Por Jose Gilberto Ferreira
Esse era um
dos meus sonhos, ser batizado nas água do Grandioso Rio São Francisco e de
preferência na majestosa cidade de Piranhas. E o sonho se concretizou no dia 26
de Março de 2018. Chegamos naquele belo lugar por volta de meio dia,
infelizmente não demos a mínima atenção para a parte nova da cidade, nem
olhamos direito quando chegamos e tão pouco quando saímos. Fomos direto para a
parte antiga cravada na beira do rio. Corremos para a margem do rio como quem
estar com sede a vários dias. Tirei a sandálias e entrei na água até a altura
do joelho, minha esposa veio e fez o trabalho de uma boa pastora. Derramou
sobre a minha cabeça as aguas sagradas do velho Chico. Fiz o mesmo com ela. O
meus genro Luiz Eduardo entrou foi com roupa e tudo e a minha filha Natureza
depois de molhada ficou só olhando.
Depois do
batismo, com o corpo e a alma renovada, retornamos para saborear tudo que
estava ao nosso redor. Caminhar passo a passo e observar tudo aquilo é
gratificante para qualquer ser humano. O lugar desperta a curiosidade dos
visitantes com suas ruas fora de padrão de alinhamento, ora estreita, ora
largas, o colorido das fachadas com cores fortes e diversificadas. Realmente é
deslumbrante, é indescritível. Quase todo o seu casario e prédios permanece no
mesmo estilo da arquitetura colonial de séculos atrás. Esse era um dos motivos
de estar ali, o outro era o valor histórico das lutas épicas e sangrentas
vividas pelos antigos moradores contra os cangaceiros que por muito tempo
assombraram o Nordeste Brasileiro.
Depois de
caminhar pelas rua do pequeno lugar, me afasto um pouco, e de súbito entro em
transe, e me tele transporto ao passado. São exatamente três momentos bem
distante vivido naquele mesmo lugar.
De repente me
vejo, e lá estava eu, fazendo parte e opinando na comitiva do Imperador do
Brasil, D. Pedro II, quando da sua estada em Piranhas no dia 18 de Agosto do
ano de 1858. E ali no sobrado onde ele se hospedou foi discutido por ele pela
primeira vez na história, a tão sonhada transposição do Rio para o resto do
Nordeste.
Em seguida
deixo essa reunião e vou para o ano de 1936. Esse dia foi marcante para mim e
para a população da cidade, foi a Invasão do Cangaceiro Gato e seu bando. Era o
dia 29 de agosto de 36. Um dia antes a cidade recebeu um telegrama avisando que
o bando do Gato iria atacar. Gato era chefe de um subgrupo e um dos cangaceiros
mais violentos pertencente ao grande grupo de Lampião. Gato resolveu atacar
Piranhas com ajuda de Corisco, na tentativa de resgatar a sua amada Anicinha
que tinha sido preza um dia ante num fogo cruzado entre o seu bando e a volante
do Tenente João Bezerra. Ele pensava, tinha quase certeza, mas ela não estava
lá. E eu onde estava nesse dia? Ora eu estava no meu do povo, via tudo, estava
nos dois lado do fronte ao mesmo tempo. Ouvia os dois lado, era como assistir
uma fita. Vi quando o juiz e o delegado Cipriano Pereira juntamente com os
oitos policias debandaram deixando a cidade entregue à própria sorte. Como sou
intrometido entrei junto com o bando, era entre dez e onze horas, e assistir
ali de perto o terror deixando por Gato. Com seu punhal ia furando quem
encontrasse, matou quatro homens antes de chegar no centro do lugarejo, onde,
cheio de ódio sangrou o jovem João Seixas de apenas 15 anos de idade, achando
que o garoto não havia falado a verdade sobre a presença dos policiais.
Depois começa
o tiroteio, bala pra todo lado. Saio correndo me defendendo do fogo cruzado e
fui ficar com o seu Chiquinho Rodrigues que estava no sobrado de sua casa com
um companheiro de luta. Os dois fazia parte dos poucos que ficaram para
defender a cidade. O ponto onde eles estavam era estratégico, sem contar que
ele estava com trezentas balas dentro de uma lata e dali mesmo ele mandou fogo
nos bandidos, o primeiro que ele acertou foi o próprio Gato, depois mais um.
Quando eles percebem que o bando era composto por mais de 22 homens, ouvi
quando o seu companheiro, disse, - homi, sabe de uma coisa, nós tamos é frito
chiquim. Seu Chiquinho gritava, eles não entram, eles não entram, se entrar eu toro
no meio. Ele era novo, cabra disposto e só tinha 26, mas como era de família
abastada e comerciante no lugar, já era chamada de Coronel. E ele não queria
morrer e meteu bala nos cabras. Seu rifle de dez tiros era disparado feito uma
rajada de metralhadora, e isso despertou o receio dos bandoleiros. Saio dali e
dou uma volta pelas ruas e vejo o Gato quase morto caído em uma esquina, depois
carregado pelos seus companheiros. Mais na frente quase me esbarro com Corisco,
quando esse foge das balas disparada por Dona Cyra que estava na cidade, ela
era mulher do Tenente João Bezerra. Me aproximei bem para o centro onde estava
a maioria do bando, cada um tentava se proteger das saraivada de balas
disparadas por seu Chiquinho. O Corisco se maldizia para os seus homens, e
dizia - esse peste, filho de uma rapariga, parece que é doido, pelo jeito vai
matar todo mundo. O diabo não se entrega, vamos bater em retirada, que é
melhor, o gato já tá morto mesmo. Vamos embora se não vai morrer mais gente.
Depois de muita peleja, o bando desistiu. Fincaram pé e foram embora, levando
seus feridos e dois mortos, deixando para trás dez defuntos.
Em seguida
viajo dois anos para o futuro. Era o dia 20 de julho do ano de 1938. Desci a
rua principal, fui para a margem do rio e dali peguei uma pequena embarcação
que me levou para o outro lado pertencente ao Estado de Sergipe. De lá fui até
o casebre de Raimundo Candido, e para minha quase surpresa, pois eu já era
sabedor que ele andava por lá. Vinham cansados, meios abatidos. Foi pouca a
conversa, quase nada, mas ouvi quando ele deu algumas ordens para o coiteiro
dono casa. Uma delas era que o homens precisavam de muita comida e um bom
descanso, e quando ia saindo olhou pra mim desconfiado e perguntou o que eu
desejava. Eu apenas o alertei para não permanecer por muito tempo na grota dos
Angicos, pois o lugar se tornara perigoso. Ele balançou a cabeça com ar de
negação e disse que o lugar era tranquilo. Notei muita confiança por parte do
Capitão Virgulino e não falei mais nada. Fui embora para a cidade e fiquei por
lá. Oito dias pra frente, lá estava disputado lugar no meio do povo e quase sem
acreditar no que via. Estavam expostos como troféus na escadaria do prédio da
Prefeitura a cabeça do Capitão, da Maria Bonita e mais nove de parte do bando.
Que na noite passadas tinham sido mortos e degolados pelas forças policias
comandadas pelo Tenente João Bezerra.
Minha esposa
me chama dizendo, vamos embora homem, que já é tarde. Finalmente eu acordo
daquele transe. E ai eu me lembro novamente de quando o bando do cangaceiro
Gato se retira fugindo da cidade. E por coincidência, agora era a nossa vez de
sair dali, só que de forma diferente. Saímos todos vivos, alegres e
satisfeitos. Arrumamos as coisas, entramos no carro e damos adeus a bela Piranhas
e fomos dormir na vizinha cidade de Petrolândia, 80 Km de distância.
Gilberto
Ferreira.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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