Vingança no
Sertão – Código de honra
O sertão
nordestino sempre teve seus códigos de honra. Quando alguém ousava quebrar tais
códigos, estaria assinando uma sentença de morte.
Sabemos que o
sertanejo é homem forte e destemido, enfrentando as intempéries da seca, além
de outras adversidades, mas capaz de superá-las, com coragem e altivez. O
sertão é misterioso, implacável e não perdoa os erros ou quebra da palavra
empenhada, que significa dizer: código principal da honra sertaneja.
O que
aconteceu com Chico Pereira não poderia jamais ter sido diferente, mesmo tendo
prometido ao pai moribundo, não participar ou promover qualquer tipo de
vingança. Vingança aconteceu. E a história já fez o seu julgamento.
Vejamos,
através da narração dos fatos, como tudo aconteceu.
O coronel João
Pereira, morava na cidade de Nazarezinho, outrora distrito de Souza/PB, era
casado com Dona Maria Egilda, proprietário da fazenda Jacu, possuía um barracão
em Nazarezinho e tinha sete filhos, sendo quatro homens e três mulheres.
Uma noite,
João Pereira, já prestes a fechar seu estabelecimento, viu entrarem três homens.
armados. Ao atendê-los, o coronel chamou a atenção deles sobre o uso de armas, quando na época havia uma proibição municipal que não permitia pessoas andarem armadas. Isso foi o suficiente para início de uma discussão seguida de tiroteio e facadas, pancadarias e gritaria, resultando em alguns mortos e outros feridos, inclusive o coronel João Pereira, o qual foi levado para sua casa na fazenda Jacu, distante cerca de cinco quilômetros.
Em
consequência dos ferimentos graves, o coronel veio a falecer diante de sua
família, suplicando aos filhos para que não se vingassem. "Vingança,
NÃO." foram suas últimas palavras.
Há revolta do
povo que não se conformava com a morte do coronel e pedia justiça, uma vez que
a polícia apresentava nenhum interesse em prender o foragido Zé Dias, envolvido
na chacina e protegido pelas autoridades locais.
Chico Pereira,
o filho mais velho do coronel, com apenas vinte e dois anos de idade, se viu
impelido pela comunidade a fazer justiça. Pressionado, sai à procura de Zé Dias
que se refugiara nas serras da região. Chico Pereira encontra-o, prende-o e o
leva à delegacia, sendo ovacionado pelo povo que queria ver Zé Dias preso.
Após alguns
dias, o criminoso já se encontrava solto. A população revolta-se e passa a
exigir vingança por parte do filho mais velho do coronel. Este, sem outra
opção, se vê obrigado a não cumprir o pedido do pai moribundo e parte para a
Vingança, como era costume na época, exigência da lei de honra, familiar do
sertão. Depois de alguns dias, o criminoso é encontrado morto. Maria Egilda,
finalmente ouve do filho a declaração que mais temia: "Mamãe, fizeram-me
criminoso':
E foge,
passando a viver clandestinamente nas matas da região. Para enfrentar a polícia
e não ser preso cria um bando de cangaceiros.
Chico Pereira
começa então sua saga que dura mais de seis anos, ora fugindo da polícia, ora
comandando o bando. Mesmo diante de tantos problemas e da vida tumultuada, sua
noiva, Jardelina, jovem adolescente de doze anos de idade, quando noivara, não
hesitou em se casar com ele, aos quatorze, em cerimônia realizada por
procuração. Foi esta a única saída possível e que lhe possibilitou ser pai de
três filhos, os quais não chegaram a conhecê-lo, pois Jarda, como era
conhecida, já estava viúva com apenas dezessete anos de idade.
Absolvido em
júri popular, na Paraíba, Chico Pereira foi acusado de um crime que não cometeu
no Rio Grande do Norte, onde nunca estivera. Apesar de contar com a proteção do
Presidente do Estado da Paraíba, através de um irmão deste, foi levado para
aquele estado e entregue à justiça potiguar.
Tempos depois,
foi Chico Pereira transferido do presídio de Natal/RN para o interior do
estado. Os policiais potiguares, devidamente instruídos, forjaram um
capotamento do carro, massacraram-no e o matam sem a menor chance de defesa.
Estava Chico Pereira com vinte e oito anos de idade. Sua mãe, dona Maria
Egilda, nem sequer teve a sorte de enterrar o seu filho, pois preferiu seguir a
orientação do advogado da família, Doutor João Café Filho ( futuro presidente
do Brasil), que recomendou para ninguém da família pisar em terras do Estado
vizinho sob pena de ser morta.
A tragédia
continua com o assassinato inesperado e brutal de Aproniano, e a prematura
morte de Abdon, que estuda medicina no Rio de Janeiro. Este, acometido de
tuberculose, veio a falecer nos braços de sua mãe, na fazenda Jacu.
Vida longa
teve o único sobrevivente, Abdias, que veio a falecer recentemente, no dia 28
de julho de 2004, com cento e três anos de idade. Dos três filhos de Chico
Pereira, Raimundo formou-se engenheiro, no Recife; Francisco ordenou-se padre
em Roma e o terceiro, Dagmar, é frade franciscano com nome de Frei Albano.
Chico Pereira
foi um dos homens mais destemido do sertão paraibano, que levado pelas
circunstâncias da época, fez "justiça" com as próprias mãos e
tornou-se cangaceiro.
FONTES DE
PESQUISA:
01- Vingança, Não - Autor: F. Pereira Nobrega (Filho de Chico Pereira);
02- A Vingança de Chico Pereira - Autor: João Dantas
http://lampiaoaceso.blogspot.com/…/vinganca-de-chico-pereir…
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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