A Batalha na
Serra Grande, travada no dia 26 de fevereiro de 1926, na cidade de Calumbi
(PE), é considerada a maior vitória do bando de Lampião. Nela, o Rei do Cangaço
demonstrou sua expertise e sagacidade. Enfrentou toda a elite da Polícia
pernambucana. O resultado foi a morte de pelo menos 11 policiais; outros 14
saíram feridos. Nenhum cangaceiro morreu
Na casa para onde os feridos na batalha de Calumbi foram levados, se vê a Serra Grande, local em que Lampião obteve a sua maior vitória no cangaço
Calumbi (PE).
O enfrentamento motivou o ex-policial, pesquisador e colecionador Lourinaldo
Teles a escrever, após seis anos de pesquisa, o livro “A maior batalha de
Lampião- Serra Grande e a invasão de Calumbi”, o que valeu na época para
Virgulino Ferreira o título de Imperador do Sertão. Para se ter uma ideia do
material conseguido por Lourinaldo, ele coleciona mais de 300 projéteis
retirados da serra onde foi travada a luta, além de cartuchos vazios, a maioria
encontrados com um detector de metais. Nos cálculos do escritor, pelo menos
cinco mil tiros foram deflagrados no evento no qual Lampião demonstrou toda a
sua condição de estrategista.
Quando tomou
conhecimento que o major Theófiles Torres seria nomeado comandante geral das
forças volantes do interior pernambucano, Lampião, já sabendo que o principal
objetivo do militar era prendê-lo ou matá-lo, buscou uma maneira de
desmoralizá-lo. No dia 24 de novembro, sequestrou Pedro Paulo, o Mineirinho,
representante da Shell na região. Seguiu para a Serra Grande, entre os
municípios de Flores, de quem Calumbi se emancipou em 1964, e Serra Talhada. No
local, além de ser acostumado a acampar, tinha no entorno vários coiteiros.
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Lampião enviou uma carta para as autoridades de Serra Talhada exigindo uma quantia em dinheiro para liberar Mineirinho. A Polícia foi até o local do sequestro para levantar pistas. Enquanto isso, o cangaceiro e seu bando praticavam ataques e sequestros na região, numa indisfarçável tentativa de levar as volantes ao local onde cerca de 116 homens estavam entrincheirados.
Segundo o
pesquisador, oficialmente a Polícia contava com 296 soldados, mas o número real
seria 350, contra 116 cangaceiros. Num confronto que começou às 8 horas da
manhã e foi concluído às 17 horas, o saldo foi o seguinte: 10 mortos e 14
feridos entre as forças policiais. Nenhum cangaceiro saiu ferido.
“Esse é o
relato oficial. Entretanto, consegui encontrar pelo menos mais um outro
policial que faleceu, conforme depoimento de seus familiares. Foi uma batalha
extraordinária. Lampião estava armado até os dentes com o arsenal que recebeu
em Juazeiro do Norte. Do outro lado, estava toda a elite da Polícia de Serra
Talhada. É considerada a maior batalha de Lampião, pelo número de envolvidos,
de mortos e feridos e munição deflagrada, pelo menos uns cinco mil tiros, se
contarmos em torno de dez balas por homem”.
Na companhia
de Lourinaldo, visitamos a casa de Zé Braz, no Sítio Tamboril, onde os feridos
ficaram. “Sete dos mortos foram enterrados numa cova coletiva, depois que os
três primeiros foram colocados em sepulturas individuais. Os 14 feridos vieram
para cá. Esse pilão aqui é o original. Aqui os pintos eram jogados e o pilão
era usado para triturar as aves junto com água. O preparo era dado aos feridos.
A crendice popular indicava que aqueles que bebessem e não vomitassem
escapavam; do contrário, morreriam. O certo é que todos os pintos do sítio
foram sacrificados nesse dia”.
De cima da
linha férrea da Transnordestina, Lourinaldo aponta para a região onde os homens
de Lampião se entrincheiraram. “O local é conhecido até hoje como Serrote de
Lampião. Era o ponto perfeito. Do alto da serra, se via tudo o que se passava
embaixo. Além disso, existiam olhos d´água e muitos animais para a caça. Outro
fator importante: vários amigos de Virgulino, antes de ele entrar para o
cangaço se tornariam seus coiteiros. Por ali, quando adolescente, ele levava e
trazia mercadorias para negociar em Triunfo e outras cidades com os irmãos,
conhecendo cada centímetro daquela terra. Enfim, ele escolheu o território
ideal para desafiar as forças oficiais”.
Polêmica
Embora
reconheça em Lampião um “homem astuto, extremamente estrategista e
inteligente”, Lourinaldo contesta o entendimento de que o Rei do Cangaço, capaz
de práticas cruéis contra seus inimigos, jamais abusou de mulheres. “No meu
primeiro livro, já citei um caso envolvendo uma mulher casada. A pedido da
família, o nome não foi mencionado. Entretanto, brevemente lançarei outra
publicação, intitulada “Lampião, o Imperador do Sertão”, no qual narrarei dois
outros abusos, também de mulheres casadas. Já recebi a autorização das famílias
para citar os nomes e o farei”.
Lourinaldo
destacou que o que mais lhe impressionou na história do Rei do Cangaço “foi sua
capacidade de liderar mais de cem bandidos da pior espécie”. Sobre o fato de
policiais utilizarem os mesmos métodos de tortura praticados pelos cangaceiros,
o pesquisador disse não haver a menor dúvida disso e tem uma explicação.
“Muitos
personagens estiveram dos dois lados. Quelé do Pajeú, por exemplo, foi inspetor
de Polícia em Triunfo (PE). Saiu da Polícia para se tornar cangaceiro de Lampião,
com quem se desentendeu. Abandonou o bando e foi ser sargento na Polícia da
Paraíba. Corisco era soldado do Exército. Quando saiu, entrou para o cangaço”.
Coleção
O pesquisador
possui em sua coleção particular, além de centenas de balas e cartuchos
encontrados na Serra Grande e até em Angicos, punhais que pertenceram aos
cangaceiros Joaquim Teles de Menezes, Meia-Noite e Félix Caboge. Mas uma arma
tem um valor inestimável. É a que Luiz Pedro, considerado braço direito de
Lampião, matou acidentalmente Antônio, irmão de Virgulino. O fuzil é o mesmo
com o qual Antônio pousa em suas pernas para a famosa foto de Lampião e o
restante da família, em Juazeiro do Norte.
O escritor e
colecionador conta que todos estavam bebendo e jogando baralho no acampamento,
quando Antônio bateu na rede onde Luiz Pedro estava deitado com o fuzil
engatilhado. A arma disparou um tiro certeiro em Antônio. Tal era a confiança
de Lampião em Luiz Pedro que poupou sua vida, mesmo ele tendo tirado a do
próprio irmão.
O fuzil foi deixado
por Luiz Pedro na casa de uma irmã, chamada Elvira, que, muitos anos depois da
sua morte, entregou a arma ao museu.
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