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domingo, 7 de novembro de 2021

A MORTE DE SABIÁ E A DOENÇA RUIM DO MATADOR

 Por Manoel Belarmino

Aqueles 9 anos de cangaço em Sergipe, quase uma década, mais parecia um século sem fim. O sertão estava em alvoroço. Mortes, tragédias, chacinas, combates, medo, carreiras, atrocidades. Cangaceiros, coiteiros e volantes. Um dos acontecimentos que marcou a história do Cangaço em Sergipe foi a morte do cangaceiro Sabiá e a lenda que nasceu dessa morte.

Sabiá (provavelmente este era o quarto cangaceiro com este nome) era natural de Poço Redondo e filho de Dona Maria Antônia Alves e Zeca Bié. O seu nome civil e de batismo era João Alves dos Santos, conhecido como João Preto. Sabiá, ao entrar no cangaço, logo passou a pertencer ao grupo comandado por Zé Sereno. É naquela segunda visita dos cangaceiros à cidade de Aquidabã, feita pelo grupo de Zé Sereno e que Sabiá estava presente, que acontece a trágica morte do filho de Zé Bié.

Era o mês de outubro de 1936. O grupo de Zé Sereno chega às proximidade de Aquidabã. E um grupo de jovens, já escaldados daquela visita de 1930 feita por Lampião e seus cangaceiros, quando aconteceram diversas malvadezas praticadas pelos cangaceiros aos moradores daquele lugar, resolveram perseguir os cangaceiros que se aproximavam dali. Houve, ali, um tiroteio e o cangaceiro Sabiá foi atingido na cabeça, na malhada da Fazenda Barra Salgada, no município de Canhoba. A bala do jovem Gustavo Guimarães atingiu o cangaceiro Sabiá. Era a vingança dos homens de Aquidabã contra Lampião que, quando em 1930 esteve ali, arrasou aquela povoação. Os cangaceiros, imaginando que fosse uma perseguição da volante, fugiram.

Manoel Severo, João de Sousa Lima e Manoel Belarmino

Sabiá ainda não estava morto. Horas depois, os jovens de Aquidabã retornaram à sede da fazenda Barra Salgada e vêem o cangaceiro baleado, mas ainda vivo, agonizando. O mesmo Gustavo que desferiu o tiro certeiro que atingiu a cabeça do cangaceiro, escarra e cospe na boca do já quase morto Sabiá. O cangaceiro já quase morto, em seguida, é arrastado por um caminhão até Aquidabã onde é exibido como troféu e como vingança às atrocidades feitas naquele lugar quando Lampião ali esteve.

Aquele ato impensado e cruel de Gustavo gerou uma lenda. E o próprio Gustavo afirmava que o fato realmente aconteceu, dando conta que naquele momento que cuspiu na boca do quase morto cangaceiro Sabiá, sentiu o seu corpo coçar, surgindo borbulhas estranhas e mal cheirosas. Apareceu, dias depois, uma doença ruim que tomou conta do seu corpo, desconfigurando-o completamente. Nem médico e nem reza forte dos mais renomados rezadores de Aquidabã e Canhoba deu jeito.

Segundo alguns pesquisadores, o próprio Gustavo Guimarães dizia que aquela doença ruim invadiu o seu corpo naquele momento infeliz do seu cuspe na boca do cangaceiro Sabiá.

Sabiá morreu ali nas terras de Canhoba e Aquidabã, depois de ser ferido de bala de fuzil, cuspido, pisado e arrastado, e, logo depois, Gustavo, o matador do cangaceiro Sabiá, morreu de uma doença ruim que invadiu o seu corpo.

Manoel Belarmino, pesquisador, poeta e escritor

Conselheiro Cariri Cangaço

Poço Redondo, SE

https://cariricangaco.blogspot.com/2020/11/a-morte-de-sabia-e-doenca-ruim-do.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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