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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

MAIS UMA DE zOZIMO lIMA

 Por Antônio Corrêa Sobrinho

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Aos valorosos amigos do Facebook, ADERBAL NOGUEIRA e RAIMUNDO GOMES, cearenses dos quatro costados, um pouco do jornalista e poeta alencarino, FRANCISCO DE PAULA NEI, em crônica de Zozimo Lima, de 1972.

O BOÊMIO PAULA NEI

Por Zozimo Lima

Muito se tem escrito sobre notáveis brasileiros que se impuseram à admiração pública como escritores e artistas plásticos. Entre eles era sobremodo conhecido e idolatrado pelo povo o grande boêmio, tribuno formidável, o cearense Paulo Nei.

Fora ao Rio estudar medicina mas aos poucos fora faltando às aulas para ingressar no grupo de Coelho e Neto, Pardal Malet, José do Patrocínio, Guimarães Passos e outras notabilidades literárias que procuravam guarida na coluna dos jornais.

Fugia de aparecer na imprensa com seu nome, tornando-se apenas repórter dos mais disputados pelas redações e pelos grêmios onde se projetavam rapazes de cultura como Bilac e José Veríssimo. O tribuno e jornalista Zé do Pato era o seu ídolo.

Ao sair dos trabalhos das redações caía nas farras tumultuosas, nas quais tomavam parte sedutoras mulheres de vida fácil. Quando se tratou de fundar a Academia Brasileira de Letras, cujos idealizadores foram Medeiros e Albuquerque e Lúcio de Mendonça, riscaram da lista o nome de Paula Nei, dizem que por insistência de Machado de Assis, que não suportava as fulgurações do talento tribunício do fogoso cearense.

Quando “papai” Basílio de Morais, em 1906, deflorou oito órfãos do “Recolhimento Santa Rita”, do qual era diretor, foram seus terríveis acusadores, no Júri presidido pelo Dr. Ataulfo Nápoles de Paiva, os advogados Lima Drumond, Duque Estrada e Paula Nei.

O promotor Bulhões Pedreira atacou violentamente o réu “papai” Basílio. A imprensa ficou ao lado das vítimas da sensualidade de Basílio de Morais. Fez-lhe a defesa seu filho, já rábula brilhante, depois bacharel, Evaristo de Morais.

Casou-se Paula Nei, cansado da vida de boêmio, com a senhora Julia, que trazia três filhos menores, viúva de Júlio Cesar de Freitas Coutinho. Foi esposa admirável de Paula Nei, que abandonara o foyer das casas de espetáculos, o Pascoal, o Ravolt, a Colombo, o Café Papagaio... Vivia exclusivamente, já enfermo, para a família. Chorou dolorosamente a morte de seu filho de três anos de idade. Teve outros depois.

Certa feita levou a esposa, muito bela, atraente, de rico vestido verde, ao espetáculo. Um galanteador começou a olhá-la fixamente. Paula Nei dirigiu-se ao sujeito e declarou com violência: - “Olhe, meu amigo, esta senhora está vestida de verde... Mas não confunda! Ela não é capim”. Era muito ciumento.

A 24 de novembro de 1917 falecia Paula Ney, pobríssimo, deixando, entre outros, este belíssimo soneto sobre FORTALEZA, sua terra mui querida:

Ao longe, em brancas praias embaladas,

pelas ondas azuis dos verdes mares,

a Fortaleza, a loira desposada

do sol, dormita à sombra dos palmares.

Loira do sol e branca de luares,

como uma hóstia de luz cristalizada.

entre verbenas e jardins pousada

na brancura de místicos altares.

Lá canta em cada ramo um passarinho,

há pipilos de amor em cada ninho,

na solidão dos verdes matagais...

É minha terra! a terra de Iracema,

o decantado e esplêndido poema

de alegria e beleza universais!

Gazeta de Sergipe – 23.09.1972

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