Diego Antonelli
Dom Pedro II enfrentou lama, cocheiros perdidos e cavalos
mortos durante os 20 dias em que visitou a Província do Paraná em 1880.
"Com
Pedro II e a família real: viagens cansativas pelo Paraná| Foto: Wikicommons.
Cronologia
Por onde Dom
Pedro II passou em sua visita ao Paraná em 1880:
17 de maio saída do Rio de Janeiro
18 de maio chegada a Paranaguá
20 de maio segue para Antonina
21 de maio chega a Curitiba
24 de maio visita Campo Largo
25 de maio visita Palmeira
26 de maio ruma para Ponta Grossa
28 de maio chega a Castro
1 de junho visita Lapa
2 de junho passa por Araucária (na época, Tindiquera)
7 de junho retorna para a Corte
Fonte:
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Curiosidades
A passagem de
Dom Pedro II pela Província provocou um alvoroço na população, que se mobilizou
para receber bem o imperador:
Visitas
O pesquisador
Arnoldo Monteiro Bach relata que por onde a comitiva imperial passava causava
comoção popular. Dom Pedro II fazia questão de visitar escolas, comerciantes,
ervateiras e artesões. "Naquela época não havia indústrias, então os
artesões e os ferreiros, eram de extrema importância", destaca. Ele diz
ainda que boa parte dos locais onde o imperador pernoitou está preservada até
hoje.
Ponte
Ao longo da
BR-277, pouco antes da entrada da cidade de Palmeira, há uma ponte sobre o Rio
dos Papagaios que foi construída justamente para a vinda do imperador.
Santa Casa
Durante a
estadia de Dom Pedro II em Curitiba, o imperador inaugurou no dia 22 de maio de
1880 a Santa Casa de Misericórdia. Com 160 leitos, a Santa Casa era considerada
um hospital de grande porte, e foi por muitos anos, o único da cidade.
Deslocamento
Para se
deslocar dentro da província do Paraná, muitas carruagens foram emprestadas ao
imperador pela nobreza local. A Baronesa de Tibagi emprestou seu elegante e
luxuoso carro para Dom Pedro II seguir de Ponta Grossa a Castro, por exemplo.
Estima-se que parte da comitiva seguia o trajeto usando diligências, que não
possuíam os requintes de uma carruagem.
Demorou 27
anos para Dom Pedro II conhecer a província que havia criado em 1853. A saga do
imperador em terras paranaenses começou no dia 17 de maio de 1880 com o
embarque no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. No dia seguinte, ele já
estava em Paranaguá. Durante 20 dias, Pedro e sua comitiva fizeram cansativas
viagens para conhecer as principais cidades paranaenses.
Muita lama,
chuva e frio marcou a visita, que teve ainda acidentes com carruagens, uma
travessia entre Lapa e Curitiba que durou 17 horas, cavalos mortos e cocheiros
que se perdiam pelo caminho. Naquela época, a Província do Paraná tinha cerca
de 150 mil habitantes.
Como detalha o
historiador Arnoldo Monteiro Bach, em Paranaguá Dom Pedro II visitou a Câmara
Municipal, a Igreja Matriz, escolas, o Hospital de Misericórdia e até a cadeia.
E o imperador fez questão de narrar toda a jornada em diário. Pelos relatos,
percebe-se que a falta de estrutura chegou a assustar tanto ele quanto a
esposa, Thereza Christina. "Não há carruagem em Paranaguá. A pé por
péssimas calçadas até a casa espaçosa do Barão de Nácar", escreveu.
"Era um Paraná primitivo, uma província em construção", explica Bach.
No dia 20, a
comitiva imperial que não se sabe por quantas
pessoas era formada seguiu para Antonina. No mesmo dia, o
comboio, composto de sete carros, iniciou o percurso da Estrada da Graciosa
rumo a Curitiba. "Imagina naquela época a condição da estrada",
comenta Bach. Além da lama, carruagens quebraram e cavalos morreram no
percurso.
Depois de
muitos percalços, eles chegaram à casa da viúva de Manoel Ramos, em Rio do
Meio. Era uma casa de negócio onde seria o pouso de Dom Pedro II. O palácio
imperial provisório ainda cheirava a tinta e não era muito confortável.
"Não se sabe como as demais pessoas se arrumaram para dormir", diz o
historiador.
Curitiba
A capital
provincial foi ornamentada com 3 mil pinheirinhos para receber a comitiva. O
foguetório correu solto quando o imperador, que tinha 55 anos na época, pisou
na cidade. Em Curitiba, o casal imperial se hospedou no sobrado de Antonio
Martins Franco, na Praça da Matriz (atual Tiradentes). Ao chegar à cidade,
interessou-se pelo pinheiro e pela erva-mate. Visitou o Museu Paranaense e se
encantou com a história natural da província. Foi para Campo Largo e depois
seguiu uma jornada pela Região dos Campos Gerais, onde visitou, entre outros
locais, as colônias de imigrantes alojadas na região. A rota imperial
contemplou Palmeira, Ponta Grossa, Castro e Lapa.
O retorno da
cidade de Lapa a Curitiba foi uma aventura que durou 17 horas. O condutor da
carruagem se perdeu no meio do caminho e um dos carros chegou a tombar. Outro
acidente desse tipo já havia ocorrido em Ponta Grossa. No dia 7 de junho, Dom
Pedro II regressou à Corte com o sentimento de missão cumprida. "O Paraná
é uma bela província de grande futuro", sentenciou em seu diário imperial.
Inauguração da
estrada de ferro motivou a ilustre visita
O historiador
Arnoldo Monteiro Bach explica que um dos principais objetivos da visita do
monarca à Província do Paraná era inaugurar os trabalhos de construção da
Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba. "Desde 1865, por sugestão do então
Ministro da Agricultura Jesuíno Marcondes, natural de Palmeira, falava-se na
Corte sobre a importância dessa ferrovia ligando o Litoral com o centro da
província", escreve o pesquisador.
Em 1871, por
influência do Barão de Mauá, Dom Pedro II interessou-se pelo projeto e, em 1873
a obra entre Paranaguá e Morretes foi iniciada. "Em seguida, a Compagnie
Génerale Chemins de Fér Brésilien, concessionária da Ferrovia, convenceu o
Imperador a viajar ao Paraná para inaugurar os trabalhos de construção da
Estrada de Ferro", conta Bach. O projeto da ferrovia foi de André
Rebouças, elaborado em parceria com o seu irmão Antônio.
Com relação à
inauguração dos trabalhos da construção da estrada de ferro, que deveria
ocorrer na chegada de Dom Pedro II a Paranaguá, houve mudança na programação e
a data foi transferida para cinco de junho, no retorno da viagem do imperador
ao interior do Paraná. A obra solucionou o problema de escoamento dos produtos
do planalto para os portos da província. A ferrovia foi inaugurada em 1885 com
a presença da princesa Isabel, filha do imperador."
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