Do acervo de Rubens Antônio
O RASTRO DE LAMPEÃO
Um depoimento vivo e palpitante do guia do terrível faccinora
As ameaças do bandido
FORTALEZA, 2 (Impacial) – Pelo Correio – A passagem de Lampeão pelo territorio
cearense constitue algo de interessante e, ao mesmo tempo, impressionante. A
respeito, publicou o jornal “O Ceará” uma carta do sr. José Gonçalves da Silva,
que serviu de guia do terrivel faccinora, e que encarra algumas novidades.
Damos a seguir o depoimento vivo e palpitante:
“Lampeão chegou á minha casa por volta das duas horas da tarde, muito vexado,
para continuar a viagem dizendo que ia descansar em Pernambuco, pois desde que
saiu de Parahyba, pois desde que saiu de Mossoró, em virtude de não conhecer o
terreno, não havia descansado.
Disse que nunca viu força tão atrevida.
Ia muito sujo e tinha companheiros que havia um mez que não mudavam a roupa, a
qual era de kaki novo, mas toda rasgada de pontas de páos.
Sobre o fogo do logar “Felicidade”, disse:
“Brigamos um bucadim, quatro horas mais ou menos, vendo a hora de me vê pegado.
Mas felizmente tinha um lado tomado pela força da Parahyba, que tomado pela
força de Pernambuco, que muito bem conheço a dispuzição della.
“Arroxei séro e fugi facilmente, todo caipóra argum dus mininos
Sobre o combate de Missão Velha, disse:
“Neste fogo num dei um só tiro.
“Izaia fez a boa com nós.
“Mandou nós pra uma manga aonde demoramos oito dia, e no fim deste tempo elle
mandou deixá a cumida como de custume. Mas, desta feita, uma mosca assentou na
nossa ureia e os mininos arretiraram uns buracos e disseram! Os cumida travoza
dus diabos!
“Eu mandei que elles deixassem a cumida, que a cuspissem e dei a cada uma uma
canéca de garapa de rapadura, elles nada tiveram.
“Eu tinha cumbinado cum Izaia prá quando eu uvisse um tiro ir recebê a munição
qui elle mi premetera.
“Dei o tiro e ante de ir mandei um dos mininos assubi num pau e vê o que havia.
“O rapaz assubiu e adispois mi disse: Seu capitão tão é tocando fogo é noc
ercado.
“Mandei, então, que todos se apreparasse prá sahi, ainda tinha um lado du
cercado ainda verde mas era um cipual medanho qui nos deu trabaião pá rompê.
“Antão me puz de parte e elles começaro a atirá e a gritá:
“Viva meu padim Cirço.
“Ah diabos! Antão, meu padim nus havia de mandá nos atacá, quando eu não faço
nada cum o Ceará?!
“Izaia não soube nem envenená a cumida, purque botou veneno de mais que deu prá
nós conhecê.
“Mais este Izaia me paga, inté as pédras se encontram.
“Nós vae aqui cuma uns mizeraves, mas um dia eu dou um conhecimento nesta
gente.
Perguntado porque não deixava a vida de bandoleiro, respondeu:
“Quá! Não é pussive, não. Sou muito conhecido em toda a parte e não tenho aonde
me escondê.
“Voiu vivendo assum inté quando Deus fôr servido.
Quando “Lampeão” com seu grupo passou para o territorio pernmbucano disse:
“Mininos, agóra, podem vadiá qui isnamos pizando no qui é nosso”.
Começaram a cantar o “Côco” e a “Mulher rendeira”.
Havia no local muita pedra. Então, Lampeão disse o seguinte: “Si tudo isso
fosse bala eu matava era soldado cuma avoante na bebida”.
Deu a entender que nada tinha feito no Ceará, mas por causa de Izaias se via
obrigado a fazer, e era logo.
“Lampeão” trazia quatro rifles e dois fuzis de sobrecellencia.
Alguém, por ultimo, lhe dissera:
Realmente, capitão, o senhor tem comido é fogo!
Ao que elle respondeu:”Eu nunca mi vi tão apertado cuma agora no Ceará”
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