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segunda-feira, 6 de setembro de 2021

AS MORTES DOS CANGACEIROS MORMAÇO, BRONZEADO E CASCA GROSSA.

Por Sérgio Dantas

Mossoró, 12 de março de 1928. A cadeia pública passava por minuciosa revista. Prisioneiro recambiado para a cidade de Apodi deu conta às autoridades de plano de fuga encabeçado pelos cangaceiros Mormaço e Bronzeado. O objetivo da empreitada - segundo o delator - seria o aprisionamento do carcereiro e a tomada das armas depositadas no paiol.

Mormaço

A polícia não titubiou e investigou sumariamente a denúncia. Descobriu sinais de arrombamento em porão localizado no setor norte do presídio. Sem maiores rodeios, responsabilizou os dois cangaceiros por tentativa de fuga e os imobilizou à força de algemas(PIMENTA,1999).

Bronzeado

Na manhã seguinte, decidiu-se pelo encaminhamento dos prisioneiros para a capital. O tenente Laurentino ficou encarregado de facilitar o transporte. Além de Mormaço e Bronzeado, seriam de igual recambiados os criminosos Thomaz dos Santos e Waldemar Ramos, presos comuns, detidos há meses na cidade salineira.

A ordem de transferência para Natal - segundo insinuações surgidas no período subsequente à eclosão do movimento revolucionário de 1930 - partira do Governo do Estado, ainda na véspera.

Fato concreto, imaculado de dúvidas, é que a transferência em discussão foi efetivamente autorizada.

Entre Mossoró e Assú, no sítio Lagoa Serrada, os bandoleiros encontraram a morte. Foram fuzilados.

A terrível chacina, entretanto, presto foi maquiada sabe-se por quem. Espalhou-se, dia seguinte, notícias de que os bandidos forjaram uma briga entre si. Após, renderam um policial e tomaram-lhe o fuzil. Ato contínuo, Mormaço fuzilou os companheiros e se suicidou em seguida.

Outra versão deu conta que os bandidos tentaram fugir e foram alvejados pelos militares(NONATO, 1998).

O laudo oficial apontou vigorosa luta entre os criminosos, resultando a morte de cada um deles(PIMENTA, 1999).

Certo é que, pela manhã cedinho, corpos foram encontrados na beira da estrada.

Não se chegou à época, a ser apresentada a sociedade civil versão verossímil para o caso. Não houve, ao que parece, grande interesse em revelar ao público a covardia praticada contra os ex-celerados de Lampião. Jornal de Mossoró, "O Nordeste", ponderava a desnecessidade de investigação mais apurada. Indiretamente, atribuía pouca relevância ao fato.

Sustentado no ataque dos cangaceiros à cidade em 13 de junho do ano anterior - como justificativa para a execução dos presidiários - o seminário disparava: "Façamos um retrospecto do passado. Meditemos sobre o abalo moral de nossas famílias e sobre algumas funestas consequências sabidas, entre nós; reflitamos sobre os roubos violentos e desalmados, por aí afora, a honestos e laboriosos chefes de família, sempre injuriados fortemente; nas prisões, destes e destas senhoras, conduzidos a trancos e barrancos como reféns; nos desvirginamentos impetuosos e estupros monstruosos a senhoras casadas.

E concluia o artigo, como misericordioso e justo pretor: "O silêncio devia ser a nosso única "palavra" de justiça, ainda que um grande sentimento de piedade protestasse intimamente, contra a execução dos bandidos".(PIMENTA, 1999, p.81).

Pouco depois da execução dos famosos cangaceiros, levantava-se a suspeita de que o bandido Miguel Inácio dos Santos, o "Casca Grossa", também fora fuzilado e sepultado furtivamente, ao final de fevereiro, dias após prestar depoimentos a polícia de Martins.

A cultura da morte sumária disseminava-se franca também pelo Rio Grande do Norte.

Fonte:

DANTAS, Sérgio. Lampião e o Rio Grande do Norte: a história da grande jornada. 2.ed. Cajazeiras: Real, 2014.

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