Por João Costa
Maria Dora e Mariano Barbosa da Silva, Azulão, formaram “um casal de primos” que se tornou lendário no cangaço por conta do furor sanguinário da dupla e pelo fim bárbaro e sinistro que teve em outubro de 1933, quando o casal foi abatido pelas volantes do sargento José Fernandes Vieira e Zé Rufino num lugar chamado Lagoa do Lino, município de Monte Alegre(BA).
Ela, uma baiana de Várzea da Ema(BA), atendia pela alcunha de Maria de Azulão, e a imprensa baiana a moça se referiu como “Madame Azulão”, exatamente porque em todas as ações do bandoleiro, Maria Dora estava no palco, e tornou-se difícil narrar a trajetória sanguinária de Azulão, sem que sua Maria não estivesse ao seu lado.
O Diário da Tarde, de Salvador, trouxe como manchete em tom sensacionalista o desfecho da escalada de violência do casal: “Azulão” azulou pr’o inferno com a sua cara metade”.
O corpo da matéria dizia:
“Sabemos que a Chefatura de Polícia da Bahia transmitiu pelo rádio a seguinte informação: Forças baianas, às 15 horas de ontem deram cerco em um grupo de bandidos chefiados pelo bandido Azul]ao, na fazenda do Lima, município de Djalma Dutra, resultando na morte dos seguintes bandidos: Azulão, Canjica, Zabelê e a madame Azulão. Escaparam do cerco os bandidos Arvoredo e Calixto, em cujo rasto continuam as forças volantes. Ficaram feridos dois policiais”.
Mas onde e como começou a saga violenta do “casal de primos” que sacudiu e aterrorizou os sertões da Bahia e de outros estados?
Por volta de 1929 um garoto de 16 anos de nome Mariano Barbosa da Silva passou a viver da espingarda e debaixo do chapéu, após levar uma surra aplicada por uma volante pernambucana pelo fato de ser parente de cangaceiro, no caso Arvoredo.
Pouco tempo depois o rapaz encontrou sua cara metade, uma cabocla de nome Maria Dora, que passou a seguir seus passos, onde quer que o cangaceiro fosse e também participar das ações violentas do pequeno bando formado pelo seu namorado.
“Madame Azulão” foi a quarta mulher a entrar no cangaço, logo depois de Maria Déa(Bonita), Mariquinha e Sérgia Ribeiro(Dadá).
Nos relatos orais sobre o cangaço “Azulão” tem seu nome associado às chacinas que assustaram os sertanejos por conta do toque implacável e sanguinário das ações, a exemplo de um ataque a Floresta, em 1930.
Por ordem de Virgulino Ferreira Lampião, em companhia de 20 cangaceiros, Azulão chefiou a matança e a degola de vários inimigos pessoais de Virgulino.
Em 1932, “Azulão”, sob o comando do cangaceiro Gato II, participou do assassinato de sete pessoas no episódio que ficou conhecido como “Massacre da Fazenda Couro”; no ano seguinte nova chacina é incluída no rosário de crimes da dupla em conluio com outros cangaceiros.
“Madame Azulão” estava ao lado do seu parceiro de crimes na invasão de uma fazenda chamada Morrinho em que o dono da propriedade, o filho e um vaqueiro foram sangrados a golpes de longos punhais; na esteira de terror, a horda de celerados violentou duas meninas num sítio próximo.
Acompanhavam “Azulão” e sua madame nessa chacina os cangaceiros Calais e sua consorte Joana, Arvoredo, Canjica e Zabelê.
Maria Doréa, Maria de Azulão ou Madame Azulão morreu em combate ao lado do companheiro em 1933 num tremendo tiroteio com a volante do sargento José Fernandes, que também tinha viés sanguinário e sinistro.
Sua cabeça, a de Azulão e dos seus comparsas foram cortadas pelos soldados José Ramos da Silva e Benjamim Grande e expostas num espetáculo macabro na calçada da Cadeia Pública de Monte Alegre, atual município de Mairi.
Mas antes, lá na caatinga, longe da civilização, os soldados volantes deram vasão aos seus extintos bestiais.
Madame Azulão, mesmo depois de morta, teve seu corpo sucessivamente e em rodízio, brutalizado sexualmente de todas as formas pelos soldados que foram além da barbárie:
Conta-se que os volantes, tidos como homens da lei, estimularam seus cães a copularem com o corpo de Madame Azulão, uma baiana nascida no sítio Poço das Pedras, em Várzea da Ema e que ao lado do primo Mariano Barbosa, tocou o terror por onde passou.
A lei do retorno pegou Maria e Azulão,
porque a cavalo vem a lei do cão,
morreram como viveram,
é a lei do Sertão
Disseram aqueles que conheciam o “casal de primos” que aterrorizou o Sertão.
Fonte de consulta: Cangaceiros de Lampião de A à Z, de Bismarck Martins.
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