Por Passeador Carioca
Verdadeira relíquia em estado praticamente bruto, a Igreja de Bom Jesus da Coluna é um tesouro meio escondido do Rio de Janeiro, A começar, por sua localização: fica numa pontinha da Ilha do Fundão, em área pertencente ao Exército brasileiro – aliás, constitui-se no único Santuário Militar do Brasil. Ela começou a ser erguida em 1705, quando a então Ilha de Bom Jesus (conectada ao Fundão por um aterro, nos anos 1950) foi doada aos frades franciscanos, que aqui viviam desde 1699, por Inês de Andrade de Araújo, viúva do capitão Francisco Telles de Menezes. Eles eram membros de uma das famílias mais tradicionais do Brasil-Colônia e cujo nome é ligado, por exemplo, a outras preciosidades cariocas, como a Fazenda da Taquara e o Arco do Telles. Não pairam dúvidas sobre a data da construção, já que a mesma aparece gravada na portada do corredor claustral que levava ao antigo convento anexo, demolido tempos depois.
Concluído em 1710, o templo permite um vislumbre de detalhes da arquitetura religiosa colonial brasileira. Quase tudo na fachada é original, como as três portas em arco que formam um galilé, espécie de alpendre avarandado que só mais duas igrejas no Rio, a da Lapa dos Mercadores e a do Mosteiro de São Bento, possuem. O frontão triangular, típico da época, é ladeado pela torre sineira que domina a paisagem que se vê da Ponte Rio-Niterói. Cercada pelas águas da Baía de Guanabara, a igreja era frequentada, apenas, por moradores da região, em sua maioria pescadores e agricultores.
Tudo começou a mudar com a chegada da Corte portuguesa, em 1808. A Família Real, bastante devota de São Francisco, costumava assistir missas aqui, tornando o lugar badalado. D.João VI mandou fazer uma festança na ilha, em 1819, para celebrar o nascimento da primeira neta, Maria da Glória, filha dos príncipes Pedro e Leopoldina. Mais tarde, ela se tornaria D.Maria II, rainha de Portugal entre 1834 e 1853. Sua sobrinha, a princesa Isabel, era outra integrante da Casa de Bragança que adorava vir rezar aqui. Ela até solicitou a construção de um ancoradouro para sua galeota, que ainda pode ser visitado e leva o nome da Redentora.
Como toda igreja antiga, a de Bom Jesus da Coluna também tem lá seus mistérios. Os sete degraus da entrada, por exemplo, fariam referência aos sacramentos da Igreja Católica. Já os mais supersticiosos fazem menção às nove noviças que aqui morreram em meados do século 19, quando a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração da Maria cuidava do local. Vítimas da febre amarela, seus cânticos angelicais seriam ouvidos, vez por outra, do alto da torre – fenômeno que os mais céticos atribuem ao som da contínua brisa marinha. No corredor central, vê-se a lápide de alguns membros da família Telles de Menezes, cujos restos mortais se encontram no subsolo do templo. Da cripta, uma passagem subterrânea secreta dava na parte de trás da ilha. Naqueles anos bravios, quando o Rio foi invadido duas vezes por corsários franceses, os frades, que não eram bobos nem nada, trataram de criar um jeito de poder escapulir daqui sem serem notados, se o bicho pegasse.
Texto e foto do Passeador Carioca.
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