,
Zé Baiano e Labareda.
Lampião está
cada vez mais belicoso e destrói em vingança muitas fazendas do coronel
Petronilo de Alcântara Reis, - aquele que recebera o cangaceiro em suas terras,
de ‘olho interesseiro’ no dinheiro que trazia - por conta da traição que este
lhe fizera, quando para justificar-se do coito que dera aos cangaceiros perante
as autoridades baianas, sugeriu que o governo da Bahia voltasse a permitir as
volantes nazarenas - que o mesmo tinha proibido de entrar em território baiano,
por causa da forma de agir quando agredia e torturava os sertanejos procurando
pistas de Lampião.
Diante desses
ataques e mortes, os grandes fazendeiros fazem pressão e o governo baiano
atende o pleito e permite a volta das tropas do Estado de Pernambuco. A
primeira volante a entrar em território baiano é comandada pelo tenente Manoel
de Souza Neto com seu sargento David Jurubeba, e formada por jovens guerreiros;
inicia-se a caçada ao Rei dos Cangaceiros, desta feita, por homens
comprometidos em juramentos de vingança pelos malfeitos praticados por Lampião,
às famílias nazarenas, aliados ao espírito de justiça.
Ávidos para
encontrar e destruir Lampião, a volante cruza o rio São Francisco e inicia sua
missão penetrando nas terras devolutas do Raso da Catarina, onde até os mais
calejados sertanejos tinham receio de entrar, e no dia seis de setembro de
1931, a pequena força já dá combate aos grupos de Lampião e Corisco na fazenda
Aroeira, não muito distante da atual cidade de Paulo Afonso.
Em seu livro
CORISCO A Sombra de Lampião*, o autor Sérgio Augusto de S. Dantas conta
que entrevistou um dos participantes desse embate, João Gomes de Lira, que
recordava bem esse dia, quando em entrevista lhe disse:
"A tropa
da qual eu fazia parte estava arranchada na Aroeira, descansando da longa
viagem. Ninguém percebeu quando lampião se aproximou e ficou com alguns homens
por trás de uma cerca da fazenda. Em dado momento, David Jurubeba se dirigiu a
umas fruteiras que tinha ali por perto. Quando David chegou perto das árvores,
e começou a olhar se tinha frutos, Lampião já estava deitado no chão, preparado
para atirar".
Inicia-se o
embate, e só mesmo a sorte do sargento David Jurubeba faz que o tiro não o
atinja, pois Lampião era exímio de pontaria.
Não deve ter
sido um combate prolongado, Lampião estava apenas com o subgrupo de Corisco e
como era de costume, quando notava que estava em desvantagem, sumia e deixavam
seus combatentes atirando a esmo.
Nisso Corisco
em sua fuga, aproxima-se de onde o tenente Manoel Neto encontrava-se, mais
abaixo do local do embate e não percebe de imediato sua presença. Um soldado
ver e logo atrás atira e dá início a um segundo combate. Após os primeiros
disparos, as provocações de costume:
- Estou
brigando com quem? Grita Corisco.
- Com a
volante do tenente Manoel Neto. E quem é você, cabra de peia? - indaga o
oficial.
- Sou Corisco,
bando de macaco safado. Se prepare para correr, tenente filho de uma puta!
Por certo a
resposta a esse impropério não ficou de graça.
Identificados
os contendores, a briga continua. O tenente atira e avança, enquanto o
cangaceiro responde aos disparos, a curta distância.
Corisco como
era de seu feitio, grita, insulta, com agilidade dá pulos para os lados e gira
em torno de si mesmo. Era mesmo um demônio que assustava aqueles que não
estavam preparados para a luta. Em pouco o silêncio se instala. A tropa pernambucana
fica brigando sozinha. Corisco, como do nada, desaparece em meio à caatinga.
Era mesmo a
sombra de Lampião.
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